Lados Ocultos

Lembranças de um Verão

Sul da Califórnia, 12:00pm

Ela estava confusa, já não estava mais nas memórias de Jooheon, havia apenas uma imensa claridade que havia tomado conta de seus olhos, que lugar era aquele? Uma figura familiar tomava forma, a pele era pálida, pernas finas, quadril largo e os cabelos... da cor do fogo!

 -Quem é você? Perguntou Lillith assustada

-Eu? Ora, por que você não faz essa pergunta a ele? Disse a garota apontando para um pequeno ponto escuro no fim daquele corredor branco. A figurava de duas pessoas foram ficando nítidas, a mesma menina que estava na frente de Lillith estava ali, com Jooheon. Ele estava ajoelhado perante ela com Jasmins na mão, a flor favorita de Lillith, mas o terror tomou conta do rosto de Jooheon, nuvens escuras se formavam no céu, uma tempestade estava prestes a tomar conta da cidade, gritos de desespero foram ficando abafados a imagem foi desaparecendo e Lillith voltou para os braços de Jooheon. 

Sua cabeça latejava ao mesmo tempo em que o relógio badalava, olhou para Vee que caia em um sono leve já Jooheon, parecia ter se aprofundado em suas melhores lembranças. Espero que estejam tendo bons sonhos, pensou ela, pois talvez possa ser o último. 

Lillith ficou observando a lenha queimar, sem se dar conta que Jooheon havia acordado e estava a observando. -Está tudo bem? Perguntou ele, ela não moveu um músculo sequer para olha-lo, apenas confirmou com a cabeça, mas ele sabia que não estava. 

-Lillith, o que aconteceu? Parece que você viu um fantasma, riu Jooheon para descontrair mas ele não sabia o quão certo estava.

-Está certo, eu realmente vi um fantasma mas é interessante porque ela se parecia tanto comigo. As chamas refletiam no olhar dele, era como se ele estivesse em chamas.

-Eu acho que já passou da hora de eu saber Jooheon, você não pode mais me proteger disso. Eu preciso saber, por favor me diga. Ouve-se um suspiro de tristeza, será que ele deveria contar a ela? Ela realmente está pronta para ouvir a verdade? Bem, se ela deseja saber que assim seja feita a sua vontade.

Ele se aconchegou um pouco mais ao seu lado, a história seria longa e ela precisava manter a mente livre de qualquer pensamento, para que as palavras que serão ditas possam ser compreendidas. -Bom, irei te contar a história,  preste atenção em cada detalhe para não se sentir confusa, começarei  quando eu a conheci....Não me lembro mais qual foi nosso começo. Sei que não começamos pelo começo. Já era amor antes de ser .

"Naquele dia o vento soprava calmamente em um dia de verão, era em 1950 e eu estava sentado embaixo de uma imensa cerejeira observando-a com aqueles imensos cabelos vermelhos que refletiam no sol, ela estava colhendo jasmins que por acaso era sua flor favorita, assim que me viu seus olhos violetas irradiaram e aquele belo sorriso estampou em seu rosto. Ela se aproximou de mim suavemente, oh céus, como ela era tão bela e pura, meu coração começou a bater descompassadamente até que ela se aproximou e disse "Olá, me chamo Nora e você é...?" Quem imaginaria que aquele simples "olá", poderia acabar com sua vida?! Logo começamos a nos conhecer melhor, toda tarde eu esperava por ela na mesma cerejeira, se ela soubesse como gosto das suas cheganças, ela chegaria correndo todo o dia. E ela vinha cada tarde com uma nova história para me contar, eu estava completamente apaixonado por ela, até que decidimos nos casar, eu sei, fomos completamente irresponsáveis não tínhamos essa percepção de mundo, eramos apenas dois adolescentes totalmente desprovidos da realidade. 

Eu esperei por ela naquela tarde, íamos dar a novidade a seus pais, mas ela não retornou,  fiquei uma semana esperando por ela, ahh meu coração estava em pedaços, o meu primeiro amor havia me deixado, o que eu faria depois disso? Então decidir ir até a casa dela para entender o que havia feito para que ela me deixasse. Quando bati na porta uma senhora me atendeu, provavelmente uma serva da casa, quando perguntei por Nora o seu semblante escureceu, por fim ela disse: - Oh meu jovem rapaz isso foi um erro, desde o início não deveríamos ter permitido esses encontros, se nós tivéssemos escutado o padre Bryann essa tragédia não ocorreria... E você que causou tudo isso, quer um conselho? Fique longe dessa família, o mais longe possível se não o que aconteceu com ela irá acontecer com você, aah garoto você não sabe onde se meteu - Dizendo isso ela fechou a porta em meu rosto, mas o que havia acontecido com Nora? Fiquei todos aqueles dias cinzas procurando por ela, eu sentia que ela estava perto de mim mas não sabia dizer onde, eu precisaria invadir aquela casa, eles estão me escondendo alguma coisa e eu temo por isso. 

Quando o céu já estava totalmente coberto pela escuridão me aproximei da casa, eu corria enormes riscos mas eu precisava entender o que de fato havia acontecido. Entrei na casa por uma janela que dava exatamente para o porão, quando cheguei ao cômodo o cheiro era horrível, um odor de carne podre tive que me conter para não vomitar, mas que diabos eles estavam escondendo ali? Quando liguei minha lanterna entendi por que daquele cheiro, restos de animais estavam espalhadas pelo chão, eu não tinha curiosidade nenhuma para saber de qual animal era. A poeira havia tomado conta do porão, parecia que ninguém limpava a séculos. Fui me aproximando de uma parte mais escura do porão, então percebi... Estava totalmente quieto, não havia nenhum barulho sequer, até as árvores lá fora não se movimentavam, era como se o tempo estivesse parado em favor a mim. Comecei a ouvir uma voz abafada, andei em direção a ela e me aterrorizei com que vi. Era Nora, ela estava acorrentada a parede pelos braços, na verdade o que restava deles, ela estava completamente magra e frágil, não havia mais cor em seu rosto, seus olhos violetas estavam azulados. -Oh céus Nora, o que fizeram com você? - Quando ela ouviu minha voz, uma única lágrima desceu por sua face logo, palavras abafadas saiam de sua boca -Fuja, eles estão te ouvindo, fuja -Vi uma chave no chão e retirei as correntes com cuidado para não machucá-la, assim que as correntes caíram no chão a luz da casa se acendeu, peguei ela nos braços e começamos a correr, precisávamos sair dali o mais rápido possível, a porta do porão foi aberta e apressadamente passei Nora pela janela, então escutei: -Eu tentei te avisar mas você não me ouviu, não importa aonde você for com ela nós iremos achar vocês e dessa vez não terá misericórdia, a sentença foi dada. 

Eu corria para salvar nossas vidas, não olhei para trás em nenhum momento mas aquelas palavras martelavam em minha cabeça, o que ele quis dizer com aquilo? Bom, eu não sei, eu só precisava manter Nora a salvo e era isso que eu iria fazer...