Prólogo

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     Peter sonhava, sonhava com cobertores grossos e quentes, sonhava com uma lareira. Acima de si estrelas penduradas por um fio rodopiavam de um jeito que provavelmente o deixava estrábico enquanto tentava acompanhar os movimentos. Notou também que seu corpo se arrepiou totalmente ao ouvir uma voz feminina. Uma voz adulta, que logo fora seguida de uma mais grave e profunda. Pai?, pensou o menino, mas tratou de empurrar esse pensamento para longe, não precisava de seus pais, deveria esquecê-los totalmente como Sombra dizia. O que pais podem fazer por você afinal? Questionava o garoto louro. Querem te controlar sempre! Esperando que os filhos cresçam para ganhar dinheiro e mais dinheiro, ficando enfurnado em um escritório pequeno e abafado!

     E em um rápido movimento tratou de se levantar e pular daquela cama do jeito mais atrapalhado possível, enquanto finalizava com uma estranha cambalhota. Mesmo com todos aqueles movimentos os adultos nem mesmo olharam para ele, era como se não estivesse ali, até se aproximou da mulher, que tinha os cabelos louros como os seus, mas os olhos escuros como a terra. Os cabelos longos eram presos em uma trança e o olhar pesava para a cama, como o sorriso. "Talvez ele seja um poeta", dissera ela um pouco mais alto. "isso não dá dinheiro!", a voz grave respondeu de outro cômodo. "Um banqueiro seria melhor! Até mesmo um contador" continuou o homem. "Peter não precisa disso... Ele tem que escolher o que lhe faz feliz. Talvez um professor, ele pode se casar e ter uma filha.", aquele assunto o fazia ter um enjôo gigante, filhos? Trabalhos? Dinheiro? Não! Peter não esperou, tratou de se aproximar da janela o mais rápido possível, a abrindo com força e pulando de lá. Aquele não era seu lugar, nunca seria.

     Ao pular pareceu que o mundo resolveu dar uma cambalhota, que acabou o levando de volta ao parapeito daquela janela, que ainda estava aberta. Seu antigo quarto estava totalmente iluminado, mas não se atreveu a entrar, pelo contrario, segurou com mais força o punhal que mantinha em sua cintura.

     – Peter? – sussurrou a voz daquela mulher, no canto do quarto em uma cadeira de balanço. Os olhos estavam fechados e mais uma vez o rosto do menino se contorceu ao ver que agora, ela parecia mais velha.

     – Ahn... Constatado! Ela esta sonhando dentro do meu sonho. – se atreveu a por a pontinha do pé para dentro, engolindo seco soltou o punhal e se aproximou. Abriu a mão e ficou a passando em frente aos olhos da mulher. – Você não parece um sonho... – deu de ombros e se virou.

     Claro que tinha curiosidade, mas o Sombra avisou sobre aquilo, era um golpe, pra fazer com que você voltasse para eles e crescesse, parasse de brincar e começasse a amar regras e a dormir cedo. Um choro invadiu o quarto, era tão estridente que o garoto imaginou seus ouvidos explodindo, mas quando olhou na direção do choro, quando olhou na direção de sua antiga cama, foi como se um raio gigantesco o atingisse. Uma pequena garota estava ali, chorando enquanto olhava paras as estrelas que dançavam acima de sua pequenina cabeça. Antes mesmo que Peter fizesse qualquer outra coisa, sentiu algo bicando sua cabeça. E finalmente, ele havia acordado.

Relógio Azul - A Sombra e a Terra do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora