- CATARINA, ONDE VOCÊ ESTA? - ouço Lizz me chamar.
Foi tudo um pesadelo, penso, elas estão bem... E então eu abro os olhos.
Estou de volta no nosso quarto.
Nossas camas, nosso guarda roupa, nossos livros, nossos bichos de pelúcia, nossas coisas.
Mas algo está errado, o fogo consome a cortina, algumas flores de plástico presas nela caíram na cama de Suzana que é consumida pelo fogo.
- CATARINA?! - Lizz grita de novo.
"Aqui" tento dizer, "estou aqui", mas nada sai. Sinto minha garganta fechar, a fumaça a minha volta é tão densa que já nem consigo mais ver os incontáveis buquês de flores coloridas no papel de parede cor de rosa.
E então, deixo a escuridão me abraçar ao som da minha vida sendo destruída pelo fogo...
~•~
Recuperando a consciência aos poucos, sinto meu corpo todo pesado. Tento mexer os dedos e sinto um pano debaixo deles. Com certeza não estou mais enfrente a escola, mas o que aconteceu?
Tento me lembrar, mas não percebo que contínuo mexendo os dedos...
- Olha, olha, ela tá mexendo - ouço a histeria de Mariana.
Tento abrir meus olhos, mas a claridade do ambiente me faz mudar rapidamente de ideia.
- Catinha, deixa eu te ajudar - diz Jonah cobrindo o sol com o corpo dele, o que não é nada dificil.
Jonah tem o corpo largo e atlético, já que seu pai, ex militar, fez com que ele fizesse diversas modalidades esportivas quando criança.
Ele segura meus braços e me puxa pra cima. Além de forte, Jonah é mais alto que eu, e, quando já estou na ponta dos pés, ele me apoia em algum lugar. Ainda de olhos fechados, passo os braços pela cintura dele e ele, um pouco relutante, me abraça de volta.
- Hãan.. vocês querem que deixemos vocês a vontade? - ouço Mariana. Mas, espera, quem mais está aqui?
Abro os olhos devagar, me acostumando com a claridade.
Vejo Mariana batendo o celular na mão, logo atrás de Jonah que me olha num misto de vergonha alheia, vontade de rir e preocupação.
No susto, me afasto do cara que estou agarrada e percebo que estava apoiada no carro de Jonah, já que o srt Demon soa ao meu lado, fazendo com que eu me assuste ainda mais.
- Okay, okay, se acalme. Está tudo bem - diz o cara estranho que eu estava abraçando.
- Cat, calma. Para de surtar, está tudo bem. Você está sentindo alguma coisa? - diz Jonah ficando entre mim e o cara desconhecido.
- Eu.. eu... - tento me acalmar. Puxa o ar, segura, 1.. 2.. 3.. solta o ar, 1.. 2.. 3.. Puxa o ar... Faço isso até, finalmente, conseguir me acalmar - eu tô bem, eu tô bem...
- Tá, então você pode explicar o que foi que aconteceu? - pede Mariana se aproximando.
Me esforço para lembrar dos últimos momentos antes de acordar e abraçar o cara estranho, por falar nisso...
- Espera, quem é ele? - pergunto
Jonah, pela primeira vez desde que acordei, ou apaguei, desvia os olhos de mim e olha para o cara estranho.
- Ue, pensei que soubesse. Estava ai toda...
- Este é o Leo, - Jonah interrompe Mariana - ele é o dono da moto que...
- Quase te atropelou - Mariana devolve a interrupção.
Olho para o tal Leo, esperando que ele se pronuncie e também, para tentar vê-lo melhor.
Botas que parecem ser couro, calças jeans, blusa preta com uma jaqueta preta por cima, pele morena e um boné que, com ele olhando para baixo, encobre seu rosto.
Ele anda em minha direção e para um pouco atrás de Jonah.
- Meu nome é Leonardo, mas prefiro que me chame apenas de Leo - ele diz esticando a mão para mim, só que eu não quero aperta-la. Abraça-lo sem nem ao mesmo conhecê-lo, já foi contato mais do que o suficiente. Olho para a mão dele e depois para ele e dou um sorriso sem graça, ele parece entender e recolhe a mão - Eu não te atropelei, na verdade, não cheguei nem perto disso - ele completa olhando para Mariana - eu vi você atravessando a rua, murmurando algo para si mesma e apontando para o outro lado da calçada. Quando cheguei perto o suficiente, desci da moto e você desmaiou, falando alguma coisa sobre uma menina...
- A menininha do outro lado da calçada - digo, me lembrando da criança. Com um pulo, me afasto de Jonah e, inutilmente, olho para o outro lado da calçada, procurando a criança. - Algum de vocês viu pra onde ela foi? A quanto tempo estamos aqui? - digo olhando para os três que me olham confusos, como se eu falasse outra língua. - Gente!?
- Cat, se acalma. Do que você está falando? - pede Jonah
- Tinha uma garotinha do outro lado da calçada - digo, depois de revirar tanto meus olhos, que quase pude ver dentro de mim - a Mariana também viu - digo apontando pra ela.
- Vi? - ela pergunta
- Sim
- Fadinha, eu não vi criança alguma por aqui depois que saímos da escola e, respondendo sua pergunta, estamos aqui a quase duas horas. Estou faminta e cansada então, encerramos por hoje? - ela se vira pra Jonah que olha com incredulidade pra ela. - Vamos fazer uma festa do pijama na casa da Cat, você quer ir? - ela se vira para Leo.
- Mariana! - Jonah chama a atenção dela e lhe dá um beliscão no braço. Eu apenas observo... - Eu acho melhor esquecer a festa do pijama - ele continua - Cat não parece 100% para festas.
- Quê!? Claro que está! - Mariana protesta - e outra, se ela realmente não está, vai ficar. A festa do pijama é uma excelente oportunidade para cuidarmos dela.
- Eu sei o que você disse, mas tudo o que eu ouvi foi "eu não me importo se ela está bem ou não, eu não vou ficar em casa tendo que aturar meu irmão responsável me impedindo de destrui-la enquanto posso fazer isso na casa dos outros" - Jonah responde.
Solto um breve suspiro. Leo parece nota-lo em meio a discussão que se inicia, já que se aproxima de mim.
- E então, você está ou não 100% bem? - ele me pergunta.
- A algum tempo eu não estou 100% bem - respondo, por alguma razão, sendo sincera com ele.
- Você quer ir em algum médico? - ele diz, se agitando
- Não, não precisa - tento acalma-lo. - são.. hãan.. problemas pessoais, que não me deixam dormir - completo dando uma risada sem graça no final.
- Entendo... - não, provavelmente não, penso - Bom, eu posso te dar meu número?
- Oi? - digo surpresa. Ele abaixa a cabeça e ri, quando levanta de novo, consigo ver seu rosto. Pela primeira vez, e analiso.
Uma boca com lábios grossos, tentando esconder o riso que persiste em aparecer e mostrar a fileira se dentes perolados, um nariz perfeito e os olhos, lindos olhos cinzas que me encaram de volta. Não sei dizer o por que do divertimento estampado nos olhos dele, mas eu também não sei dizer se me importo... a discussão de Jonah e Mariana fica cada vez mais baixa, não por que um deles se deu por vencido, mas sim por que, a medida que olho para os olhos de Leo, o mundo inteiro parece ficar cinza e, isso não é uma coisa ruim. Não com ele por perto...
- Ou você prefere me passar seu número? - ele pergunta, seu sorriso se torna largo e lindo...
- Hãan... desculpe, - digo, tentando me recompor e rezando para não estar vermelha. Olho para baixo, e posso sentir que ele ainda me olha. - eu definitivamente não sei onde está meu celular - respondo por fim.
- Eu não quero te mandar mensagens quando você conseguir dormir, então, eu posso anotar e você me chama? - ele pergunta jogando sua cabeça para o lado, não sei se é para me ver melhor ou se é pra fazer charme. Se for a segunda opção, funcionou.
- Não precisa se preocupar com isso, eu quase não durmo - digo rindo, sem graça com a forma que ele me olha.
- Por que? - ele me olha com curiosidade.
E então um grito.
Olho para os dois e Mariana está andando em direção a esquina e Jonah vem em direção ao Demon, vermelho como as Rubis.
- Eu vou te levar pra casa, você precisa descansar - diz Jonah pra mim.
- Então isso é um até logo - diz Leo pra mim.
- Um até logo? - pergunto
- Sim, nunca dou adeus. Sempre são tristes e melancólicos... Mas, um "até logo", significa que vamos nos ver de novo.
- E é isso que você quer? - diz Jonah tentando parecer simpático, ao invés de grosso, já que, claramente, ainda está estressado por conta da discussão com Mariana.
- Claro, mas, dessa vez, sem desmaios. Então, você poderia anotar meu número? - diz Leo a Jonah que, por sua vez, para na mesma hora o que estava fazendo, jogar sua bolsa no banco de trás do Demon e apenas olha pra Leo, com uma sobrancelha arqueada, ele intercala o olhar entre nós dois. - É que eu quero notícias de como a ... desculpa, só sei seu apelido - ele vira pra mim
- Catarina - digo
- Nossa, que nome lindo! - ele me olha, como se meu nome estivesse escrito na minha testa e ele estivesse admirando "a beleza dele". - Hãan... - ele me encara por mais um tempo, como se tivesse perdido a linha de raciocínio.
- Seu número..? - diz Jonah entregando seu celular para Leo, o trazendo de volta a terra.
- Certo - ele diz.
Digita seu número e entrega o celular para Jonah que, ao ver a tela do celular, começa a rir.
- Moreno Sarado do Team Iron Man? - diz Jonah olhando para Leo. - Somos dois, bom, tirando pela parte do moreno, obviamente. Mas a Cat ficou do lado do Capitão - Jonah aponta pra mim e Leo me olha com a sobrancelha arqueada.
- "Ultron não sabe a diferença entre proteger e destruir, com que você acha que ele aprendeu isso?" - repito a frase da Wanda, orgulhosa por conseguir imitar seu sotaque.
Jonah revira os olhos e se vira para o Demon, Leo apenas balança a cabeça.
- Espero ter outras oportunidades para tentar mudar esse seu ponto de vista - diz Leo que pega minha mão e a beija gentilmente.
Por menos de um segundo, tenho uma sensação de dejavu, como se ele já tivesse feito isso antes e consigo vislumbrar uma cena de um casal se jovens em meio a um baile da época nobre.
Vestidos longos e esvoaçantes, a valsa tocando, e aqueles incríveis olhos cinzas roubando toda a luz...
Quando ele se afasta, eu volto a mim. Leo se aproxima de Jonah, cochicha algo para ele e se afasta indo em direção a sua moto.
- Você vai na frente Cat - diz Jonah.
- Para onde foi Mariana? - pergunto a ele
- Você realmente acha que eu sei? - diz ele entrando no carro - desde quando ela da satisfação da vida dela?
- Não está preocupado? - pergunto entrando no carro
- Sinceramente? Não quero pensar nisso - ele responde
- Você vai dormir lá em casa não vai? - pergunto me virando para ele.
- Você realmente tem dúvidas sobre isso? - diz ele com um tom de leveza e ironia na sua voz.
Estamos saindo do estacionamento e passamos por Leo que nos espera. Jonah buzina para ele que retribui e anda com sua moto.
Ele segue na nossa frente por alguns metros, mas quando chega a uma bifurcação onde sempre viramos para a esquerda, ele segue para direita e, uma parte minha, torce para que lá na frente, eu esbarre com aqueles olhos cinzas novamente.
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A Luz, A Escuridão e o Cinza
FantasyCinco após um horrível acidente onde, Catarina, perderá a maior parte de sua família - biológica e adotiva. Só lhe restando sua tia Caroline -. Ela ainda não se recuperou como os psicólogos e psiquiatras previram. Ela ainda tem pesadelos - quase tod...