Surpresa?

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Parte 2

Respiro fundo e atravesso o portão da escola, caminho de forma lenta pelo corredor como se quisesse me atrasar de propósito e não poder assistir a aula. Rezei bastante e pedi a Deus que encontrasse o Davi. Parece ter tido efeito, abri a porta da sala e ele não estava na sala de aula. Faltou.

Meus pais vieram na escola ontem à tarde falar com a diretora por eu ter sido suspenso ontem da aula da Louise. Felizmente entenderam o meu caso e não me puniram. Fiquei a tarde inteira desperdiçando o meu tempo em joguinhos viciantes que instalei outro dia no meu celular. Eu achava incrível o fato dos jogos serem tão viciantes aponto de fazer o cérebro de acostumar com eles em um período curto de tempo.

Eu não sou uma pessoa de muitos amigos, por tanto, fiquei o dia inteiro calado enquanto as aulas chatas iam passando. Admito que não foi sempre assim, talvez tenha ficado pelo fato de eu estar próximo de sair, ou o assunto da última unidade de todas as matérias sejam chatos.

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Chego em casa um pouco cansado, mas eu não podia me dar ao luxo de quebrar a rotina de correr quando chegasse cedo da escola. Fui tomar um banho, coisa que eu sempre faço antes de me exercita mesmo sabendo que vou ficar suado e fedendo depois.

Eu não tinha tanto tempo livre para ficar lamentando o fato do Davi não me amar da forma que eu esperava, e muito menos ficar choramingando pelos quantos algo que eu não vivi. Às vezes eu me achava maduro demais para a minha idade, eu simplesmente estava tentando ignorar quase todos os gatinhos que me remetessem a ele. E quando o visse pessoalmente, será que eu conseguiria me manter tão firme?

A água estava gelada, mas agradável. Passei um sabonete breve pelo corpo para remover todo o suor acumulado e me enxuguei. Vesti a roupa e sai do banheiro enxugando o cabelo com a toalha, o que não adiantou muito e eu tive que recorrer ao secador de cabelo.

Estava em frente ao espelho ajeitando as sobrancelhas quando a porta do quarto abriu. Franzi a testa e por alguns segundos meu coração pareceu que ia parar de bater, pois eu pensei que era o Davi, mas não era.

— Olha só, você está aqui.

— Não. — Falei fingindo ser grosso. — Sou a merda de uma miragem.

— Uau, sempre ácido. — Ele se jogou na minha cama cruzando as mãos atrás da cabeça. — Fala aí priminho, o que tem de bom pra fazer hoje?

— Oh, oh, oh, chispa da minha cama. Você está limpo? Caralho, Artur, sai da minha cama. — Falei indo até ele e puxando pelos seus braços para que ele saísse.

— Claro, primo, eu ando sempre cheiroso. Eu sei do que as meninas gostam. E não só elas, eu sei que você também tem uma quedinha por homens cheirosos. — Ele puxou minha cabeça tão forte que eu achei que ele fosse arrancar. Ele estava mesmo cheiroso, mas o perfume era tão doce que me deu vontade de vomitar.

— Caramba, que perfume vagabundo. — Ele me empurrou pra longe revirando os olhos.

— Você não sabe o que é bom gosto. Nem perfume você usa, vagabundo.

— Claro, eu tenho meu próprio cheiro natural e não preciso passar essas coisas que você chama de bom gosto em meu corpo.

— Rá. Rá. Rá. Engraçadinho é você. — Ele se senta na cama e calça o tênis.

— Se você tivesse se deitado com isso na minha cama, eu tiraria você em um caixão daqui.

— Fresco demais. Meu pai, quem aguenta. — Ele joga o travesseiro em mim, mas eu desvio.

— Artur! — Ele se levanta rápido, dá um peteleco na minha orelha e sai correndo do meu quarto. Calço o tênis e vou atrás dele.

Ele já estava me esperando do lado de fora na calçada da minha casa.

: - : - : - : -

Me sentei no banco do parque e joguei a cabeça subitamente para trás sentindo a brisa do vento em meu rosto e cabelo, o que refrescou bastante. Meu primo ainda corria, mas eu já tinha cansado na quinta volta. Como a corrida tinha sido boa para me aliviar do estresse de ontem e hoje.

— Está quente hoje, né? — Perguntaram. Olhei de lado trincando um dente no outro. E eu não sei porque fiz isso, talvez porque o garoto tivesse atrapalhado a conexão boa que eu estava tendo com o vento e estava me sentindo totalmente relaxado.

— É. — Ele percebeu que eu não estava muito disposto a puxar papo. Eu odeio deixar as coisas tão explicitas.

— Desculpa, eu te atrapalhei?

"Não é óbvio? ". Penso.

— Sim e não. — Balancei a cabeça de um lado para o outro.

— Prazer, Rodolfo. — Ele estendeu sua mão em minha direção e eu me apressei para corresponder. De alguma forma eu senti a necessidade de tirar a primeira má impressão que eu tinha deixado.

Seu aperto era firme e áspero, a sua mão tinha alguns calos que arranhou um pouco a palma da minha. Ele sorriu meio desconfortável, pois eu retribuir a força, talvez um pouco mais forte.

— Prazer, Ian. — O sorriso dele era bonito.

— Bonito. — Ele ficou um pouco sem graça por eu ter ficado encarando ele. — O nome. — Ele estregou as mãos na bermuda e ficou encarando o chão.

— Você vem sempre aqui?

— Quase todo dia eu estou por aqui correndo. — E não estava mentindo, suas pernas eram mais grossas que a de uma pessoa magra comum. O volume na bermuda também.

— Hm... — Comecei a olhar para o chão quando ele percebeu o que eu estava encarando, mas não me pereceu se importar muito e continuou na mesma posição com as pernas estiradas.

— Fraco demais você primo. — Falou Artur parando na minha frente todo suado e ofegante com as mãos no joelho recuperando o folego aos poucos.

— Claro querido, você é acostumado a fazer isso todo dia. Eu só faço quando saio cedo da escola.

— Deveria, assim você não se casaria rápido demais e não perderia metade da sua vida viciado em redes sociais e joguinhos mobile.

— Não critica o meu Free Fire, marginal.

— E aí Rolf. — Ele cumprimentou o Rodolfo estirando a mão, que levantou do banco e fez um gesto estranho de bater um ombro dele no ombro do Artur. Essa sem dúvidas foi a cena mais vergonha que eu já vi em toda a minha vida. — Dando em cima do meu priminho, rapaz?

— O quê? — Ele ficou extremamente vermelho e sem graça. — Eu só estava conversando, e eu mal sabia que ele era o seu primo. — Falou como se esquecesse cada palavra que encaixaria depois pra completar a frase. Ele realmente tinha ficado nervoso.

— Vou contar pra sua namorada, seu safado.

— Nem namorar mais eu namoro.

— Uau, então o caçador está livre na pista novamente. Cuidado com ele — Ele me olhou e apontou o dedo para o Rodolfo. — Bissexual e atrevido, curte capturar novinhos indefesos para dar o bote com à anaconda.

— Artur, seu filho da p...

— Mas eu confesso que se eu fosse gay, eu pegava.

— E quem disse que eu te pegaria?

— Ah, fala sério que você dispensaria toda essa delícia aqui. — Ele flexionou o bíceps direito e levantou a camisa mostrando o seu abdômen trincado.

"Meu Deus, como ele ficou tão gostoso? ".

— Meu Deus. — Lamentou Rodolfo. — Você é muito fútil, Artur. — Falou rindo. Artur deu um tapa leve em seu ombro e o empurrou para o lado.

— Fresco. — Ele levantou o dedo do meio para o Rodolfo, que tentou capturar com a mão em vão, o Artur parou com certa facilidade a mão do Rodolfo no ar. — Rá, lento demais. — Rodolfo respirou fundo, talvez tenha ficado frustrado. — Vamos, primo?

— Foi um prazer te conhecer, Ian. — Ele estirou a mão para que eu o cumprimentasse.

— Oh, oh, toma cuidado primo, ele não costuma ser legal assim. Ele só está tentando te conquistar, fazer você cair na lábia dele para então acionar o...

— Artur, cala a boca. — Falei estirando a mão para o Rodolfo, que coçou a palma da minha mão com o dedo do meio. O que aquilo significava, eu sabia. Eu só não sabia o motivo de eu estar me sentindo tão atraído sexualmente por ele, sendo que eu gostava de outro.

Trocamos os nossos números e ele ficou de me ligar assim que chegasse em casa. O Artur o encarava de forma engraçada, muito desconfiado das segundas intenções que o Rodolfo tinha.

— Qual foi, Artur, está apaixonado por mim?

— Sai fora, mané. — Ele deu um tapa de leve na cabeça do Rodolfo que revidou da mesma forma.

— A mané, vem cá. — Disse Rodolfo correndo atrás de Artur que corria em direção as árvores.

Me sentei novamente no banco e fiquei assistindo os dois idiotas correndo um atrás do outro como se fossem duas crianças brincando na caixa de areia.

Permissão para beijar Where stories live. Discover now