já estava à porta da sala do diretor, o meu pai nem se deu ao trabalho de me vir trazer, o colégio é noutro estado e ele não iria fazer uma viagem de avião comigo apenas para me vir deixar aqui, limitou-se a levar-me de carro até ao aeroporto por não confiar que se eu fosse sozinha não iria realmente para lá.
decido sentar-me já que supostamente ele encontra-se com outra aluna e eu tenho de esperar.
em mais ou menos cinco minutos uma rapariga de cabelos compridos pretos sai a correr de lá, viasse a raiva na sua postura.
diretor- desculpa ter-te feito esperar, deves ser a angeline, entra. - ele diz com um sorriso acolhedor, mas que falhou na parte me fazer sentir acolhida.
respondo apenas com a cabeça e acompanho-o a entrar no seu gabinete.
diretor- o teu pai não veio contigo? - ele lança a primeira carta, sentando-se na sua poltrona.
eu- não. - respostas curtas e levemente frias eram a única forma com que me conseguia expressar naquele momento.
diretor- certo, chamei-te aqui para te explicar como as coisas funcionam por aqui e em seguida levo-te ao quarto, tens o resto da tarde para arrumar as coisas e ambientar-te, às oito é o jantar e a partir das dez não estão autorizados a sair do quarto, pode ser?
eu- pode. - 'não me parece que tenha opção senhor diretor.'
ele assim prosseguiu a explicção, deu-me o horário e encaminhou-me pela ala das raparigas até ao meu quarto.
diretor- espero que te adaptes bem, sei que é uma mudança um tanto brusca, mas acredita que não é o fim do mundo como pode parecer. - ele sorri.
eu sorri de volta mas nenhuma palavra foi proferida por mim e assim ele retira-se do quarto.
havia outra cama ao lado da minha, mas o quarto estava vazio. uma cómoda onde suponho que possa pôr as minhas roupas e uma pequena mesa de cabeceira do lado esquerdo da cama.
trato de arrumar as minhas coisas e apenas fico deitada na cama e encarar o teto, a verdade é que não tinha muitas coisas para ter saudades de casa, mas as que tinham, corroem-me por dentro.
as fugidas de casa à noite com o julian, as noites em que bebiámos e íamos para o parque infantil, ficávamos deitados na rede a balançar e a falar sobre assuntos profundos, abraçados. os bosques nos quais eu podia entrar sem me perder depois de me ter perdido milhares de vezes a tentar descobri-los, o que eram muitas vezes porque sempre que algo me destruía mais um pouco eu ia para lá como uma tentativa de me voltar a erguer...
e agora não tenho nada disso, não tenho o baloiço de rede das conversas profundas, não tenho as árvores que me ouviam a falar comigo própria e nunca diziam nada, mas que me acalmavam independentemente, nem o julian, que era a única pessoa que desejava que estivesse aqui comigo, mas nunca lhe pediria para abandonar a sua vida em los angeles só para vir para oregon comigo só porque nunca fui boa em enfrentar mudanças sozinha.
agora eu tenho um quarto com paredes brancas, as quais não posso encher de tags como no meu quarto quando morava com a minha mãe, tenho um enorme estabelecimento no meio do nada, sem nenhum sítio de escape, e com milhares de pessoas que não conheço e não sei se alguma delas vai conseguir entender os meus desvaneios.
??- estranha no meu quarto, quem és tu? - uma rapariga de longos cabelos pretos entra no quarto, e eu logo reparei que era a rapariga que eu vi a sair mergulhada em raiva do gabinete do diretor.
eu- angeline, tu és? - respodo à pergunta enquanto ela se senta na sua cama e eu permaneço deitada na minha.
??- lilith. - ela apresenta-se. - porque me és estranha? conheço toda a gente deste colégio, e porque estás no meu quarto?
eu- sou-te estranha porque cheguei hoje ao colégio e estou no teu quarto porque agora também é meu, prazer, vais ter de conviver comigo o resto deste ano.
lilith- porque entras a meio do ano? poucas palavras por favor.
eu- mãe morta, pai que não quer lidar com a responsabilidade de ter uma filha que odeia. - todo o tom da conversa parecia frio e seco, mas no fundo eu sabia que não era assim tanto.
lilith- okay, não precisavas de ter respondido à pergunta, não sabia que essa seria a resposta.
eu- sem stress, estamos numa conversa, é suposto quando uma parte pergunta a outra responder, por pior que a resposta possa ser.
lilith- boa resposta. angel queres ir dar uma volta? - nunca na minha vida alguém abreviou o meu nome, muito menos chamar-me de anjo.
eu- pelo colégio? - respondo erguendo a sobrancelha.
lilith- achas? eu poupo-te o martírio de olhar para estas paredes vazias que mais parecem de hospital, à um sítio fixe aqui perto, queres conhecer?

YOU ARE READING
- you too
أدب المراهقين"don't choose, if you love it then you cut the thing loose." eu só estou a tentar viver.