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- angeline

julian- toma. - o meu melhor amigo estende-me um cigarro.

eu- eu tenho. - respondo, tirando o maço de ventil do bolso do casaco.

julian- como assim tens? o teu pai deu-te dinheiro?

eu- sem ser ansiedade o meu pai não me dá nada. - acendo o objeto cilindrico e dou a primeira tragada, prendendo o seu fumo na minha garganta antes de o deixar ir.

estava com julian no telhado de sua casa após o meu pai me ter dito que me ia meter num colégio interno, que iria já amanhã e que já estava tudo tratado. ele fez tudo nas minhas costas, sem me consultar sobre nada. ainda estava arrasada, mas não tinha mais lágrimas para chorar, então só ficava a olhar paralisada para a cidade em baixo de nós.

julian- roubaste-lhe o maço, foi? - ele tenta perceber como é que eu tenho os cigarros.

eu- acho que é justo. ele roubou-me a minha vida, o maço pelo menos ele pode comprar outro logo a seguir. - eu não conseguia olhar para ele.

sei que se o fizer só vou conseguir pensar em como ele é incrível e em como o vou deixar, sem certezas de que o vou voltar a ver.

julian- o que é que vais fazer? - ele questiona, eu preferia que ele só ficasse calado, a sua presença e um abraço eram suficientes para eu perceber que ele estava ali, mas sempre gostei disso nele, ele obriga-me a organizar as ideias e a refletir sobre o que precisa de ser refletido.

eu- o que é que eu posso fazer? ainda sou menor, se fugisse de casa o meu pai punha a polícia atrás de mim, só ia adiar a viagem e dar-me mais dores de cabeça, o máximo que posso fazer é ir e pensar que pelo menos assim ele não consegue mais destruir quem eu sou.

julian- eu tenho muito orgulho em ti. - ele abraça-me e assim que os seus lábios tocam na inha testa um rio de lágrimas começa a descer pelas minhas bochechas e eu enterro a minha cabeça no seu peito.

aquela era a frase que me tocava, sempre, eu vivia com a minha mãe, mas tivemos um acidente grave e eu fui a única que conseguiu resistir, assim que saí do hospital fui mandada para a casa do meu pai, que sempre achou que eu era a causa de o seu amor com a minha mãe ter sido arruínado, e nunca cheguei a ouvir essa frase da boca dele.

julian- está tudo bem. - ele não disse mais nada, e eu só fiquei ali, a chorar no colo dele à espera do momento em que teria de me despedir daquele momento.

- you tooWhere stories live. Discover now