Miosótis, JM

04. Nossos corações feitos de pétalas de Miosótis

Julho, 2003

"Bem ali, parece que formam uma escada."

Olhei na direção que Jimin apontava e vi um conjunto de estrelas que realmente lembrava o formato de degraus.

Quando ele riu de algo que me contava, meu corpo balançou junto do dele por conta da sua risada. Me aconcheguei um pouco mais próxima dele, encostando minha bochecha no seu ombro.

Ainda que já tenha se repetido inúmeras vezes, em outras muitas madrugadas, ainda consigo sentir o conforto e a calmaria de me deitar sob o céu com Jimin ao meu lado e um silêncio que nunca foi constrangedor entre nós dois.

O céu estrelado parecia pulsar sobre nós.

Pontos mais fracos, outros mais fortes, em um momento um conjunto de estrelas parecia formar um desenho, mas logo depois ele desaparecia, como se elas tivessem se desalinhado. Ali, longe da iluminação artificial tão presente dentro da cidade, o brilho das estrelas conseguia ganhar mais força, quase como se elas estivessem se aproximando mais e mais da terra e a qualquer momento iriam começar a cair como uma chuva brilhante.

O céu estava sem nenhuma nuvem, o que não lembrava em nada a tarde chuvosa que havia passado, mas como um lembrete, o descampado ainda estava com cheiro de terra molhada e quando saí do carro, consegui sentir a umidade da grama alta quando ela resvalou sobre o meu tornozelo.

Deitados sobre o capô do carro, a superfície já não se encontrava tão fria, o vento manso e silencioso se embrenhava em cada curva que encontrava pela frente e fazia com que cada fio do meu cabelo e do de Jimin dançasse sobre nossos rostos que estavam voltados para o céu fulgente.

"Quando fico observando assim o céu, fico pensando quantas outras pessoas mais também estão fazendo isso, e também me dou conta de que em alguns lugares as estrelas nem estão aparecendo."

Falei baixinho, com o tom de voz que Jimin e eu havíamos tomado como nosso para falar de coisas nossas, de pensamentos e aleatoriedades que talvez só passassem como esquisitices para as outras pessoas.

"Nesses momentos eu sempre me dou conta do como somos pequenininhos perto de tudo que tem no mundo."

Jimin fazia círculos na minha mão com seu polegar, e quando ele começou a fazê-los de forma mais lenta, sabia que ele pensava em algo para dizer, mesmo que não fosse necessário.

"É meio assustador pensar nisso."

Apenas balancei a cabeça, concordando com o que ele havia dito.

É assustador pensar proporcionalmente no seu eu perdido nesse mundo tão grande, tão cheio de outras pessoas, outras culturas, outros pensamentos, outras tradições. Tantas línguas, tantos lugares, tantos espaços conhecidos e muitos outros desconhecidos. Pensar tanto sobre tudo isso pode até tornar algumas situações muito efêmeras.

"Você já pensou como as coisas vão ser no futuro?"

Suspirei baixinho ao ouvir a pergunta de Jimin. Eu já tentava imaginar como seria minha vida no período da faculdade, mas não havia ido muito além disso, muitas vezes por insegurança.

"Quando você fala desse futuro, você quer dizer depois da faculdade?"

Virei meu rosto na direção do dele e o vi afirmar com um balançar de cabeça.

Sentei remexendo um pouco meu cabelo e o prendendo por causa do vento frio que passava. Me encolhi um pouco mais dentro do casaco. Jimin sentou, mudando a direção da lanterna que estávamos usando para não ficar na direção dos nossos rostos, mordi meu lábio inferior quando voltei a olhar para ele.