Me perguntaram outro dia como eu consegui esquecer você. Quem não sabe da minha força podia jurar que eu estava de amor novo, mas não foi nada disso.
Sou contra novos amores para que se apaguem as magoas. Tudo tem seu tempo e para que algo bonito aconteça novamente é preciso primeiro ter um coração bonito. E não há nada de bonito em corações magoados.
Superei você no dia que acordei com um gosto amargo de vodca barata na boca e minha poltrona favorita estava queimada de cigarro. Acho que era domingo e para ficar mais dramático vou dizer que estava chovendo, embora não esteja muito segura disso.
Acordei deitada no tapete da sala porque o sol queimava minha perna que tinha um hematoma estranho, também não me lembro de onde ele veio. Passei a mão pela boca e um risco de batom vermelho sujou todo meu antebraço.
Fui até a cozinha atrás de um café, a merda é que você não está mais aqui pra fazer o café. Não conseguia me lembrar quantas colheres de pó para quantos copos de água usar, você sabe, a minha memória é simplesmente ridícula para coisas simples, mas se me perguntaram o nome do lobo que morreu no terceiro episódio da primeira temporada de Game Of Thrones, eu vou saber.
Passei pelo espelho do banheiro enquanto resmungava sobre a minha inutilidade em não saber fazer um maldito café e fiquei assustada. Era eu ali, a figura exposta do fracasso. Ao menos era assim que eu me sentia. Um fracasso ilustrado. Aos 31 anos, solteira, sozinha em um apartamento de dois quartos, ainda sem nenhum gato e que não sabia fazer a porcaria de um café.
E aí eu pensei: mas que droga de vida é essa que eu tô levando?
E sem mais nem menos, tirei tudo quanto era garrafa de bebida de dentro de casa, joguei os cigarros no lixo, junto com a sua escova de dente. Jurei nunca mais frequentar aquele bar onde todos os garçons nos conhecem. Apaguei seu número do meu celular, rasguei as fotos e deixei os porta-retratos em branco. Assim, tudo de uma vez, tudo numa só dor.
O maldito cigarro que você trouxe pra minha vida, a bebida que chegou com toda a força depois que você se foi. Tudo.
Lavei a casa, lavei a alma. Tô aqui ainda, com meus 31 anos, sozinha, solteira, mas feliz. Pensando que eu posso ser melhor assim do que com alguém como você. Eu era melhor antes de você chegar, e com certeza serei melhor agora que você partiu.
Foi assim que eu te esqueci. De uma vez só, com uma só lágrima, a última.
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Coisas que escrevi e guardei
Historia Corta"O papel aceita tudo". Foi com esse ensinamento que comecei a escrever. Muito antes de pensar em escrever um livro ou uma história completa eu tinha essa necessidade de passar para o papel sentimentos transbordantes, que agora reúno aqui. Compilado...