Assim que cheguei em casa, senti o cansaço me consumir. Preparei um banho quente e entrei na banheira enquanto fitava o teto. Eu ainda podia sentir seu cheiro, ainda me lembro de suas expressões, me lembro dos fios loiros grudados em sua testa por conta do suor. Ainda tenho às marcas de suas unhas em minhas costas. Seus anéis ainda estavam comigo, eu nem havia me dado ao trabalho de devolver suas coisas.
Amanhã nós iríamos fazer uma viagem para realizar o último show da turnê. Não consegui evitar um suspiro. Nós finalmente teríamos um descanso, mas eu não iria conseguir te ver com tanta frequência. Você provavelmente iria passar suas férias com sua família ou em algum outro lugar distante de mim e de nossos companheiros de banda. Eu precisava pensar em algo. Urgente! Eu preciso de uma desculpa para usar minha mais nova droga; Christian Anthony. Meu melhor amigo e colega de trabalho.
E então senti que a água começava á esfriar e me apressei em terminar o banho para poder ter uma boa noite de sono depois de muito tempo.
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O som do despertador preencheu meus ouvidos, me fazendo abrir os olhos e me forçar a sair da cama. Mesmo tendo que me apressar para não perder o vôo não deixei de pensar em algo para passar mais tempo com Kras.
Arrumei a touca em minha cabeça e ouvi o som da buzina do carro que julguei ser do meu irmão.
– Bom dia bela adormecida. — brincou ao notar minha cara de sono.
– Acho que zumbi se encaixaria melhor. — respondi, colocando o cinto de segurança. – Bom dia Jesse! — ouvi ele murmurar um bom dia então desbloqueei meu celular afim de mudar umas coisas no instagram da banda.
Devo ter passado uns minutos apenas atualizando a timeline do twitter até voltar meu olhar para a janela do carro e observar o dia lá fora.
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O dia do show havia chegado. Eu estava nervoso por não ter conseguido pensar em nada. Eu só espero que isso não estrague nossa amizade. Devo ter passado boa parte do dia distante, mas mesmo assim. Fizemos um bom show. A platéia estava agitada e transmitia uma energia boa.
– Mitchel? — fui tirado dos meus pensamentos ao ouvir batidas na porta.
– Pode entrar, Kras. Está aberta. — caminhei até a varanda e me permiti observar a cidade dali. O céu escuro com algumas estrelas e a brisa calma do vento. Algo dentro de mim dizia que era o momento perfeito.
Mas o momento perfeito para que exatamente? Eu não tenho noção do que irei dizer ao Christian. Eu apenas quero passar mais tempo com ele. E a idéia de ele zoar com a minha cara por isso me atormenta.
Congelei ao sentir sua presença ao meu lado e seu olhar me observando.
– Então…para que me chamou aqui? — ele perguntou simplista.
– Eu te chamei para…comemorar…o show de hoje foi um sucesso e merece uma comemoração. — encolhi os ombros.
– Mitchel, somos uma banda. Não uma dupla. Não faria sentido você chamar apenas eu para isso, mas deveria chamar a banda toda. Qual o motivo de ter me chamado?
– Eu… — abaixei a cabeça e fitei meus pés. — Eu não sei Christian.
– Como assim não sabe? Se me chamou deve haver um motivo para isso.
– Eu…não sei…apenas queria passar mais tempo contigo. — levantei a cabeça e notei sua expressão confusa.
– Mas você não acha que nós já passamos muito tempo juntos?
– Sim, mas nós últimos dias venho sentindo uma necessidade de estar perto de você. De falar com você, de te abraçar, de afagar seu cabelo, ouvir você cantar. — eu disse baixo e notei sua expressão ficando mais confusa.
– Eu não entendo o que está acontecendo Kras. Eu não deveria estar tão apegado assim á você. Acredite que se eu pudesse controlar isso, não estaria aqui agora.
– Acho que isso é mais do que um carinho ou amor de irmão, mano. Você não age assim nem com o Clinton. Por que comigo? Você está gostando de mim ou algo assim?
– Eu não sei, não consigo me entender. Não acho que isso seja somente um amor de amigos ou irmão de consideração. Muito menos paixão. Não sei, eu realmente não sei. Minha única certeza é querer ficar perto de você. Querer te abraçar, afagar seu cabelo e não ter mais que inventar desculpas apenas para passar mais tempo com você. — desabafei e ele desviou o olhar para o céu.
– Mitchel, você sabe que eu nunca namorei alguém, ou andei de mãos dadas, e tive um encontro em um parque de diversões. E imagino que mesmo se fôssemos namorar isso seria extremamente clichê e enjoativo para ambos. Me desculpa se eu confundi sua mente depois das nossas fodas, mas não sei se isso é pra mim.
– Eu entendo, talvez seja apenas coisa da minha cabeça, relaxa. Mas enfim, boa noite.
– Boa noite! — ele sorriu antes de me abraçar e finalmente sair do quarto.
Suspirei e senti algumas lágrimas molharem minha bochecha.
