Quando você voltar

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Igor havia acabado de raspar o cabelo quando ouviu duas pessoas conversando no corredor, uma voz ele reconheceu, era Joana, a dona da pensão, a outra voz de mulher ele nunca escutou. Provavelmente uma nova hospede. Sem se importar muito, tomou banho e foi direto para o quarto onde ficou até a hora do jantar. Uma das regras da pensão era que todos os hospedes tinham que fazer as refeições na mesa. Enquanto descia as escadas Igor conseguia escutar Carmen e Joana conversando.

“Boa noite.” Ele falou se sentando na cadeira.

“Achei que estava morto, não saiu daquele quarto. O dia estava tão bonito.” Não fazia nem um ano que Igor havia se mudado para São Paulo e nesse tempo o seu relacionamento com Joana era de avó e neto, Carmen em alguns momentos era a tia.

“Faculdade está me matando.” Ele respondeu e pegou um prato. “Cadê o Marcos?”

“Foi passear com o Pingo.” Dessa vez foi Carmen que respondeu. O cachorro era praticamente de todos os moradores da pensão, mas como foi Marcos que achou na rua ele que cuidava mais.

“A hospede nova falou que ia chegar tarde.” Joana se sentou na cadeira.

“Então realmente era uma hospede.” Igor estava checando seu e-mail no celular.

“Sim, também veio aqui para estudar.”

“Bacana.”

Marcos chegou do passeio e os quatro jantaram juntos, depois Carmen foi para o quintal fumar e os três foram para sala assistir televisão, pingo subiu no sofá e ficou deitado ao lado de Igor.

* * *

“Pode deixar aberto!” A hospede gritou da porta.

Aquela era a primeira vez que eles estavam se vendo, ela estava usando um tênis branco, mas alguém tinha desenhado nele, um short jeans, uma camisa branca com estampa de flores, o cabelo preto e longo estava solto, uma mochila nas costas e alguns livros na mão. Igor estava de tênis, calça e camisa do seu curso de música.

“Prazer em te conhecer...” Ele começou a falar, mas parou quando percebeu que não sabia o nome dela.

“Debora.” Ela completou e os dois riram.

“Prazer, Igor.”

“Prazer. Está indo para a faculdade?”

“Sim, professor faltou então estou indo mais tarde.”

“Isso explica o motivo de nunca ter te visto antes, você sai mais cedo.”

“Sim, quer ajuda com esses livros? São muitos.”

“Não precisa, consigo me virar.” Essa frase teria alguma credibilidade se ela não tivesse perdido o equilibro no mesmo segundo e quase derrubado tudo.

“Acho que precisa.” Ele riu.

“Não é incomodo?”

“Nenhum.” Ela entregou alguns livros para ele.

A faculdade não era longe, então os dois estavam andando até lá.

“Qual seu curso?” Igor perguntou, tentando quebra o silêncio desconfortável.

“Artes.”

“Legal.” Os dois ficaram em silêncio novamente “Você é boa?”

“Acho que sim.” Ela parecia um pouco ofendida, mas no fundo gostou da audácia da perguntar. “Eu que pintei as flores nessa camisa.”

“Uau. Você é realmente boa.”

“Obrigado, qual o seu?”

“Música.”

Ponto de EncontroWhere stories live. Discover now