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Aparentemente, as pessoas costumam parar de confiar muito no seu serviço depois que você resolve passear com o cachorro delas por mais uma hora e meia depois do prazo combinado.

Juro que aqueles donos estavam tão exasperados que quase cogitaram anunciar o possível "desaparecimento" daquele pobre cãozinho nas rádios principais da cidade! Mas que porra, pensei, não se pode mais levar um Husky até um campo no final de Kaila Bay nos dias de hoje?

E foi assim que eu acabei virando um atendente numa lanchonete de um posto rural perto de uma estrada povoada pelos poucos caminhoneiros da região.

Não me levem a mal, o emprego era ótimo. Minha carga horária era compatível com a dos velhinhos camaradas que sempre te faziam ter pelo menos um pouquinho de esperança nesse mundo logo depois de uns quarenta minutos de conversa, era a primeira vez em centenas de anos em que o meu chefe ia de fato com a minha cara (Quem diria que eles realmente existiam), e eu sempre usava as moedas das gorjetas para escolher uma boa música na junkebox.

Era sempre uma maravilha limpar balcões, jogar baralho nos intervalos com o senhor Figgs ou se sentar numa roda de caminhoneiros com anos de experiência nas costas enquanto ouvia um bom e velho Ramones.

Como um daqueles momentos em que você se olha no espelho e percebe que seu cabelo, suas roupas e seu rosto estão bacanas. Ou quando todas as suas responsabilidades já foram concluídas e você pode simplesmente deitar a cabeça na grama do quintal e sentir o vento querer arrancar as roupas do seu corpo. Ou quando você é tão sortudo, que descobre um ótimo livro perdido nas estantes lotadas de uma livraria e o lê pela primeira vez... Como quando a vida está realmente boa por um momento.

Naquele dia, quando cheguei em casa assobiando "Baby, i love you" depois de uma tarde enchendo xícaras de mocas, macchiatos e cafés puros (Exatamente nessa ordem, mas não que fizesse alguma diferença já que, você sabe, eu sempre trocava a receita dos três), eis a primeira coisa que escutei:

"SARTORI, SEU FILHO DA PUTA!"

E, certo. Ou aquilo significava que a vovó tinha rejuvenescido uns quarenta e cinco anos de repente, ou que a Summer havia invadido a nossa casa.

Como a segunda opção vivia acontecendo com uma certa frequência nas últimas semanas, eu apenas concluí que a vovó ainda não tinha sido capaz de conseguir construir uma máquina do tempo.

"Uma boa tarde para você também, coisa linda"

"Como foi no trabalho?"

"Você sabe, a mesma maravilha de sempre... Como foi a tarde das garotas?"

"Foi adorável!" Vovó respondeu "Summer me ensinou a fazer tranças box brades"

"O quê?! Pensei que disse que te ensinaria a fazer na semana que vem!"

Entrei na sala de estar onde a nossa televisão velha e ultrapassada desde a última década estava ligada em Days on heaven e lá estavam elas. Vovó sentada numa cadeira no meio do cômodo com metade dos cabelos grisalhos trançados e Summer segurando um pacote inteiro de fitas artesanais bem atrás da cadeira. Vale dizer que o cabelo dela também estava trançado. Porra, era como se as próprias Destinys Childs tivessem saído diretamente da MTV e se teletransportado até o Texas.

"E infelizmente, você não aproveitou o tempo certo da maneira certa enquanto teve a chance" Summer piscou para mim e, puta merda, eu deveria ter ouvido as palavras dela naquele dia.

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⏰ Última atualização: Nov 16, 2019 ⏰

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