Capitulo 02

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Seu corpo inteiro doía. Se a morte era a continuação do que estava sofrendo, não queria mais essa brincadeira.

Ou será que ela tinha ido para o inferno?

— Abre logo a porra desses olhos Mia! Você está me matando aqui...

Cami? Será que ela morreu também?

— Por que você morreu também? — A voz saiu grossa por causa da garganta seca.

— Humpf! Quem me dera! Talvez no céu tivesse alguns anjos gatos para mim.

— Mas eu acho que estamos no inferno.

— É, você provavelmente está. Dá para abrir os olhos?! — Forçou os olhos, que pareciam grudados com cola, a se abrirem. A claridade do lugar não ajudou muito e logo voltou a fechá-los.

Sentiu Camila sair de perto e logo depois a luz diminuiu, ajudando ela a se acostumar com os olhos abertos.

— Obrigada.

— De nada. Como está se sentindo?

— Como se tivessem passado com um rolo compressor sobre mim. — Respondeu depois de beber pequenos goles de água.

— Ah, eu acredito, mocinha! — Ela fez uma expressão preocupada — O que aconteceu Mia?

Tentou lembrar de tudo o que havia acontecido, mas ainda estava nublado em sua mente. Não lembra de como chegou ao hospital.

— Eu não me lembro muito bem Cami. Nem sei como cheguei aqui.

— Um dos seus seguranças te trouxe. Parece que o Eduardo desesperou ao te ver daquela maneira e fugiu. Eu só sei que depois ele pediu para que retirasse todas suas coisas do apartamento e colocassem no lixo.

— Ele colocou minhas coisas no lixo?

— O segurança que te trouxe, confesso que esqueci o nome dele, disse para mim que não aceitava o que o patrão estava fazendo, mas que não poderia ficar sem emprego. Então, ele pegou tudo o que conseguiu e colocou no porta-malas de seu carro e trouxe para mim. Eu guardei lá em casa.

— Idiota.

— Não é?! Mas pelo menos você se livrou daquele monstro. — Ela fez uma careta e puxou a cadeira, sentando ao seu lado e pegando em sua mão. — Mia, desde quando ele vem te agredindo?

— Desde o meu aniversário. — Senti as lágrimas preencherem meus olhos, antes de caírem silenciosamente. Tão vergonhoso quanto ser agredida, o alívio em poder falar com alguém era incomparável.

— Do seu aniversário? Mas isso foi há muito tempo.... Então foi por isso que você me evitou depois disso?

— Me desculpe Cami, mas eu não tinha coragem de olhar para você e explicar o motivo das manchas roxas em minha pele. Eu não sei ser tão mentirosa assim, como o Eduardo.

— Mas o que aconteceu agora, para ele voltar a agredi-la?

— Tinha uma mulher que estava mandando mensagens para mim, com fotos dele. Provavelmente era mulher dele, ou alguma coisa assim, mas eu vi uma desculpa para me livrar dele...

— E ele não aceitou.

— Não.

— Covarde.

Mia não poderia concordar mais com Cami. Eduardo era um covarde. Qualquer homem que se atreve a agredir uma mulher, seja qualquer que for o motivo, é um covarde.

— Vamos deixar esse babaca para lá! Ele não está mais perto, pelo que eu sei, e isso é o que mais importa.

— Ele desapareceu? E se ele quiser terminar o que começou? Queria tanto que isso acabasse. Queria tanto esquecer.

— Fica tranquila e vamos pensar na sua recuperação. Esse idiota não vai mais chegar perto de você. — Ela apertou minha mão antes de se levantar. — Vou buscar seus remédios e depois que você sair daqui, nós vamos atrás do seu esquecimento. Eu tenho um plano.

— Que medo dos seus planos

Ela abriu um sorriso e depois se afastou. Enquanto esperava a amiga voltar, Mia fechou seus olhos e pensou na sorte que teve. Já leu reportagens de mulheres assassinadas pelos maridos ou companheiros, algumas, inclusive, tiveram consequências graves e, apesar de tudo, era estava bem.

Só precisava de tempo para se recuperar e perder o medo de encontrar com Eduardo. Não queria isso. Não queria nunca mais encontra-lo. Não era essa visão que tinha de seu príncipe, quando sonhava com um. Agora, nem mesmo sonhos em relação a isso, tinha. Só queria voltar a sentir segura novamente e ser dona da sua própria vida.

A vontade de falar com Andre, de sentir seus abraços e ouvi-lo dizer que ficará tudo bem era excruciante. Mas ela tinha que aprender a ser menos dependente de qualquer homem. Mesmo que esse homem fosse seu melhor amigo.

Uma semana depois ela foi liberada do hospital. Pensou que dali iriam para casa da Cami, mas se enganou. Os pais dela deixaram a casa da praia pronta para elas. Cami conseguiu tirar férias adiantadas para que elas pudessem ficar o tempo que for sem a pressa para voltar para casa.

E foram as férias perfeitas.

Todos os dias se olhava no espelho, estudando as marcas que ainda haviam em sua pele. Algumas já estavam esverdeadas, outras ainda roxas, mas a maioria estava sumindo.

Por sorte, estavam em baixa temporada e a praia quase deserta a deixava confortável para que pudesse tirar a saída de banho. Os dias foram passando e os pensamentos se ordenando. Ainda não sabia o que pretendia fazer de sua vida. A cada que era de seus pais continuava alugada, então ela não podia pedir para seus inquilinos saírem. Pelo menos até o término do contrato. Não podia voltar para o apartamento em que viveu por mais de três anos, o que se sentia aliviada, pois não considerava aquele lugar um lar.

Mas havia uma coisa boa nisso tudo: o mundo estava aberto para as possibilidades.

Esboçou um sorriso enquanto olhava para as ondas do mar em toda sua calmaria. Sentia a maresia leve bater em seu rosto e pela primeira vez, depois de muito tempo, estava feliz. Havia tudo para que ficasse bem a partir de agora.

Olhou para a tela do celular e ficou mexendo até encontrar o nome de Andre. Ele havia respondido sua mensagem de bom dia e perguntado como ela estava. Mia queria muito responder, conversar com seu amigo. Estava com tantas saudades e precisava muito de seus abraços, mas ainda não estava preparada para contar para ele sobre o motivo que a fez sumir.

Não poderia fazer isso, ainda. Deixou o celular de lado e suspirou incômoda.

Por dias tentou entender o ponto aonde as coisas começaram a dar errado. Sabia que ele tinha seus defeitos, tanto quanto ela, mas ainda assim, não havia justificativa de como tudo terminou.

Queria apenas ser feliz, ter seu bendito conto de fadas. Mesmo sabendo que isso nunca acontece na vida das pessoas normais. Ela queria ter ao menos uma pessoa que a amasse tanto quanto ela o amasse. Um amor sincero, onde eles pudessem amar e ser feliz reciprocamente. Um amigo, um parceiro, um confidente, um amor.

E como continuar acreditando em tudo isso depois de três anos vivendo uma mentira?

Continuou olhando para o mar. Gostaria que as ondas levassem todas lembranças ruins que havia dentro dela. Todas as coisas ruins que tinha vivido. Ouviu os passos de Cami próximo a ela e virou o rosto para ver sua amiga sentar ao seu lado e sorrir.

— Tudo bem por aqui?

— Tudo perfeito. — Abriu um sorriso verdadeiro. Era bom estar aqui. Era bom tê-la ao seu lado. Camila tem sido seu anjo da guarda nesses últimos dias. Se não fosse por ela, não saberia o que fazer da vida.

E assim terminamos nosso dia. Com um pôr do sol perfeito e com a melhor amiga do meu lado.

A vida começava a se encaixar de alguma forma.



O tipo certo de amor (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora