Marcada para morrer!

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A jovem Helena estava de pé sobre a cova simples ainda aberta na terra. Ela segura em suas mãos um delicado lírio branco, que gentilmente lança sobre o caixão simples de madeira barata dentro do buraco. Uma lágrima solitária desce emoldurando seu rosto, como uma carícia. Ela usa a manga do casaco e as costas das mãos para enxugá-la. Havia apenas ela, o coveiro e um padre ortodoxo, para despedir em paz a alma daquele homem ao seu descanso eterno. O céu estava nublado e uma chuvinha fina, quase imperceptível parecia combinar com aquele belo e triste cenário. O coveiro espera o fim dos últimos sacramentos e começa a jogar a terra por cima do caixão. Em poucos minutos o buraco está totalmente tomado pela terra. Enfim, seu avô descansaria em paz.
Ela se sentia só. Agora mais do que nunca estava só. Seu avô era sua única família, a única pessoa no mundo. Era tudo que ela tinha. Era órfã, nunca conheceu seus pais. Seu avô lhe contava que a viu pela primeira vez ainda bebê dentro de um cesto perto de Star Hill, ele criou a menina, mesmo já estando em idade avançada, eles sobreviviam da música. Ele era violinista, e tocava nas praças, pontos de ônibus, bares, onde tivesse gente ele tocava seu violino e assim garantia o sustento para eles.
Helena, esse foi o nome que recebeu, logo desenvolveu gosto pela música e descobriu que tinha o dom do canto. Sua voz soprano combinava harmoniosamente com a melodia do velho violino, era um contraste que se harmonizava bem. Logo cedo, ainda pequena, cantava junto com o avô as canções folclóricas e populares daquele povo.
Seu avô era um cigano de origem húngara, mas não vivia com outros ciganos, preferiu viver isolado quando sua família morreu afogados num rio. O barco que haviam tomado virou e sua esposa e seu filho desapareceram na correnteza. Ele contava essas histórias à jovem, que sonhava um dia conhecer aquela gente, porém, seu povo não era bem quisto em Rondorio. Ela e o avô eram os únicos, talvez últimos ciganos naquela cidade. O racismo contra os ciganos foi o que causou aquela briga no bar em que o seu avô morreu do coração.
Ela gostava de contemplar as estrelas, seu avô lhe contou que as estrelas juntas formavam constelações, e que essas constelações eram diferentes, especiais, únicas. E cada uma delas tinha um nome. Eram 88 conhecidas pelo homem e seu avô lhe ensinou o nome de cada uma delas.
Ela lembra das conversas ao luar, quando seu avô via ela com o olhar perdido contemplando as estrelas. Seus olhos brilhavam. Ele bebia uma xícara de chá e disse:
-No que está pensando, minha neta?
-Nas estrelas.- Disse- Vovô, eu queria poder entender meus sonhos.
-Uma boa cigana tem que aprender a interpretar sonhos, meu anjo.
-Sonho constantemente o mesmo sonho...- Disse ela- Me vejo nele, mas eu estou diferente... Sei lá, é estranho.
-Diferente como?
-Me vejo altiva, trajando uma roupa como se fosse uma armadura e em minha mão direita um cetro, um báculo, e na mão esquerda um escudo que era quase da minha altura. E me vejo comandando um exército de guerreiros que vinham dessas estrelas... Eu me senti tão diferente, era eu, mas como se não fosse... Só sei que esse sonho tem relação com as estrelas.
-Minha netinha- Disse o velhinho carinhosamente- Pode ser que os deuses estejam mostrando a você o seu destino, aquilo para o qual é o seu propósito nesta existência. Cada homem, cada mulher tem um destino que foi traçado ao nascer. E chega um dia em que esse destino nos chama.
-Está me dizendo que o meu destino é comandar um exército, vovozinho? Logo eu? Nem temos mais nosso povo, e além disso, odeio guerras. As guerras trazem sofrimento, dor, morte, e eu não  quero que ninguém sofra. A guerra foi que dizimou nosso acampamento, a guerra foi que trouxe fome, tristeza e desespero ao mundo. Eu desejo a paz. Se há algo pelo que valha a pena lutar, é pelo amor, a paz e a justiça, lutar sim, para que nenhuma criança fique órfã como eu.
Ele a abraça carinhosamente e diz:
-Contam os gregos que a cada 250 anos nasce uma encarnação de uma deusa. Essa deusa possui um exército de honrados e bravos guerreiros que batalham ao seu lado para preservar a paz e a justiça. Não sei se isso é verdade, o que sei, é que enquanto existirem no mundo pessoas boas que lutam pelo bem, o mal jamais triunfará. Seu destino foi escrito, minha neta, você não poderá fugir dele, seu propósito nesta existência é lutar para proteger os fracos e indefesos.
Suas palavras calaram profundamente no coração dela, que deitou com a cabeça no colo do seu avô deitada na relva olhando as estrelas. De seus lábios, sua voz balbuciava quase imperceptível:
-Uma deusa...
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⏰ Última atualização: Aug 19, 2019 ⏰

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