A sua espera

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-Faz dois meses que você vem aqui e insiste em interpretar esse papel, quando vai começar a dizer o que realmente pensa, como realmente se sente?

-Quando você vai me liberar?

Os dois já haviam tido aquela mesma conversa uma dezena de vezes e em todas elas...nada mudou.

Ela não sabia mais o que fazer, nada adiantava, ele não se abria.

-Quando eu conhecer o verdadeiro John.

-Mas que merda! O que você quer ouvir? Que por um momento de incompetência uma adolescente a qual eu deveria proteger e oferecer segurança roubou minha arma e meteu uma bala na cabeça? É isso?!

-Não foi incompetência...

- Ou que eu não consigo mais dormir a não ser que seja imaginando seu corpo nu sob o meu?

- O qu..que?!

-Isso mesmo doutora, ultimamente apesar do quanto me irrita, não consigo olhar para você e não imaginar qual será o gosto da sua boca.

Algumas vezes ela o admirara em silêncio, mas era uma profissional e ponto final. Recuperou-se da declaração e de forma calma disse:

-John, isso não vai funcionar, quero que se abra comigo, quero poder te ajudar, caso contrário isso acabará atrapalhando seu trabalho. De qualquer forma, não foi incompetência sua, precisa entender isso. A garota estava em estado de choque e além..é difícil dizer o que ela estava pensando, pessoas reagem de forma diferente a um estupro. Algumas não conseguem seguir em frente, o que é totalmente compreensível.

-Já chega! Eu não deveria ter dito nada, estou indo.

-mas seu tempo não acabou!!

Ele não respondeu, apenas se levantou e saiu batendo a porta.

Ela pegou seu gravador e iniciou o seu relatório.

-John Silver, talvez tenha feito progresso hoje, mas só a próxima consulta pode confirmar. Se culpa pela morte da garota, tenho de pensar em uma forma de alcançá-lo e fazê-lo se abrir mais.

-Senhorita, o sr. Markus já esta a aguardando.

-mande-o entrar, por favor.

-Em um instante.

O homem bem apessoado entrou, impecável como sempre, seus olhos brilharam assim que a viram, ela não gostava daquela reação, na verdade ela não gostava dele em si.

-Está linda como sempre, Elena.

-Obrigada. Vamos começar?

-Sempre direta.

Ela não respondeu aquilo.

- Então Markus, conte me um pouco mais sobre a sua relação com sua ex-mulher.

-Não há nada a se dizer, ela foi um erro em minha vida, uma ingrata e apenas isso.

Markus se mostrava diferente do habitual com relação a ex-mulher, era todo composto, mas quando se falava nela um novo Markus surgia.

Em algum ponto da conversa ele havia se sentado e olhava direto para ela, os olhos irados.

-Ela era uma piranha e a única coisa que merecia era primeiro uma surra e depois a morte, se pudesse ser eu a lhe dar os dois, nada me faria mais feliz.

Ela se assustou com aquilo, já desconfiava que ele tinha uma certa inclinação para a violência, mas agora aquilo estava óbvio. Aquele homem era perigoso, tinha de acabar com aquelas consultas.

- acalme-se Markus. De qualquer forma a sessão está encerrada.

Após feito o relatório e colocar alguns documentos em dia ela pegou suas coisas e se preparou para sair, Sara já havia ido embora a muito tempo. 23:30 não havia percebido o adiantado das horas, esquecera-se que não estava de carro hoje. Odiava esperar o táxi aquela hora.

Mal saiu do prédio e uma figura alta surgiu a sua frente lhe causando um tremendo susto, que só piorou ao reconhecer quem era.

- Elena que bom que pude lhe encontrar.

- Markus o que faz aqui a essa hora?

Ela disse de forma firme, mas sua mente estava a mil, desde que horas ele estava ali a esperando? O que ele queria?

-Queria lhe pedir desculpas pela forma que falei com você.

-você poderia deixar para a próxima consulta. Já está tarde. Há quanto tempo está esperando?

- Não muito.

Evasivo, aquilo não era bom.

-desculpas aceitas, me desculpe mas eu tenho que ir.

Ele a segurou pelo pulso.

-posso lhe dar uma carona. É perigoso esperar um táxi a essa hora sozinha.

O que poderia dizer?

-Não se preocupe, já estou acostumada.

Quando Elena tentou se soltar, ele aumentou o aperto.

-Eu insisto.

ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora