Coisas que escrevi e guardei

2 - Os noivos

Faltava pouco mais de uma semana para o casamento. Ela finalmente podia sentar e relaxar, curtir a última semana de noiva, mudar a aliança de mão enquanto estava em casa para não "estranhar" muito após o casamento. Havia emagrecido os quilos desejados e o vestido estava perfeito. Tudo estava pronto.

Ele entra abrupto pela porta e encontra-a na sala. Se joga no sofá. A expressão é de quem precisa dizer algo e não sabe como, desilusão, o ar pesado denúncia que as coisas não estão bem. Por duas vezes abre a boca para falar, mas desiste.

Ela imparcial não sabe se chega mais perto ou se espera, mas mantém os olhos nele. Ele tem um ar confuso que ela nunca viu. O cabelo bagunçado, a barba por fazer, a blusa já pra fora da calça. Provavelmente dentro do elevador ele já deu início ao ato de se desarrumar. "Gravata só serve para sufocar", sempre dizia, dia sim, dia não, antes de sair. Tanto que haviam optado por um casamento informal e ela dera a ele a liberdade de não usar gravata no dia.

Ele levantou e passou a andar de um lado para o outro. Ela se manteve sentada. Não sabia se falava algo ou se pelo peso da situação e a desgraça pré-anunciada dava já início a choradeira.

— Se eu disser... Prometa não rir. 

"Se vai me fazer rir, talvez não seja tão sério", pensou.

Pôs-se ao lado dele. Fez um esforço para ultrapassar todos os pensamentos negativos, manteve a expressão neutra e falou:

— Tudo bem, não vou. Diz.

— Como é que eu vou entrar na igreja com esse monte de cabelo branco pipocando na minha cabeça?

Ela prometeu, mas não cumpriu. O alívio era tão grande que só conseguiu gargalhar, foi para perto e o abraçou cruzando as mãos na sua cintura e se aproximando o máximo que podia enquanto ele suspirava.

Era ele mesmo. Não tinha como ser com outra pessoa. Ele era perfeito porque era o homem que entrou em crise com sua aparência na véspera do casamento e que buscou nela um conselho para isso.

E acreditou que eram essas pequenas coisas que provavam o amor.