Capítulo 1 | Drake acessa uma lista

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I picked my poison and it's you, nothing can kill me like you do.
You're goin' straight to my head and I'm headin' straight for the edge.

POISON, rita ora

Drake C. Wood

sexta-feira, 2 de setembro

LISTA DE TRANSMISSÃO INSTITUTO BIRCHCREEK

Olá, aluno! Quer ficar por dentro de tudo o que acontece dentro dos muros da escola? Responda SIM e você será incluído na lista. Para sair, envie CANCELAR INSCRIÇÃO.

Drake passou os olhos pela mensagem no que lhe pareceu a décima vez, pensando em todas as possibilidades que seu cérebro podia processar ao mesmo tempo. Com a aproximação do início do ano letivo no Instituto Birchcreek, colégio interno que praticamente todas as crianças e jovens da cidade de Stonefall frequentavam, era de se esperar que a lista fosse apenas um canal de notícias sobre aulas, projetos, eventos e outras informações úteis.

Mas a cabeça de um escritor nunca pensa no "apenas".

Se fosse um canal sobre pessoas com entrevistas ou outro material humano, ele bem que poderia usar as informações para seus próprios livros. Afinal, um de seus passatempos favoritos era observar pessoas em busca de inspirações para seus personagens. Porque não fazê-lo na tela do celular?

Por fim, as letras S, I e M surgiram na tela do celular simples para os padrões de seus amigos. A pequena palavra, no entanto, pareceu ter um peso muito maior. Olhou para fora do carro mais uma vez, aguardando os amigos, tentando afastar a má impressão, mas a vizinhança fez o dia de sol parecer cinzento.

Não havia nada de errado com a Colina, como era chamada a parte superior da cidade, muito pelo contrário: ali se reuniam muitas das exclusivas e ricas mansões de Stonefall, conhecida por ter uma vasta concentração de afortunados. Ruas estreitas se expandiam por todos os lados, como vários braços que se enroscavam até o centro sem arranha-céus quebrando o visual bucólico que escondia uma generosa parcela das fortunas estadunidenses. Da Colina até a beira do Rio Housatonic, palacetes coloniais dividiam a vizinhança com obras-primas da arquitetura moderna e mansões mediterrâneas de três andares, adornadas com piscinas e anexos que deixariam qualquer um de queixo caído.

Drake não morava ali. Não mais.

Desde que seus pais faleceram tragicamente em um acidente (o que o tornava a estatística mais clichê do planeta), Drake decidira vender a mansão que a família Wood morava, a poucas casas dali. O padrinho, Gregor Houston, vivia na Colina, com a noiva recém-enviuvada e mãe de um de seus colegas de classe. Gregor chegara a convidá-lo para morar com eles, mas aquela era uma história espalhafatosa demais, para Drake e seus dramas.

Assim, decidira se acomodar em um elegante e moderno loft, em um prédio de tijolos no meio das construções tradicionais do centro, os quatro andares se erguendo ao lado do luxuoso Hotel Stellamari, o principal da cidade. Ao contrário do que gostava de pregar como um apartamento apertado e mofado, era um dos mais concorridos da cidade.

O motor de seu Lexus ronronava enquanto o ar condicionado o protegia do sol quente de agosto à porta da mansão Wright, uma das grandiosas construções que poderia ser um outdoor clichê de boas-vindas à cidade: Drake já estivera naquele refúgio muito mais vezes do que conseguia se lembrar, e, além de ser o mais próximo de lar que Drake tivera nos últimos tempos, a residência Wright o agradava pelo impecável frescor que rondava todos os ambientes, imaculadamente limpos e brancos. Dava paz ver um lugar que dificilmente lhe daria uma reação alérgica, e Drake era sensível a praticamente qualquer coisa, o que o transformava no melhor garoto-propaganda de anti-histamínicos do planeta.

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