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dentro de cinco minutos tínhamos chegado ao local, um pequeno parque infantil bastante antigo com um pequeno lago à frente, e rodeado por árvores, a paisagem típica de oregon, o que tinha a sua beleza.

lilith- e então pequena angel, preparada para perder completamente a liberdade, para passares a viver no âmago da nossa ansiedade e este ser o teu único sítio, e ainda assim tens de ter cuidado com o que fazes por aqui? - ela questiona com um certo tom divertido.

eu- quando começaste eu ia dizer que não era muito diferente do que eu tinha em casa, mas depois continuaste e eu percebi que não sei qual sítio é pior. - admito, causando risos das duas partes.

lilith- entendo, entrei exatamente igual a ti, até que aprendi a lidar com a situação e a tentar tirar os pontos menos negativos dela e tentar ficar feliz pelas pequenas coisas que ainda se vão arranjando, e assim não lido com as merdas da minha mãe.

eu- parece-me um bom ponto de vista, vou adotar.

lilith- pareces ter uma atitude bacana, vais-te adaptar bem.

eu- tu já não és do 10º pois não?

lilith- não, eu já estou no 11º, mas estive a ver as turmas com um amigo meu, ele chumbou o ano passado e a não ser que haja mais alguma angeline na lista, acho que ficaram na mesma turma, vais conhecê-lo hoje ao jantar.

eu- okay, ya isso facilita. - rio.

lilith- eu sei.

encarei-a por breves segundos, ela tem-se mostrado boa pessoa, mas ainda me lembro da forma como saiu da sala do diretor quando eu cheguei.

eu- tu também pareces ser bacana, mas porque é que saías da sala do diretor daquela forma mais cedo?

lilith- viste isso?

eu- sim, tinha acabado de chegar, estava à espera para falar com o diretor.

lilith- epa vamos pôr isto de forma simples, eu não concordo com o sistema de educação e sou um bocado impulsiva. basicamente é isso e por isso o diretor não vai muito com a minha cara, na verdade, a maior parte dos stores.

notavasse o quão habituada ela estava àquela realidade, transparecia através da naturalidade com que disse aquilo, achei fascinante.

ela desvia a sua atenção do horizonte e vai até ao bolso do casaco, de onde retira um maço e um isqueiro.

lilith- fumas? - ela estende-me o maço, convidando-me para aceitar um.

eu- agradecida. - respondo pegando num cigarro.

pego no meu isqueiro que ainda estava no meu bolso das calças e as duas acendemos os cigarros e começámos a balançar levemente nos baloiços.

eu- eu achava que tinha imaginado todos os cenários possíveis para este momento no avião, mas acho que me esqueci deste. - confesso e ambas rimos, um riso sincero.

lilith- surpresas são agradáveis.

eu- deste tipo sim. - concordo e mais umas leves gargalhadas ecoaram entre nós.

até que a conversa morreu e ficámos apenas a fumar e a fingir que voávamos. 

lilith- bem, eu vou andando para o quarto, vens ou ainda queres ficar por aqui?

eu- eu acho que fico, ainda quero aproveitar este sítio antes de voltar para dentro.

lilith- o sítio não desaparece não te preocupes. - ela goza e eu só reviro os olhos.

eu- tu percebeste o que eu quis dizer idiota. - acabo por me rir um pouco no fim e encaro os seus olhos num tom peculiar de cinzento. eram lindos. ela sorri.

lilith- sim eu percebi, só tem cuidado, já são sete e meia, o jantar é às oito, não te atrases. - ela começa a afastar-se.

eu- não te preocupes, eu chego ao quarto antes até porque vais ter de ser a minha guia até eu decorar os caminhos. - ela ri.

lilith- com certeza sua majestade. - ela diz com o seu tom irónico já característico dela e curvou-se à minha frente num movimento de vénia. ambas acabamos por trocar leves gargalhadas.

e assim ela afasta-se de vez sem mais impedimentos.

eu volto a encarar o lago, com o pôr do sol já a descer sobre ele. ficava frio, eu estava de t-shirt, mas sempre me senti acolhida no frio, acabo por acender mais um cigarro dos meus e fico a relembrar os momentos semelhantes que tinha em casa.

baloiço-me levemente enquanto imagino o julian ao meu lado, ele saberia exatamente o que dizer, era como se ele conseguisse pôr em palavras o que eu penso quando parece que nem estou a pensar em nada, e isso está a acontecer agora.

parece que penso em tudo, mas simultaneamente não penso em nada, como se estivesse mergulhada num mar de emoções, mas incapaz de sentir o que quer que seja, isso dá-me raiva.

agora eu começo a ter a verdadeira noção da falta que ele me vai fazer durante este ano.

pego no telemóvel com vontade de lhe ligar, mas o relógio já marcava sete e quarenta e cinco, o que era a campainha a avisar que preciso de voltar.

volto a olhar para o céu uma última vez e consigo apanhar o momento em que o sol desce totalmente, e ficam no ar apenas as manchas rosa e ele deixou lá momentos atrás.


- you tooWhere stories live. Discover now