Um calafrio correu por mim enquanto a sensação agoniante do meu corpo ser esticado, torcido e esmagado passava. Senti um impacto muito forte contra minhas costas, a dor mais uma vez me afligiu apesar de ser claramente terreno arenoso, doeu como se fosse concreto. Meu corpo não queria se mexer, eu fiquei absolutamente exausto apenas com essa viagem pela Byfrost, parecia que minha energia tinha sido sugada de mim e demorou uns bons minutos pra que eu pudesse sequer abrir meus olhos. Olhando ao redor, apenas com os olhos ainda, me vi em um local de quase absoluta escuridão, somente pequenos pontos brancos se faziam presentes naquele lugar, me dando a sensação de que estava no meio do céu noturno. Minhas forças voltavam aos poucos até que finalmente consegui me sentar, tonto e com a sensação da cabeça girando, vomitaria a qualquer momento daquele jeito. O silêncio era pavoroso, mas eu não tinha energia pra me levantar ainda. Pelo menos não estive sozinho por muito tempo.
Ygra – Finalmente acordou. – O pouco de energia que tinha foi embora com o susto, eu dei um pulo e cai no chão de novo.
Marcos – Ai ai! Por que chegar de fininho?!
Ygra – Provavelmente se assustaria de qualquer jeito. – Eu tomei alguns segundos para recobrar o ar.
Marcos – Onde estamos?
Ygra – Na sua mente. Ou melhor, em um cantinho que eu criei dentro dela.
Marcos – Tá, acho que já sabe o que vou perguntar então.
Ygra – Eu só precisava falar com você a sós, e como não dá pra falar dentro da Byfrost, te coloquei em sono profundo para conversarmos.
Marcos – O que quer falar? – Ela se sentou na minha frente e começou então a explicar.
Ygra – Vamos por partes. Primeiro, onde você está. Estamos em um universo alternativo do seu, aqui quase tudo é igual, os detalhes que mudam são muito pequenos, ou seja todas as pessoas que você conhece no seu mundo estão aqui, mas nenhuma delas te conhece. Não se esqueça, você tem que esconder seus laços pelo menos enquanto estiver aqui, terá que “conhece-los” de novo tudo do zero.
Marcos – E quanto ao meu universo? Não vão notar minha ausência?
Ygra – Eu criei um clone idêntico a você, ele vai estar lá cuidando disso e armazenando memórias pra você quando voltar. Assim vai ser como se nunca tivesse saído. – Ela fez um sorriso doce como se não tivesse nada de errado com isso. Eu apenas suspirei em resposta.
Marcos – O que mais?
Ygra – Segundo, a alma dos meus irmãos foram trazidas pra cá, mas elas ainda estão muito fracas pra que sejam realmente úteis à criatura, eles precisam se alimentar. Cada um deles se revigora de um dom de vocês humanos, um traço bom que vocês carregam dentro de seus corações. Porém aquele monstro consegue corromper eles, fazendo com que percam o controle sobre si próprios, gerando e se alimentando de energias e emoções negativas. Isso é perigoso e tem a possibilidade de corromper os habitantes da cidade, e isso pode acelerar ainda mais o processo de corrupção dos meus irmãos, além de talvez ter efeitos irreversíveis nas pessoas. – Eu não consegui falar nada, entrei em choque. Apenas a ideia de arriscar todo mundo assim me deixou morrendo de medo. – O único jeito de conseguir impedir isso é enfrentando meus irmãos e derrotando eles, assim você consegue purificar as almas e trazer eles de volta ao normal usando a minha espada. – Eu não sabia o que fazer, poxa eu sou só um fazendeiro, mas ela parece estar tão confiante sobre isso que deve ter uma boa razão ou um plano.
Marcos – Então o que eu faço? Eles são deuses, e eu nem sequer sei lutar.
Ygra – Tem razão, você não sabe, seu corpo não foi treinado pra isso, mas vocês humanos têm um pensamento muito rápido, muito mesmo, que infelizmente seu corpo é incapaz de acompanhar, por isso estou te dando a minha benção – Com outro sorriso ela toca na lâmina da Espada Galáctica, emanando uma energia roxa forte, que logo em seguida some parecendo que nada aconteceu ou mudou. – A imaginação é algo simplesmente sem igual em vários aspectos, tanta coisa pode ser feita dentro das mentes de vocês que eu fico maravilhada, e as vezes até assustada. Como um mestre vindo de uma história de fantasia, meu poder agora irá conectar seu corpo a sua mente como uma conexão direta, fazendo com que o tempo de resposta do seu corpo ao seu pensamento seja basicamente instantâneo. E com um pouco de imaginação, acredite, você vai fazer muitos mestres chorarem de inveja – Ela concluiu com um risinho. Eu sei que ela é uma deusa, mas ouvir isso me deu uma certa descrença de que seria capaz de fazer algo parecido com o que ela descreveu.
Marcos – E como eu faço isso? Eu não sei lutar.
Ygra – Mas sabe imaginar – Ela disse com certo orgulho no sorriso – Use sua imaginação, e vai ver do que você é capaz. – Apesar da descrença em mim mesmo... Algo me fazia acreditar nas palavras dela de que eu era capaz, então apenas balancei a cabeça positivamente. – Ótimo, nesse momento você está no hospital de Pelican Town, te acharam no deserto e trouxeram você pra cá. Então não se preocupa, apesar da empreitada difícil, você vai ter muito apoio nessa aventura. Vou aparecer quando não tiver ninguém por perto, mas sempre vou estar ao seu lado, tudo bem?
Marcos – Bem... Tá bom.
Ygra – Tá na hora de acordar dorminhoco, e não se esqueça, a Terra vai estar te dando dicas o tempo inteiro de onde procurar, apenas abra bem os olhos e a mãe natureza vai de guiar – E com um último sorriso dela tudo se apaga por um segundos. Então despertei com uma luz forte perturbando minha visão.
Demorei alguns minutos para recuperar minha visão total, minha vista estava embaçada e meus outros sentidos confusos. A fortel lâmpada acesa da sala do Harvey me cegava enquanto eu tentava acostumar minha visão de novo a luz. Depois de mais um tempinho, mesmo com a vista ainda embaçada, eupude ver que alguém estava diante de mim, e a voz masculiname tirou as duvidas de quem era. Claro que era o Harvey.
Harvey – Garoto, voce está bem? – A voz dele parecia meio trêmula.
Marcos – O...o que? – Outras duas vozes também corriam pelo quarto. Duas vozes femininas discutindo.
??? – É sério! Eu juro que eu não tô mentindo! Ele apareceu do nada!
???2 – Mas isso é impossíve! – Harvey então virou pra elas e chamou a atenção delas em um tom acima para que parassem de discutir.
Harvey – Meninas! – Ambas então o olharam – O paciente despertou. – A visão de ambas veio em minha direção, a briga se dispersou em um suspiro de alívio. Uma delas então disse:
??? – Ufa! Finalmente você acordou! – Uma delas falou mais animada dessa vez.
???2 – Sério, você tá bem? Me deixou preocupada quando te achei no deserto.
??? – Ainda não entendo como você veio do nada.
Marcos – E...eu tô bem, só com dor de cabeça. – Minha voz ficou um pouco trêmula enquanto eu falava, mas logo voltou ao normal, e meus outros sentidos estavam voltando também.
???2 – Como você se chama?
Marcos – Marcos – Balancei minha cabeça para recobrar meus sentidos. E então eu consegui enxergar as duas finalmente. Uma das meninas era de estatura baixa, cabelos cacheados, curtos e castanhos ficando no formato de bola. Seus olhos eram castanhos e sua pele parda e um pouco cheinha ela usava uma blusa rosa clara e uma jeans azul escuro com botas marrons. A outra tinha o cabelo cacheado também, porém era Moreno e curto com um laço vermelho na cabeça. Sua pele era um pouco mais escura com uma pinta do lado direito da boca. Seus olhos também eram castanhos e ela usava uma blusa amarela com um macaquinho jeans junto com uma legging verde. – E... Quais seus nomes?
Maria – Eu me chamo Maria. – Falou com um sorriso doce.
Lua – E eu Lua. – Falou com um tom confiante. Não sabia o que iria acontecer, mas mesmo sem conhecer aquelas duas, acho que entendi as palavras de Ygra só de ouvir o nome delas. Com certeza, a aventura tá só começando.
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A Lenda Prismática
FantasyHistória feita para a página "Star do Vale" usando como base o mistério do Fragmento prismático, do jogo Stardew Valley, usando parte da mitologia do jogo e do jogo que o inspirou, Harvest Moon. Um homem chamado Marcos passou por muita coisa em sua...