day 2- a few words

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Depois de saírmos da pista de pouso em Milão, Tony dirigia com os olhos focados e atentos na estrada mas sempre olhando de relance para o loiro ao seu lado, que tentava desenhar a qualquer custo. Steve se encontrava uma bagunça. Seus fios loiros uma vez impecáveis e macios agora se encontravam bagunçados e opacos, como seu olhar. O tom azul de seus olhos agora dava a impressão de ir para um azul mais acinzentado, representando seu estado emocional. Como se já não bastasse, olheiras imensas pousam na pele debaixo dos olhos agora quase cinzas, deixando evidente a falta de boas noites de sono, além do fato de estar quase 30 graus celsius e o mesmo estar usando um moletom preto grosso, com calças da mesma cor. Tony não entendia mas também não queria, ou pelo menos fingia não se importar.
Mesmo depois de 2 anos, quando o moreno viu Steve caminhando na direção do carro sentiu o mundo parar por alguns segundos, deixando apenas ele e o loiro para trás. E Tony sabia que não devia, sabia que deveria ter apenas dirigido o mais rápido que conseguia para o mais longe possível, dando desculpa de ter usado sua personalidade excêntrica e arrogante, misturadas com a raiva e o calor do momento. Sabia também que o loiro já foi e seria novamente sua ruína, mas lá estava ele, observando os passos incertos e ansiosos do capitão enquanto sentia seu estômago se encher de borboletas e todos os sentimentos o atingirem como um soco de camurça, sem nenhuma gentileza.
Tony agora já passava por Monza, cidade 12km de milão. Itália era sua paixão e realmente gostaria de aproveitar seus mais-ou-menos 11 dias de férias em três anos, mas com Steve ali tudo ficara estranho, certamente incerto já que não sabia de como o loiro iria reagir diante certas coisas, ou como ele estava agora. Não que ele se importasse, claro. Já chegando em Novara, o moreno estaciona o carro em frente à uma pousada simples perto da entrada da cidade, e depois desce do carro sentindo o olhar de um loiro confuso queimando em suas costas. Caminha em direção a porta já sorrindo, vendo uma loira atrás do balcão.

- Dove posso aiutarti? un- Tony? - A loira detrás do balcão se levanta de supetão e coloca as mãos na boca, saindo correndo na direção do amigo. Tony sorri finalmente escutando as palavras cantadas saírem de sua boca, tendo a confirmação de que realmente estava na itália.

- Come stai, ragazza? - Quase cai com o impacto dos braços de Nina em seu corpo. Passa os braços ao redor de sua cintura e logo em seguida sente um beijo em sua testa, corando levemente ao se lembrar da presença de um certo loiro observando os dois com os olhos semicerrados, tentando entender alguma coisa.

- Perché non sei venuto prima? Ti capita di non avere un cellulare? Ti ho chiamato così tante volte che ho perso il conto! Ero preoccupato - Tony se desvencilha do abraço da garota e revira os olhos, mas sorri com a preocupação.

- Sai che ti amo, ma ora ho davvero bisogno di mangiare qualcosa e dormire un po'. Puoi darmi due chiavi? Se non l'avete notato, ho compagnia - A loira percebe com o meneio da cabeça de Tony para quem ele se referia, e sentiu o sangue ferver em suas veias. Teve que se segurar muito para não ir falar algumas verdades na cara de Steve, mas sabia que aquilo iria apenas deixar seu moreno mais desconfortável e inseguro. A garota respira fundo e se vira na direção do balcão para pegar as chaves, ficando surpresa ao achar apenas a chave de mais um dos 15 quartos da pousada, sendo aquela chave para abrir o maior deles.

- Mi resta solo una stanza, ti dispiace?

Steve olha para os olhos cor-de-café do moreno e o mesmo imita a ação, olhando nas profundezas daquele azul. A recepção entra em puro silêncio. Castanho no Azul. O moreno quebra o contato visual e olha ao redor inseguro e desconfortável, mas pelo cansaço apenas acaba concordando e indo pegar as chaves. O loiro entendeu apenas algumas coisas bem simples vindas da época de quando vinha a combater a Hydra em países vizinhos, mas não era necessário ser um fluente em italiano para saber o que ia acontecer. Tony quer dormir no mesmo quarto que eu? Pensou o loiro sozinho, mas voltou do transe ao escutar os passos do outro indo em direção às escadas com sua bolsa esportiva de roupas no ombro.
Segue Tony pelas escadas em um silêncio total e ensurdecedor, o cheiro de comida fresca e manjericão se espalhava no ar com a lua alta no céu. Chegam no quarto e adentram o grande ambiente branco e limpo, com uma pequena sala, uma cozinha integrada e uma cama de casal imensa, provavelmente a maior que Steve já havia visto. O banheiro também não perdia na disputa, tendo duas pias em uma bancada de mármore gigantesca, e ao lado uma banheira com uma grande janela em sua frente.

- Hm, Tony? Sobre a cama, eu posso dormir no chão se for te deixar menos desconfortável. - o loiro coça sua nuca sem graça, parando de costas para a porta e mal adentrando o quarto.

- Não precisa, a cama é grande o bastante para nós dois. Vou tomar um banho e descer pra comer alguma coisa, o Senhor América vai junto? - Em nenhum momento o olhar de Tony encontra o de Steve novamente, focando apenas em revirar a bolsa e pegar qualquer peça de roupa caminhando até o banheiro e então fechando a porta antes do loiro falar alguma coisa.

               Tony sai do banheiro com uma toalha em volta de sua cintura, deixando seu peitoral definido e sua v-line escancarados para os olhos famintos de Steve. O mesmo arqueia as sobrancelhas mas percebe o calor em suas bochechas quando vê o loiro observando, mordendo seu lábio. O moreno finge ignorar e vai até sua mochila, pegando uma camiseta branca comum e uma calça moletom cinza, fazendo um combo com os cabelos molhados. Depois de saírem do quarto, desceram até a sala de jantar da pousada encontrando poucas pessoas. Steve apenas segue Tony até uma das mesas mais no canto. Não  se passa nem dois minutos quando uma jovem garota vem no encontro dos dois heróis, sorrindo simpática.

                     - Buona notte! Qual è la richiesta? - Steve olha para a garota com os olhos semicerrados, como se pudesse traduzir o que ela tinha falado de alguma maneira. Tony morde os lábios para conter um riso e pega o cardápio, folheando as páginas.

                  - Ravioli Limone ai due, per favore- Depois da jovem se afastar, um silêncio se instala na mesa. Claro, Tony permanecia imóvel em sua cadeira movimentando seus olhares para qualquer canto do salão menos os do Capitão, enquanto o mesmo observava o moreno com um pequeno sorriso, simplesmente amando como as palavras agora cantadas saiam de sua boca.

                  - Hm, sabe, costumava vir aqui com a minha mãe quando vínhamos visitar meus avós. Todas as massas são feitas aqui mesmo, e os tomates colhidos num pomar perto de Veneza. - Steve olha meio confuso sobre o que deveria responder, coçando seus dedos de nervosismo.

                 - Me acostumei a vir a itália por conta da guerra, mas nunca tive chance de olhar nada que não fossem bombas. - Tony dá de ombros com o comentário de Steven e começa a olhar o ambiente, evitando, com certeza, o olhar azul.

                A comida chega e os dois comem sem pestanejar, trocando algumas encaradas durante o processo. Steve olhava o moreno em sua frente e sentia as memórias voltarem gradualmente, como se alguém as estivesse colocando uma de cada vez no cérebro do soldado. Os beijos, as carícias, as palavras, as promessas. E o loiro jogou tudo pelos ares atrás de seu melhor amigo, e se arrependia amargamente por ter feito o que fez, ficando chorando em Wakanda durante quase todas as noites. Os dois sobem até o quarto novamente, dessa vez se trocando para deitar. Tony fica com a mesma roupa, enquanto Steve tirava sua camiseta já que nunca dormia com ela. Os dois se deitam e viram de costas, assustados demais com a ação do outro caso se encontrassem a tão poucos centímetros de seus lábios. À noite foi tranquila e os dois apenas finalmente dormiram bem, tendo a companhia um do outro.

              

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