Ás vezes me lembro de histórias de pessoas que são portadoras de algum problema e que, mesmo assim, conseguem ter uma vida. Não sei de fato qual é o meu. Me sinto diferente há algum tempo, desde que me entendo por gente, a princípio. Mas é como se tudo tivesse piorado há um ano atrás, quando que ela foi embora. Sayuri Baker. A garota com quem eu costumava passar tardes inteiras e mesmo assim não me cansava nunca. Ela sempre foi uma linha tênue entre felicidade e desejo, uma mistura de confusão e calma. Tinha cabelos lisos-ondulados de tom escuro, e um cheiro que abraçava a perfeição. Eu amava aquele cheiro. Ela adorava brigar comigo na intenção de mudar meu comportamento, odiava meus cigarros. Segundo ela, caso não mudasse, mais cedo ou mais tarde isso iria me trazer algum tipo de sofrimento. Infelizmente ela estava certa.
Para a realização dos meus pais, finalmente entrei para a faculdade, apesar de nunca ter sido realmente um dos meus desejos. Eu queria cursar alguma coisa, mas sei lá...sempre achei que com vinte e dois anos ainda seria muito cedo.
Sayuri me apoiou desde sempre, éramos melhores amigos, podia contar com ela para qualquer coisa, acho que se um dia, eu matasse uma pessoa, ela estaria lá para me ajudar a enterrar. Estraguei tudo. Minha avó dizia para eu tomar cuidado com as experiências na faculdade, elas mexiam com a cabeça das pessoas, e que, as decisões tomadas ali eram quase sempre permanentes, as chances nunca voltavam.
Foi lá que conheci Liz. Ela é dois anos mais velha, tem olhos tão escuros, quase pretos, cabelos louros e ondulados, é incrivelmente linda. No começo, quando entrei na faculdade, Liz foi a única pessoa com quem eu podia me sentir confortável em conversar, era um ponto de apoio. Acho que foi também uma válvula de escape, pensei que, assim, pudesse deixar de lado o que sentia por Sayuri, não queria estragar nada, mas acabei fazendo tudo errado. Sayuri se afastou e eu não soube reagir a não ser deixar que ela fizesse, desde então nunca mais a procurei. Foi aí que comecei a namorar Liz. A partir disso sempre existiu um problema: ela não era Sayuri.
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