Aos poucos a brisa leve de outono contaminava o ambiente, a casa não era muito grande, na verdade, tinha apenas três cômodos. Suas paredes, sem exceção, eram todas esverdeadas e claras, lembravam-me maresia. Não me recordo de muita coisa, a minha infância é um borrão em minha cabeça. Eu nem sabia como tinha chegado aqui. Os finos grãos de areia estavam espalhados pelo chão amadeirado e, em alguns pontos, concentrados e impregnados junto com o sal que provinha do oceano.
Como fugitiva, nada tinha além da roupa do corpo. Minhas chinelas tinham sido abandonadas no meio do percurso e eu pisava no assoalho que se encontrava rançoso, devido ao longo tempo de esquecimento. Os móveis eram velhos, anos noventa ainda, e nos eletrodomésticos a cor da oxidação era o tom predominante. Toquei levemente o centro da minha nuca que ardia vorazmente e ao trazer novamente a mão para o alcance da minha vista pude notar que havia resquícios de sangue.
Eu tinha acordado pela primeira vez há dois dias, no meio daquela pequena casa de praia, mas não tivera forças para levantar-me. A única coisa que sabia era que estava viva e que sentia muita dor. No começo, pensei ter sido sequestrada, entretanto, eu não estava amarrada e não havia na casa qualquer vestígio de outra presença, quer fosse animal ou humana, recente ou antiga.
Aos poucos alguns flashes me vinham a cabeça, lembrava-me de uma grande tempestade e de uma voz feminina que me alertava incessantemente a não acreditar em ninguém. Eu não sabia o meu nome ou que estava fazendo ali. Dei uma olhada por todo o ambiente novamente só para constatar através da poeira, da ferrugem e da falta de objetos pessoais o abandono daquele imóvel. Meu estômago roncou e minhas pernas bambearam quando tentei me levantar.
O "quarto" era em um falso andar acima da sala, a sala e a cozinha eram divididas pelas costas de um sofá de três lugares antigo. O espaço do quarto tinha apenas uma cama e uma pequena cômoda, a parte de cima do armário da sala servia como escada para o quarto. A sala consistia num sofá de três lugares, numa poltrona larga e no armário. A cozinha tinha uma pia, um outro armário, um fogão, uma geladeira e uma mesa de quatro lugares. Havia uma porta entre a cozinha e a sala, que eu descobriria depois ser o banheiro. Existia somente uma porta de entrada e saída e essa ficava na sala. A casa tinha um formato quadrado e era espaçosa, mesmo com os poucos móveis e cômodos.
Eu estava tonta e a ideia de descer o armário/escada não me era muito convidativa, pois não havia nenhum corrimão em que eu pudesse me apoiar. As janelas estavam fechadas e ali dentro estaria escuro se não fosse por um pequeno abajur ligado que estava em uma das divisórias do armário da sala. Eu não sabia se era dia ou noite, se alguém tinha me levado até ali ou se eu tinha invadido.
Enquanto eu me levantava da cama, ouvi um barulho vindo da porta. Parecia que alguém estava forçando uma chave para abri-la. Eu estava perdida! O que eu iria dizer? Como explicar? Eu nem sabia qual era o meu nome e as coisas pareciam estar ficando mais confusas. Decidi que a cama não era o melhor lugar para ser encontrada. Ignorei a minha fraqueza e desci as escadas rapidamente. Por mais que minhas pernas bambeassem e eu mal tivesse forças para ficar em pé, por mais que minha cabeça latejasse, eu estava andando de um lado para o outro na sala.
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Maresia
FantasyCorra! Corra! Voe, vá mais rápido. O que faria se essas fossem as únicas palavras que circundassem a sua mente? Obedecer o instinto ou a razão? Já tentou acompanhar seus passos mas eles se moviam por contra própria? Sua existência é um erro! Tudo o...