Capítulo 2

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Kananda Brito de Albuquerque

Eu só queria chegar ao meu trabalho em paz depois de mais uma discussão no café da manhã com minha irmã. Desde que nossos pais faleceram, Amanda e eu não conseguimos manter uma relação saudável; na verdade nunca tivemos, ela sempre foi rebelde e culpava a mim por suas loucuras.

Eu sou apenas um ano mais velha do que ela, tenho vinte e oito anos e ela vinte e sete. Nossos pais eram donos de uma farmácia, e desde que morreram em um acidente de carro há um ano, eu assumi a administração. Desde a adolescência já gostava de acompanhar meus pais, então para mim foi fácil assumir os negócios da família. Embora a saudade deles estivesse presente a todo momento, para onde quer que eu olhasse, guardava boas lembranças.

Se Amanda já dava dor de cabeça antes, agora que nossos pais não estão mais aqui para pegar no seu pé, "a coisa" vai de mal a pior. Ela não quer saber de trabalhar, quer que eu a sustente - com luxos diga-se de passagem - e acha que a farmácia nos rende mais do que eu repasso para ela. Embora seja injusto por ela não me ajudar em nada, divido os lucros igualmente para nós duas, e ainda assim ela nunca está satisfeita. Foi por causa de dinheiro que tivemos mais uma briga essa manhã.

Quando senti o impacto da batida frontal em meu carro, não podia sequer imaginar o que estava acontecendo, ser feita de refém em uma fuga foi a coisa mais terrível que já passei na minha vida; são minutos que parecem intermináveis horas, a sensação de impotência, a tentativa desesperada de manter a calma e o medo latente dentro de mim são sensações que jamais esquecerei.

A cada vez que o bandido apertava a arma na minha cabeça, eu pensava que seria o meu último minuto de vida, minha mente trabalhava a todo instante para manter a calma, mas os meus olhos pareciam querer transbordar. Em meio a toda tempestade que acontecia a minha volta, consegui encontrar segurança e, de certa forma, calma, nos olhos do policial que comandava a operação e tentava me libertar; todas as vezes que nossos olhares se cruzavam, eu conseguia extrair um pouco de coragem. Eu sabia que ele faria o possível para me libertar e confiava nisso.

Mas, infelizmente, o bandido estava muito nervoso e a situação que aparentemente estava controlada, em uma fração de segundos, saiu totalmente dos "trilhos": o que me fazia de escudo resolveu atirar no comparsa que queria se render e, nos segundos que sucederam o primeiro tiro, que para mim pareceram durar horas, senti um impacto na coxa direita que me levou ao chão; o bandido que me segurava caiu também, não sabia se tinha sido atingido ou se ainda queria se esconder atrás de mim até que senti o policial se abaixar próximo a mim.

— Senhorita, sou o delegado Eros Moraes Neto, você foi atingida na perna, já chamamos a ambulância, vai ficar tudo bem. Pode me dizer o seu nome? — perguntou.

— Ka... Kananda. — Respondi, as lágrimas caindo involuntariamente.

— Tem algum familiar para entrarmos em contato? Você será removida e precisará de acompanhante no hospital. — Informou

— Minha irmã, Amanda, o telefone dela é 96358-5684. — Ainda estava em choque, mas consegui responder.

— Está com seus documentos? — Os olhos intensos dele me transmitiam paz, na mesma medida que me perturbavam.

— No carro, na minha bolsa. — Senti sua mão tocar levemente a minha.

— Vou pegar — informou.

— Por favor, não me deixe aqui sozinha. — A adrenalina da situação estava diminuindo e o pânico, a sensação de que tudo poderia acontecer novamente, se apossavam de mim.

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