A Teoria do Amor

IV. Visita

Shouto era um dos poucos alunos que não estava tão ansioso assim para a chegada do feriado. Não desejava voltar para aquela casa vazia e solitária agora que a irmã havia lhe ligado com a notícia que não conseguiria chegar a tempo. Então, é, ir para casa era a última coisa que queria no momento. Ainda mais com as coisas se tornando melhores nos últimos dias: a banda estava bem encaminhada para o festival que haveria no fim do semestre, e (talvez o que o deixava mais satisfeito) Midoriya havia parado de fugir de si.

Foi assim que ficou sabendo que ele nunca havia conhecido o pai e que a mãe lutara com seu emprego em uma escola para sustentar aos dois; como ele havia conhecido Ochako e Iida ao se perder em um parquinho após pegar o ônibus errado e que os dois o haviam ajudado a voltar para casa. Descobriu também que as blusas de mangas compridas eram para esconder a cicatriz no braço (ele não queria outras pessoas a olhando e sentindo pena de si), que a cor favorita dele era azul e que ele amava as animações da Disney como ninguém.

Era um sentimento estranho a sensação de apenas assisti-lo falar sem que ficasse nem um pouco entediado ou com vontade de colocar os fones nos ouvidos e apenas fingir que o mundo não existia. Geralmente, Shouto não gostava de se envolver com pessoas. O grupo que na maioria das vezes estava consigo fora conquistado com muita insistência da parte de Kirishima - cujo sorriso e olhar implorativo eram tão fortes que ninguém se arriscava a dizer não para ele. Então, estava surpreso pelo fato de estar sorrindo mais agora (como o próprio Bakugou comentara durante o ensaio daquele dia) e pelo desejo de passar mais tempo ao lado dele.

E, era só pensar nisso, que avistava aquela massa de cabelos esverdeados vindo pelo corredor, o olhar sério e concentrado visível pelas lentes dos óculos, completamente focado na pilha de livros que trazia equilibrada nos braços. Não resistiu a tentativa de se aproximar, Izuku o atraia como um planeta em órbita, e tentou falar o mais natural possível para não o assustar.

- Precisa de ajuda?

Izuku pulou ao ouvir o chamado súbito e só os reflexos rápidos de Todoroki impediram que os livros desmoronassem no chão.

- Shouto! - Reagiu, tentando levantar os óculos que haviam escorregado pelo nariz usando o ombro. - O que faz aqui?

- Tentando evitar que você morra esmagado, pelo visto. - Ele pegou uma parte dos volumes e os dois voltaram a caminhar em direção ao quarto de Midoriya. - Isso tudo é para o trabalho do professor Aizawa?

Izuku tentou não olhar para os braços dele e os músculos ali se retesando, expostos pela camiseta preta, e, acima de tudo tentou ignorar o calor que afluía pelo pescoço, tingindo as bochechas com cor, mesmo que tudo o que estivessem fazendo era andar lado a lado.

- Hmm, não... - a voz saiu abafada em sua tentativa de equilibrar a pilha que ameaçava cair dos braços. - Peguei alguns para me divertir também.

- Vai ser uma semana e tanto para você. - Comentou com um meio sorriso.

Com igual surpresa, Midoriya descobriu que gostava da companhia de Shouto. Ele era esperto, fazia comentários sarcásticos que o deixavam confuso quanto a veracidade do que dizia. Além disso, por baixo da pinta de punk e da aparente indiferença, descobriu alguém que era quase tão fechado quanto si, mas que respeitava seu espaço e não se importava com a fala desembestada a qual não conseguia evitar. Ainda mais surpreso, percebeu que ele de fato ouvia o que quer que estivesse dizendo e engajava-se nas discursões com vontade.

Descobriu também que ele tinha uma irmã que morava em outro País e participava de uma banda ali mesmo no campus com os amigos com quem sentava todos os dias na hora do almoço. E, talvez isso justificasse o fato das mãos dele serem delicadas, cuidadosas, como se tocassem em todas as coisas como se fosse a própria guitarra.