1° Capítulo

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Letícia narrando:

Eu não sei o por que dele querer tanto me levar pra la, eu sou muito feliz morando com tia Judite e não tenho a menor vontade de ir morar com ele e com aquelas mulheres que só estão com ele por interesse.

Carlos sempre veio me ver, isso eu não posso negar, nunca deixou me faltar nada, mas o mais importante ele não soube dar, o amor paterno.

Esse é meu último ano na escola, depois eu pretendo me formar, me sustentar e ajudar minha tia, pois a situação dela está se complicando cada vez mais.

Não, eu nunca namorei sério, isso não é pra mim, eu odeio ter que ficar dando satisfação, e também tenho outros projetos, isso não é nem de longe uma prioridade na minha vida.

Alemão narrando:

Minha infância não foi nada boa, passei coisas que não desejo a ninguém. Eu fui abandonado, largado na rua feito lixo, mas assim como existe pessoas más, também existe pessoas maravilhosas.

Dona Antônia me pegou e me criou, sozinha, sem a ajuda de ninguém, criou eu e minha irmã Isabel, ela não tinha filhos de sangue e nem marido, sua única família era eu e minha irmã. Mas ela se foi num confronto com a Rocinha, nesse dia eles não conseguiram o comando do morro, mas levaram a única parte boa que tinha sobrado de mim.

Eu tinha 12 anos na época, Isa tinha 9, e nós nos viramos, passávamos fome, cede, a casa não tinha energia e nem água, até por que a gente não trabalhava e não tinha como pagar.

Dona Maria, nossa vizinha, ajudava com o que podia, foi nossa segunda mãe, mas a coitada não tinha muita condição, e ainda tinha um filho pra cuidar, o qual eu chamo de irmão, o Paulo Henrique. As vezes ela deixava de comer pra dar pra gente. E tinha dia que nos quatro passava fome.

Ph sempre esteve do meu lado, ele e a Isa são as pessoas que eu mais confio no mundo. Um dia resolvemos entrar pro crime, eu com 13 e ele com 12, começamos de baixo, fogueteiros, quando fui ver já era braço direito do chefe. Não foi uma caminhada fácil, mas eu era rápido, esperto e inteligente, e era o único jeito de nós sustentar.

Comecei a ganhar muita grana, o Ph também, mudamos de vida. Dei um bar/restaurante pra Dona Maria, era o sonho dela, Isa trabalha com ela, e desde então nunca mais passamos dificuldades.

Eu era o melhor no alvo, e o melhor piloto de fuga, não era atoa que eu era o braço direito do chefe. O Ph cuidava de tudo um pouco. E o Jr é um cara que conhecemos lá na boca, o muleque é firmeza e já fechou com nós, desde então sempre foi nos três pra tudo.

Em uma invasão da PM o chefe foi morto e eu assumi como dono, o Ph como gerente, meu braço direito, e o Jr meu braço esquerdo.

Eu tinha 17 anos na época, um muleque, mas um muleque que comandou isso aqui muito bem.

O morro era meu por direito, e eu assumi por amor, tinha tomado gosto daquilo tudo, isso aqui é minha vida e eu não me vejo longe do morro do Alemão, o meu morro.

(...)

Hoje em dia eu já tenho 20 anos e já fiz coisa demais nessa vida. Já matei, já fui quase preso e quase morto, mas continuo aqui, aliás, vaso ruim não quebra fácil.

Geral me chama de Alemão, nem minha irmã me chama pelo meu nome. Eu que quis assim, e assim vai ser.

Nunca namorei, essa fita não é pra mim. Já tenho b.o demais pra cuidar, e esse lance só atrapalha a vida que eu tô ligado. Porra, eu sou o chefe, eu tenho a mina que eu quiser e na hora que eu quiser.


Letícia narrando:

Fernanda: Vamos amiga, por favor, só uma vez.

Eu: Nem ferrando eu vou subir um morro e ir em um baile Fernanda, tira essa ideia da sua cabeça, eu topo todas as suas loucuras, mas isso é demais pra mim.

Fernanda: o que que tem amada!? É quase a mesma coisa de uma boate.

Eu: quase a mesma coisa de uma boate Fernanda, me poupe né, não tem nada haver. Boate não tem traficantes com arma pra cima se achando os donos do mundo.

Fernanda: Você nem sabe se é assim, nunca foi.

Eu: não fui e nem vou, você só pode está maluca, e se o Carlos me pega em um lugar como esse? É o motivo perfeito pra ele me arrastar de vez pra lá, aí acabou baile e acabou boate.

Fernanda: Af, quando foi que você ficou tão chata e medrosa assim?

Eu: não é isso, você sabe que eu amo sair e me divertir, mas ao contrário de você né dona Fernanda, eu tenho juízo e sei os lugares que devemos frequentar.

Fernanda: Juízo? Você tem juízo Letícia? Conta outra né, pra cima de mim não. E quer saber, você vai sim, não tem essa não, nós vamos, vamos nos divertir e vamos voltar pra casa em segurança, te prometo, só fala que vai comigo.

Eu: não vou com você.

Fernanda: amiga pensa comigo, é uma experiência única, algo além de tudo que já vivemos, e você mesmo me disse que queria conhecer uma favela a um tempo atrás.

Eu: queria, só que eu não quero mais.

Fernanda: só uma vez, te prometo que faço tudo que você quiser, e nunca mais encho seu saco pra gente voltar la.

Eu: nossa como você é insistente em Fernanda, que coisa chata. E escuta bem, nós vamos só dessa vez, só dessa única vez, e nunca mais você me pede isso.

Fernanda: tá bom, te amo- veio e me deu um beijo

Eu: enjoada- dei um sorriso e sacudi a cabeça.


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