Sessão de Terapia

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"Eu... Não sei o que anda acontecendo comigo. Tem horas que faço coisas horríveis e não me dou conta. Eu recentemente tive um ex-filho como paciente, e..."

"Um ex-filho? Como é isso?"

"Quando ele era criança eu o adotei, porém a adoção não deu certo, em questões de relação familiar e comportamento."

"Em vinte anos que te conheço, e nos tempos que tomamos café da manhã juntos e conversamos aos domingos na sua casa de praia, você nunca me contou sobre isso."

"Eu devo ter lhe contado, porém você não lembra."

"Não mesmo. Eu conheço você, a sua vida e jamais vi essa criança, que pelo você contestou já está adulto. Ficou com está criança durante quanto tempo?"

"Cerca de um ano."

"Em que ano?"

"Novembro de 2001 até Novembro de 2002."

"Agora pode continuar contando o que está acontecendo. Você está aqui como meu paciente, e quero entender o por quê."

"E as coisas que ele fez comigo foram terríveis. Ele implantou idéias hediondas em minha cabeça, implantou dúvida."

" Por que? Depois de tanto tempo, ele faria isso com você?"

"Não sei. Apenas sei que desde então, coisas vem acontecendo. Ontem por exemplo eu estava jantando com minha esposa, e comecei a ver ela sangrando com uma bala na cabeça."

"Alucinação. Não é comum."

"Eu vejo sombras, não necessariamente sombras, mas vejo a sombra que refletia dele no consultório em outros locais da minha casa. E as vezes em formas diferentes."

"Você é uma pessoa tão profissional no que faz, nunca precisou se abrir com ninguém. Já ouviu coisas que eu não aguentaria ouvir. E pela primeira vez, está sendo afetado por isso."

"Eu não sei o que está acontecendo, mas sabemos que deve existir explicação lógica para as alucinações. Uma doença."

" Só pode ser uma doença. Aconteceu alguma outra coisa esses dias?"

"Está madrugada minha esposa disse que eu estava andando sozinho em círculos pelo quintal, completamente nu."

"Sentiu febre?"

"Não."

"Estranho."

"Mas, sinceramente não vim até aqui pra isso. Vim pra saber se você pode guardar segredo sobre uma coisa realmente importante pra mim."

"Guardar um segredo?"

"Sim... Eu... Fiz coisas com meus pacientes, horríveis... Eu os aconselhava a se matarem, a resolver certos assuntos com as próprias mãos. Por diversão, e agora isso tem me feito mal, e acho que as alucinações e o sonambulismo é a culpa caindo sobre meus ombros."

"Agora eu já sei o que se passa aqui. Você se divertia com essas pessoas, porém você começou a se entediar, criou esse alter-ego que você diz ser seu ex-filho."

"Não doutora. Meu ex-pai não está maluco. Ou devo continuar chamando-o de Pai?"

"Quem é você?"

"Digamos doutora, que esse é meu ex-filho..."

"Cujo você não lembra, por que estava ocupada demais para perceber a existência de uma criança dentro daquela casa... Isto aqui é uma grande palhaçada, mas é divertido fazer ele ficar neste estado. Lembra daquela paciente Pai? Aquela que afogou os próprios filhos e depois deu um tiro na própria cabeça, tudo por que você disse "faça o que achar certo." E então ela o fez."

"E o que você faz aqui rapaz? Está é uma consulta particular. Ele está com problemas sérios de alucinação."

"Não mais. Agora é uma sessão de terapia. E o que ele tem doutora, não é uma doença, é a culpa, o passado vindo acertar as contas, punir ele."

"Como pode ter tanta certeza? Conheço ele há 20 anos, ele não é esse tipo de pessoa."

"Doutora, você lê os jornais?"

"Frequentemente."

"Lê a sessão de obituários?"

"Não."

"Então passe a ler. Pois este homem que está aqui é realmente brilhante, e eu quero voltar a ser filho dele, por que ter um pai tão... Inteligente, é muito bom."

"Eu não sou inteligente, e não quero você como filho, eu não durmo direito, tenho alucinações, sonambulismo, e antes de você reaparecer na minha vida, eu não precisava nem mesmo frequentar um psicólogo."

"Que pena dele gente. Acho que já vou indo embora. Isso aqui ficou... CHATO!"

"Não acredite nele, eu não sei por que isso está acontecendo comigo. Mas, acredita agora que tive um filho?"

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