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O vento frio castigava quando Lis desceu da carruagem, então acelerou o passo em direção ao bar.
Fez-se silêncio quando ela entrou trajando um vestido preto. Um véu cobria seu rosto. Havia cerca de dez homens ali, contando com um brutamontes de barba castanha que servia cerveja por detrás do balcão. Alguns deles dormiam, ou estavam desmaiados, e outros aparentavam estar prestes a tomar o mesmo destino.
"Mulheres não podem entrar aqui, madame", disse o brutamontes de barba castanha.
Ela sabia que nem todos os bares aceitavam a presença de mulheres, mas mesmo assim não parou. Sentou-se bem à frente do homem e puxou seis moedas de prata.
"Não se preocupe", disse, deslizando as moedas pelo balcão. "Eu não vou me demorar. Só quero falar com Jimmy."
O atendente a encarou por um instante, tentando decifrá-la por debaixo do véu negro, talvez.
"Sobre o quê?", ele disse.
"Você não me parece ter cara de Jimmy", ela respondeu e ouviu a risada de um dos bêbados assim que o fez.
O homem não pareceu gostar daquilo.
"Ele não está."
"Me avisaram que você diria isso."
O brutamontes respirou fundo antes de falar: "Esse lugar não é para mulheres, madame. Por favor, retire-se, ou—"
"Deixe a moça, Marcus", gritou um velho que estava sentado à mesa no canto da parede. "Será que você não tem respeito nem por viúvas?" Lis não o tinha notado até então, mas também não havia muito a se notar. Era apenas mais outro bêbado de cabelo ralo e desarrumado e barba malfeita. "Eu sou Jimmy, madame. Pode se aproximar, prometo que Marcus não fará nada."
Lis foi até o velho e puxou uma cadeira para si.
"Uma bebida?", disse ele assim que ela se sentou.
"Não", respondeu Lis. "Estou bem assim."
"Na minha experiência, é mais fácil lidar com a morte após alguns copos."
"Com os vivos, também", ela rebateu. "Estou bem, obrigada."
Jimmy riu, levantando a sobrancelha. "Acho que já a vi... É a viúva de sir William, não é?" Ela não respondeu. Ele adotou um tom mais cauteloso. "Por Deus, sinto muito por seu marido e filho, madame. Posso saber o que a traz aqui?".
As palavras dela saíram secas e sem demora.
"Soube que você poderia me informar onde encontrar a vidente."
O semblante de Jimmy mudou totalmente assim que a frase foi dita. Outras pessoas deviam procurá-lo para muitos outros assuntos, pelo jeito. Mas, pela reação do homem, Lis julgou que a vidente era algo que ele raramente ouvia.
Ele ficou em silêncio por um tempo e suspirou antes de prosseguir.
"A vidente cobra um preço alto, madame. Bem alto."
"Dinheiro não é problema."
"Claro que não..." Ele parecia hesitante. Estendeu o braço e abriu a mão. Queria dinheiro, é claro. Lis preferia não pagar por apenas uns meros segundos de informação, mas o que se passava à sua frente era apenas a forma mais pura de como o mundo funcionava. E ela o entendia bem. Tudo tinha um preço. Então fez como Jimmy pediu. "Alguns minutos a cavalo, ao sul da cidade, a senhora vai encontrar uma estrada de barro estreita. Siga no caminho da estrada até achar uma mansão. Pode levar algum tempo, mas não saia dela. Bata na porta e entregue o dinheiro ao mordomo. Ele lhe mostrará o caminho."
Lis se levantou e sem virar para ver o rosto de Jimmy, disse: "Obrigada".
Ela caminhou todo o bar em direção à porta. Quando a abriu, o vento frio fez com que ela tremesse. Parou ali mesmo, como se tivesse desaprendido a andar.
"Eu não a aconselharia a ir naquele local, madame", Jimmy gritou. "As coisas que acontecem lá... elas não—"
"Não são agradáveis", Lis interrompeu. "É... já me disseram isso, também."

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A Cortina (Conto)
HorrorLis vai ao encontro de um ser chamado "a vidente" na esperança de reencontrar seu falecido amor, porém, ela deve lembrar que os mortos não foram feitos para ficar fora de descanso. 🏆 Conto destaque de novembro de 2019 pelo ContosLP