Explosão de Cores

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"Preciso de mais." Reclamava Bakugo partindo dois lápis ao meio com as mãos.

Soltou um longo suspiro tentando não chorar... Não na frente de Todoroki, que o encarava sentado em sua cama, com um olhar carinhoso e compreensivo.

"Você se esforça tanto, Katsuki..." falou se aproximando da fera e colocando sua mão sob a dele, num ato de "estou aqui para você...".

"Eu não acho." Rebateu com fúria.

Seus pulsos doíam de tanto esfregar com fúria na tela, haviam calos em suas mãos de tanto partir pincéis, fisicamente cansado de pintar, mas sua mente o levava a mil.

"Acho que..." Todoroki sabia que naquela altura, dar uma opinião para o loiro era como desafiar a morte. "... se você fizesse com um pouco mais de calma e delicadeza..."

"Eu só... preciso de mais..."

Fixou o olhar em todo o seu material. Sentiu seu corpo inteiro formigar, e dessa vez não era de raiva. Sabia o que fazer naquele momento. Seu humor mudou tão repentinamente que chegará a ficar tonto. Sentia todos os hormônios correndo juntos em si, a adrenalina o deixando excitado, os níveis de dopamina baixando bruscamente e serotonina e oxitocina dançando um samba em si.

Inspiração, inspiração, inspiração.

Não ligando, mais para Todoroki, soltou lágrimas "doces", lágrimas de alegria. Pela primeira vez em muito tempo, se sentia verdadeiramente inspirado.

...

"Se sente melhor?" Perguntava Iida docemente. Izuku assentiu levemente, com a cabeça em seu colo.

"Da próxima vez que sairmos... vamos à noite... tudo bem pra você?". Uraraka soava esperançosa. "Podemos até... ir em algum lugar que você goste."

Midoriya não gostava de muitos locais, na verdade, não gostava de quase nada que não fosse seu quarto ou sua sala de estar.

"Aquela pracinha..." mentiu. Ochako lhe lançou um olhar de espanto, algo como "Então você realmente gostou de lá?".

"É um dos meus lugares favoritos na cidade." Acrescentou Iida, afagando levemente as verdes madeixas do amigo.

"Já que hoje você foi um garoto muito corajoso... farei seu prato favorito." Uraraka se levantou e piscou para Midoriya.

Izuku odiava o fato de seus amigos o tratarem como uma criança, parecendo ter cuidado com as palavras, como se ele fosse frágil e sensível. Era constrangedor, é a última coisa que este era, era frágil. Sensível até que poderia cogitar, mas frágil? logo ele que aguentara tanta coisa... Porém, sabia que seus amigos o tratavam assim porque o amavam. Fechou os olhos engolindo seu pequeno desgosto e focando no carinho das pessoas a sua volta... principalmente no cafuné gostoso que Iida fazia.

"Eu ronronaria se fosse um gato". Deu um riso leve com esse pensamento e repentinamente lembrou do elogio que indiretamente recebera naquele dia "Meu amigo... ele achou o garoto de cabelos verdes... bonito...".

Ainda pensava se era algum desafio adolescente idiota ou algo do tipo. Abriu os olhos verdes mirando na TV, onde passava um noticiário chato falando de política ou algo assim. Iida gostava desse tipo de programa, mas Midoriya não entendia nada. Ao perceber que o mesmo estava olhando a TV com uma cara retorcida de "não estou entendendo droga nenhuma", Iida mudou para um canal de comédia, tirando um sorriso leve do menor.

O cheiro vindo da cozinha era tão bom... E naquele momento, Midoriya sentiu-se amado.

...

Bakugo misturava tudo, numa explosão de cores. Praticamente atirava as tintas na tela, sem se importar o mínimo com combinações de cores ou tonalidades. No meio dessa bagunça, havia apenas um pequeno esboço de um garoto pequeno de vários tons de verde, com um fundo estourado de cores vividas que escorriam da tela para o chão. Usava de tudo, pincéis, lápis de cor, lápis de escrever, até mesmo tirara uma foto de vários ângulos da pintura. Pintava com carvão, com força, com raiva, com ânimo, excitado com a adrenalina.

Todoroki apenas observava tudo, assustado e preocupado com a saúde mental do amigo. Mas ele parecia... feliz? Então resolveu deixá-lo em seu momento, continuou apenas arrumando as coisas, como se não tivesse um monstro artístico atrás de si.

Bakugo ria loucamente enquanto pintava.

...

Todoroki suspirou fundo. O loiro balançava freneticamente os pés num ato impaciente e brincando com o cigarro entre os lábios de uma forma fofa. Shouto segurava com força o quadro, embrulhado num barulhento papel celofane.

"Quais as chances deles estarem aqui novamente?" Perguntou o meio-a-meio incomodado.

"O cara falou que vinham de vez em quando, não falou? Qual a outra alternativa? Sair pelas ruas de Paris à procura de um garoto de cabelos verdes? Que nem sabemos o nome direito?". Bakugo respondeu com monotonia na voz. Odiava esperar, mas realmente não tinha outra opção.

Todoroki fechou os olhos se recordando. "Midoriya... O garoto alto..." disse dando ênfase em 'garoto', repreendendo sutilmente o vocabular do amigo. "... eu ouvi ele dizendo."

Bakugo pendeu a cabeça levemente para o lado tentando entender o porquê da ênfase.

"Que seja. Eu preciso muito... da opinião dele... afinal, ele foi a minha inspiração, ou pelo menos contribuiu para ela. Preciso saber o que ele acha."

Todoroki deu um pequeno sorriso triste. Sabia que o problema do loiro se frustrar tanto era por uma necessidade absurda de aprovação social, medo do julgamento de outros em realção a sua arte. Mas pensava que devia deixá-lo descobrir sozinho, afinal, o mesmo não lhe daria ouvidos de qualquer forma.

Katsuki jogou o cigarro no chão, pisando em cima para apagá-lo. Ato constante.

"Já faz três dias que estamos vindo aqui direto... não acho que um raio vá cair duas vezes no mesmo lugar tão cedo, entende?" Todoroki fez um contato visual intenso.

"... você acha que eu deveria desistir? Digo... obviamente foi pintado por mãos maravilhosas como as minhas, mas ainda assim não sei... eu não quero parar." Katsuki alternava entre um falso orgulho e um medo real. Medo de não estar, não ser bom o suficiente.

"Desistir não... apenas..." Todoroki se aproximou mais, aprofundando aquele contato visual. "Dar uma pausa. Faça isso."

"Droga... odeio quando você faz isso..." Bakugou se afastou com um leve rubor nas bochechas e uma falsa cara de raiva.

"Não tenho culpa se esse é o único jeito de você me ouvir." Todoroki soltou uma leve risada que Bakugou logo acompanhou.

Olhou para o quadro embrulhado, pensando no que o garoto acharia daquilo...

Mas tinha certeza de que o mesmo ficaria um tanto enraivecido por Bakugo desobedecê-lo quando este lhe disse para não pintá-lo.

Sweet ArtOnde histórias criam vida. Descubra agora