Capítulo 3

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(São Paulo, Brasil. )

Dmitri 

(Som de alarme) 

Levanto a cabeça da mesa rapidamente, ainda sem entender o que está acontecendo, minha visão está turva e meu rosto marcado pelos aspirais do caderno, olho para os lados rapidamente tentando me lembrar onde estou. Em volta da sala de aula, ainda com a vista embaçada, vejo todos me olhando sorrindo.

- Estava bom o soninho? - Pergunta Rick se levantando de sua carteira, enquanto sorrio, desconcertado.

- Te respondo quando minha alma voltar para o corpo – respondo, enquanto guardo meu material dentro da mochila.

- Cara você está se matando, tem que relaxar mais, é nosso último ano aqui, aproveita - Rick fala, sacudindo meus ombros calmamente.

- Eu sou relaxado, só estou cansado - Rick me olha, enquanto levanta a sobrancelha, fazendo uma cara de deboche.

- Ah, claro! Você só estuda, quando foi a última vez que saiu com uma mina? - pergunta enquanto caminhamos pelo corredor central. Fico olhando para o portão de saída, fingindo não ouvir.

- Tenho mais o que fazer– falo, me esquivando dessa conversa.

- Mano, olha como sou feliz, tenho uma mina super gata, na verdade a mais gata de todas, e, de quebra, tiro boas notas, além de ser gostosão, se eu consigo, você também - fala se colocando na minha frente impedindo a passagem. Fico parado no meio do corredor olhando para seu rosto, seus olhos azuis quase brilham enquanto fala.

- Do que adianta ser a mais gata se é grossa e mal educada com as pessoas? Eu te respondo, nada, ela é feia por dentro - falo desviando dele e seguindo para o portão de saída.

- Iskra, não fala assim dela, você só não conhece ela bem. Tô dizendo, ela é maravilhosa - Rick fala, caminhando rápido para me acompanhar.

- Você nunca vai parar de me chamar assim né? - falo sem olhar para trás.

- Eu sei que você me ama - Viro para responder, quando Luana aparece e o abraça por trás.

- Eu também te amo, meu coalinha! - Diz Luana, enquanto beija o rosto de Rick inteiro. Revirando os olhos, apenas aceno dando tchau e sigo saindo pelo portão. Coloco meus fones, escolho uma música qualquer e me isolo do mundo.

A vida não foi feita para ser fácil, ainda mais para pessoas como eu. Estudo todos os dias para passar no Enem com uma boa nota e conseguir entrar em uma ótima faculdade, quero dar orgulho pra minha mãe, ser o filho que ela merece.

Dona Sheila me criou praticamente sozinha em um país em que não é fácil ser mulher, mas, mesmo com todos os revezes da vida, ela sempre está sorrindo, animada, me orgulho de ser filho dela. Quando penso na minha história, não fico triste por não termos dinheiro, claro, ter facilitaria tudo, mas a falta dele nunca foi um empecilho muito grande. Moro com minha mãe, vó e tia, e sempre conseguimos nos virar bem com o que temos.

Caminho rapidamente pela calçada, acompanhando o ritmo da música, acelerando ou diminuindo conforme a batida, é algo bobo, eu sei, mas não consigo não fazer isso. Na metade do caminho, vejo minha mãe descer do ônibus carregando uma bolsa enorme, e pelo tamanho da bolsa, deve estar voltando do trabalho, essa mulher é incansável, não para um segundo. Corro pela calçada para alcançar ela.

- Mãe! – grito, ainda distante, mas consigo chamar sua atenção, ela rapidamente se vira procurando de onde vem o som, seguro as alças da mochila, olho para o farol de pedestre que está, no final da avenida, ficando verde, e corro o mais rápido que meus cambitos secos conseguem, consigo atravessar no último segundo, chegando até ela.

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⏰ Última atualização: Aug 29, 2020 ⏰

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