cap. 2

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Estavam na aula de desenho, sentados em polos opostos da sala quando o professor pediu que pegassem uma folha branca nova. Apoiaram a folha sobre as prancheta e prestaram total atenção ao professor

- A arte é algo sério, mas na maioria das vezes pode ser espontâneo. Desenhar, pintar ou escrever, só são considerados dons quando vindos do coração - O professor andava pela sala - Pintar aquela paisagem que você tanto admira durante o pôr do sol, desenhar aquela pessoa que acha especial ou escrever histórias, músicas e poemas, baseado nos sentimentos do momento. A arte tem um conceito bem amplo, que não nos convém dizer hoje. Em nome da paixão, hoje a tarefa de vocês é desenhar aquilo ou alguém que vocês amam, ou acham belo e especial. Um animal, uma pessoa. Qualquer coisa. Pode ser tirada inspiração por foto ou imaginação. Em trinta minutos eu passo conferindo.

Victor pensou, desenharia Rocky? Não, já está até no automático. Sua mãe e seu pai? Não se lembraria dos detalhes e não tinha uma foto deles juntos. Pensou... olhou para os lados em busca de uma ideia, logo a encontrou, com uma expressão séria no rosto, cabelo preso em um coque quase desfeito e um óculos que refletia a luz da lâmpada da sala. Victor sorriu e passou a desenhar Ella, que por sua vez desenhava Mia e Lua, sua gata e cobra respectivamente, ao lado de Rocky e... Victor. Surpreendente.

Ella sentia que estava sendo observada, tentou encontrar o ser que a encarava e pouco tempo depois o encontrou. Fitou Victor, e quando ele fez o mesmo, ambos inclinaram a cabeça.

- "O que será que ele está aprontando?"- pensou Ella. Sempre que Victor a encarava, estava com alguma coisa em mente. Victor sorriu para ela e ela, inconscientemente retribuiu. Quando se deu conta, abaixou a cabeça e continuou seu desenho.

- Faltam cinco minutos turma. Como andam as coisas? - O professor os apressou. Alguns alunos responderam que estavam no fim, outros como Ella nem sequer deram atenção.

Victor estava satisfeito com seu desenho, mesmo sendo pouco mais que um esboço, ele tinha muito talento para a arte. Estava pensando em abrir uma Tattoaria. Iria comentar isso com Ella, mas acabou se esquecendo. A chamaria para jantar numa hamburgueria que abrira perto de sua casa.

- Prontos? Ayla, poderia nos mostrar?

A bela garota negra abriu um sorriso largo e virou sus prancheta para o meio da sala.

- É uma rainha africana. Desde pequena vejo fotos sobre esses desenhos e as histórias do meus antepassados. Amo quem eu sou e graças a eles sou assim.

- Impressionante. Está maravilhoso Ayla. Bom... Breno?

- É o Mário Bros, o Crash, alguns personagem de Street Fighters e mais alguns. Eles fizeram parte da minha infância e até hoje sou apaixonado por games.

- Cada dia me surpreendo mais com vocês. Ella? - Ella deu um pulo, percebeu que a chamaram e em pouco tempo ficou extremamente corada.

- São meus melhores amigos, Lua, Mia, Rocky e... bem, Victor. Eles sempre estão comigo quando eu preciso, e mesmo me irritando, eu ainda os aturo.

- Está sensacional. Maria?

A moça de cabelos castanhos sorriu, ficou levemente corada e virou seu desenho.

- São meus pais. Minha mãe está doente e meu pai faleceu há um mês. Queria que de alguma forma, a memória deles se eternizasse.

- Emocinante. Está muito lindo Maria, continue assim.

Mais alguns desenhos foram exibidos, paisagens da infância, animais de estimação, familiares. Victor foi deixado por último.

- Estão todos de parabéns. E você, Victor?

- Espero que não me levem a mal. Eu usei como modelo a pessoa que se tornou a coisa mais importante para mim. Tenho muitos amigos, mas Ella é minha única melhor amiga. Gentil, não tão carinhosa mas apaixonante. Em outras palavras, eu não soube o que desenhar e esbocei Ella, minha melhor amiga - viro o desenho e a turma o observa. Ella se encolhe em sua cadeira, sorrindo e totalmente corada.

- A aula está quase acabando, mas eu vou deixar lição de casa. Desenhem, ou pintem, a paisagem que mais marcou a infância de vocês, seja um filme ou real. Tragam para eu ver daqui duas aulas. Até a próxima turma - O professor finalizou, juntando suas coisas sobre a mesa. Os alunos iam saindo, Victor se distraiu com um desenho que havia em sua prancheta e foi surpreendido com um peteleco no meio da testa.

- Não deveria ter feito aquilo - Ella disse nervosa.

-O quê? Desenhado a mulher por quem estou apaixonado?

- Brincar com a minha cara na frente de todos. Vou ser mais uma boneca sua, é isso Victor?

- Ella, calma. Não foi isso.

- Algumas de suas brincadeiras passam dos limites- ela sai da sala com pressa, indo em direção à saída. Nenhum dos dois haviam percebido, mas tinha começado a chover. Andando pelos corredores abertos de acesso ao pátio, ambos sentiam os respingos das gotas.

- Ella, da para você me esperar? Fica difícil te acompanhar assim.

- A intenção é você não acompanhar - Ela enfatiza.

- Só por que eu te desenhei?

- Não.

- Então por quê?

- Porque você me prometeu, Victor. Prometeu que nunca brincaria com meus sentimentos.

- E eu estou cumprindo a promessa - ele corre e entra na frente dela - Eu juro Ella, eu não estava brincando.

- Saia da minha frente, vou ligar para um táxi.

- Deixe de ser boba, eu vou te levar em casa.

- Não precisa. Vá pra sua festa.

- E quem disse que eu prefiro a festa do que sua companhia?

- Victor... eu não sei mais o que dizer.

- Então não diga, faça- Victor se aproximou de Ella, segurou sua cintura e fitou seus lábios, ele podia sentir a respiração dela, e ela sentia o hálito dele.

- Victor... - ela falou com uma voz manhosa.

- Sim?

- Você... comeu cebola? Tá meio tenso aqui - Ela se afastou rindo.

- Ah drogaaa, qual foi, Ella?

-Desculpe. Mas então você não vai à festa?

- Não mais.

- Quer ir lá em casa hoje? Assistimos Coraline de novo e pedimos uma pizza.

- Claro. Podemos passar e pegar de uma vez. Mas podemos passar e pegar o Rocky? Não é legal deixar ele sozinho numa noite fria e chuvosa como essa. Ele tem medo

- Ah é. Passamos, pegamos o Rocky, vamos à pizzaria e por fim vamos para minha casa.

- Só tem um problema - diz Victor

-Qual? - questiona Ella.

- Não trouxe um guarda-chuva. Teremos de correr até o carro.

-Va na frente. Estou logo atrás.

Victor saiu correndo pelo estacionamento a fora e parou debaixo de uma área tampada, na metade do caminho até o carro. Olhou para trás procurando Ella, que por sua vez andava tranquilamente sob seu guarda-chuva preto.

- Poderia ter me dito, não? - Victor questionou ofegante.

- Não teria muita graça. Mas agora vamos. Estou aqui.

Eles dividiram o objeto até chegar no carro, entraram e Ella tentou secar um pouco Victor, com uma toalha de rosto que ele carregava no carro.

- Desculpe, não deveria ter feito você correr nessa chuva. Eu vou cuidar de você.

- Não tem problema. Mas você quem vai fazer o brigadeiro hoje.

- Ah - Ela ri - Tudo bem então. Vamos?- Ella inclina a cabeça.

- Vamos - Victor imita o gesto. Ambos riem, e Victor da a partida.

A Musa Do DesenhoOnde histórias criam vida. Descubra agora