Capítulo 1

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Zeus

Mesmo de olhos fechados, em uma sala vazia, no silêncio da minha minha mente somente consigo sentir medo. Ele corre em minhas veias como fogo, queimando minhas entranhas, quero com todas as minhas forças parar de sentir, parar de sentir qualquer coisa, na verdade. Aperto meus olhos com força, não quero abri-los, não quero ver o mundo decadente ao meu redor, cansei dessa dor. Lágrimas escorrem dos meus olhos, escorrendo lentamente por meu rosto.

Enfim, abro meus olhos lentamente,  minha visão turva devido as lágrimas que teimam em me escapar. A que ponto cheguei, chorar nunca foi uma possibilidade, sentir medo nunca seria aceitável, mas sinto que sou outra criatura, não sou mais o Deus retratado nas pinturas. Cada dia me pareço mais humano, as feições jovens e fortes não estão mais em meu corpo, em seu lugar estão cabelos e barba brancos como as nuvens do céu, onde havia músculos firmes, agora há pele flácida e manchada, me sinto derrotado a cada segundo que passa.

Não posso demonstrar a fraqueza que sinto em minha alma e ossos, tenho uma família para ajudar afinal de contas, não posso desapontá-los, tenho que protegê-los, tenho que ser melhor que meu pai, tenho que ganhar. 

- Zeus? – escuto a voz de Hera preencher a sala do trono, me puxando de volta dos meus pensamentos. Viro meu rosto e o seco antes que ela possa ver as lágrimas.

- O que quer? Diga, mulher – falo ainda sem olhar em seu rosto, minhas palavras saem com um completo tom de desdém e autoridade.

- Vim informar que já está tudo pronto para a cerimônia, meu amor – o som de sua voz expressa tristeza enquanto fala.

- Nunca mais me chame assim, você não tem esse direito - me viro rapidamente em sua direção, gritando com fúria.

- Já irei me juntar a eles, agora apenas saia da minha frente – digo levantando do trono, me aproximando dela o suficiente para sentir o seu cheiro. Aponto para a porta, enquanto vejo em seus olhos verdes os sinais da velhice humana.

- Tudo bem, estamos aguardando – fala olhando em meus olhos, seu olhar fraternal quase me faz ceder e pedir desculpas, seu feitiço sobre mim é forte, meu coração a quer, mas não irei esquecer o que ela fez, não posso.

- Saia! - estufo o peito e aponto novamente para a porta. Hera se vira e sai lentamente da sala, escuto o som de sua respiração ecoando enquanto se dirige a porta, fico apenas olhando seus pés descalços deixando pequenas marcas no chão.

Respiro fundo, não posso deixar ninguém perceber que estou fraco ou que sinto medo, não posso recuar, tenho que ser quem sempre fui, o alicerce de todos, o senhor dos Deuses. Me viro para olhar a sala ao meu redor, que, assim como eu, como o próprio Olimpo, está longe de sua glória, um eco de tempos áureos, a visão de Sirvat foi há 40 anos, tudo aconteceu rapidamente desde então.

Pego meu raio mestre, olhando seu brilho fraco, nunca o senti tão pesado como hoje, começo a tossir, meus pulmões queimam, sinto falta de ser Zeus, o verdadeiro. Corrijo a postura e sigo para o salão principal.

- Vamos começar! – fala Atena quando entro no salão, de forma forte e precisa, seus cabelos castanhos estão presos em uma trança, seu rosto parece cansado, mas sua alma ainda vibra vitalidade, suas vestes são brancas, como a de todos do recinto.

Estamos todos em pé em volta de uma pequena esfera que está no chão, de mãos dadas. Tomando a iniciativa, falo:

- Vamos logo com isso, resta pouco tempo agora. Cada um de nós doará parte de seus poderes, para que possamos ter uma chance de salvar a terra e todos que lá habitam. Falem seus nomes e toquem na esfera.

Os Elementares e as chaves do poderOnde histórias criam vida. Descubra agora