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Todos falam para gente sonhar, que os sonhos servem para a gente viver e ser livres. Mas, não disseram que os sonhos tendem a morrer quando algo acontece na sua vida; você não conseguir realizar o sonho, uma morte na família, falta de dinheiro ou simplesmente quando você está prestes a morrer.

Eu tinha um sonho, o qual queria muito realizar. Dança. Tudo dentro de mim se movia com a dança, cada parte do meu corpo se movimentava quando uma música tocava em qualquer seja o lugar.

Mamãe comprou uma sapatilha para mim quando fiz doze anos, ela é rosa e tem desenhos de pequenas flores vermelhas em volta. Está guardada dentro do meu closet, num lugar escondido, que guardo a motivo de sentimentos brotam em mim quando a vejo intacta pendurada no gancho.

Tudo o que queria era ser bailarina, era o que eu mais queria antes da doença aparecer.

O meu sonho morreu, assim como estou morrendo agora. Não há nada que possa recuperar o sonho esquecido no closet, e não se pode fazer nada quando se está morrendo.

Ir no médico foi mais um lembrete de que meus dias são curtos, meus pais ficaram a todo momento segurando minhas mãos mostrando que ficarão do meu lado a qualquer hora que precise deles. Liza apareceu para aplicar a medicação via injeção na veia. É a que mais dói de todas. A agulha é grossa e pontiaguda, tive que segurar as lágrimas com força para que nenhuma saísse, acabou que Liza viu uma teimosa lágrima descendo pela minha bochecha e limpou, mas não comentou nada.

Chorar tem é em vão, mas está ficando cada vez mais necessário.

Quero chorar quando ouço meus pais falando sobre a minha doença tarde da noite, quero chorar quando eu vomito todo o meu café da manhã, quero só chorar quando vejo as pessoas que me amam vendo-me morrer. Os olhares não enganam, minhas amigas tentam esconder, mas vejo quando eu falto a aula por não conseguir levantar da cama, estou ficando pior, isso é fato. Só pensei que não seria tão rápido eu piorar.

Cada dia parece que estou lutando com minhas pernas e peço para que funcionem normalmente.

Está ficando difícil manter a aparência de quem está saudável.

— Você não precisa ir hoje, filha — papai diz, enquanto entramos em casa.

Estou apoiada nele, o procedimento de ver minhas medulas é pesado e suga cada gota da minha energia. Meu corpo pede por um lugar confortável e que possa ficar dormindo o dia inteiro, mamãe ficará em casa e papai logo irá trabalhar. Por ordens minhas.

— Tudo bem. — Minha voz sai arrastada e rouca. Parece que passei a madrugada bebendo em alguma festa, mas só foi o procedimento.

O doutor Froseth disse que estou aparentando estar bem, para quem está passando por isso. Ele não usou a palavra perto dos meus pais, mas sei o que quis dizer; posso estar morrendo, mas continuo vendendo saúde, bem, eu tento.

Papai me deixa na cama, para que eu me ajeite do melhor jeito para mim, meu corpo se limita com movimentos leves, então me deito de lado, de costas para a sacada.

— Posso colocar o computador aqui, para você assistir. — Sugere papai, apontando para o criado mudo ao lado da minha cama.

— Pode ser, pai.

Ele pega meu notebook em cima da penteadeira, e deixa no móvel quadrado, levanta a tela e o liga, meu computador é um tanto antigo, então sempre que o ligam ele demora alguns segundos para ligar, foram os segundos mais silenciosos de toda a minha vida.

Papai está com o rosto virado, olhando a velharia terminar de ligar, os bolsos escondem as mãos mais carinhosas que uma filha poderia pedir aos céus. Ele é o meu herói, alguém que me ajuda e recolhe todas as lágrimas que deixo cair.

Está Chovendo Estrelas [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora