Capítulo 5 | Por onde anda você?

465 40 40
                                    


We could leave this town and run forever, let your waves crash down on me and take me away.
OCEAN AVENUE, yellowcard


Scarlett M. Wright


segunda-feira, 5 de setembro

Água era tudo o que Scarlett via quando olhava para fora da janela de seu Porsche 911, um dos raros momentos que a ruiva mantinha o teto retrátil do veículo fechado no verão: o lava-rápido jorrava espuma e toda a sorte de líquidos que deixariam a pintura branca imaculada, como se acabasse de sair da fábrica, mas Scarlett ficou desapontada ao notar o céu que ficava gradativamente escuro, indicando uma nada convencional chuva se aproximando. Mesmo que não caísse uma gota do céu, aquela visão deixava a mais nova dos Wright abatida. Não que o tempo cinzento a fizesse se sentir miserável, isso seria dramático demais até para ela, mas era inevitável se sentir sozinha nos dias chuvosos e nublados, mesmo que suas amigas estivessem por perto.

Assim que a lavagem acabou, Scarlett deu a volta até a porta da loja de conveniência, com vista para a pequena estação de trem de Hawthorne Heights, cidadela entre Stonefall e Birchcreek e casa de um elegante Casablanca Hotel & SPA que ela já visitara incansáveis vezes.

Ao contrário do refúgio no meio do mato, como ela gostava de chamar o hotel, a estação era modesta, cuja estrutura simples parecia pertencer a um filme antigo. A linha reinaugurada há poucos anos atendia a cidade onde a escola ficava, e saía da Union Station de Hartford, passava pela caótica e empresarial Ashport, e ia para lugar nenhum: cidades pequenas como St. Julius, Hawthorne Heights, Monroe, Shelton e por fim, Stonefall e Birchcreek, eram parte do trajeto quase bucólico, o que tornava comum a movimentação de alunos. Os gêmeos Wright haviam percorrido aquele trajeto por muitas vezes desde seu segundo ano frequentando Birchcreek, mas naquele em especial, Kyle e Scarlett preferiram dividir o curto trajeto e o espaço reduzido do recém-ganho Porsche da garota, em vez de enfrentar o calor carregados de malas.

Um suspiro mal-humorado e os cabelos acobreados foram soltos do coque extremamente apertado que ela usava para criar ondas nos fios lisos. Scarlett era o que podia se chamar de garota popular, um dos casos em que ser ruiva não era motivo de chacota, e sim, admiração. Ela havia passado de coelhinho tímido a leoa indomável durante aqueles anos, mas, mesmo com toda sua aura de garota independente, feroz, poderosa e descolada, sentia que seu mundo estava do avesso:

Candace Parker, uma de suas primeira amigas desde que se lembrava, descobriu que ser o estereótipo de vadia má era uma ótima ideia, e depois de bater palmas e ajudar a humilhar Brooke publicamente, não respondeu mais nenhuma mensagem, nem nos grupos, nem nas conversas privadas. Já Alexa Von Frisch teve outros problemas mais complicados do que isso, como todo mundo sabia (ou fingia saber) muito bem.

"Todo mundo, menos eu. Porque ela não fez questão de me contar nada".

Um som característico de porta sendo aberta e Kyle se arrastou para dentro do carro, assustando a irmã concentrada em imaginar grossos pingos de chuva caindo sobre o carro recém-lavado.

- Irmãzinha? - Sussurrou, ao fechar a porta. - Você está bem?

- Dez minutos.

- O que?

- Dez minutos de paz que eu tive.

- Você é adorável, não é mesmo? Deveria agradecer por eu te fazer companhia em vez de ir com Drake.

Corações de Gelo // amostraOnde histórias criam vida. Descubra agora