Proposta

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O vento soprava forte naquela bela noite, onde o céu estava preenchido de lindos pontinhos brancos por toda Paris, tão calmo que até os olhos de Todoroki sentiram inveja. Katsuki estava louco, esgotado. Parado na frente de Midoriya, com olheiras enormes, roupas vestidas de qualquer jeito e cabelos emaranhados. Segurava, pelo menos, oito quadros em mãos. Todoroki se perguntava: Qual a diferença entre um artista e um louco? Qual a linha tênue que separa tal coisa?

Midoriya, encolhido, com suas pernas bambas, inquietas, recusou-se a olhar cada um dos quadros, cada versão de si mesmo. Iida, sentado ao seu lado, o protegendo como uma mãe, e Ochako falando por si, brigando, fazendo um escândalo, falando de processos. Deveriam deixar aquilo ir em frente? Afinal, já estava tudo tão ruim; deveriam jogar as coisas no ventilador e correr? Deveriam continuar deixando tudo fluir sozinho? Achou que a melhor coisa a fazer era arriscar um final melhor.

Midoriya se levantou e colocou uma mão tímida sobre o ombro de Ochako. "Posso resolver... dessa vez?" pediu. Midoriya apenas queria que aquilo acabasse logo. Se deixasse a garota gritar com o cara horas e horas, não ia adiantar nada; ele parecia determinado. E tinha certeza de que o loiro não sairia de lá tão cedo.

Midoriya inspirou, enchendo os pulmões de ar, tentando pegar consigo uma coragem que não tinha. Soltou o ar. "Eu fico muito bravo que tenha me pintado quando eu não queria. Eu realmente não sei o que você viu de especial em alguém como eu. A questão é que, eu reconheço que você é um excelente artista, dá para ver isso nos seus olhos. Mas eu não quero me ver, eu não quero saber o que você pensa sobre mim em forma de arte. Eu não quero ver nada de arte. Sou um fracassado frustrado. Não quero saber que tipo de coisas você fez; eu apenas não quero saber." Fechou os olhos com força. Nenhuma expressão, nada de raiva, nada de tristeza. Bakugou sorriu louco e se aproximou do garoto pequeno. Ochako e Iida ficaram atentos, como se algo ruim fosse acontecer. Todoroki apenas estava sentado, olhando para baixo ao longe, esperando tudo acabar.
 
 Bakugou se abaixou, se aproximou do ouvido de Midoriya e começou a sussurrar detalhes, os detalhes do maldito quadro. Ao menos o primeiro... Falou tudo que viu naqueles olhos, tristeza, falta de confiança, desprezo... Falou cada adjetivo, cada palavra com gosto.

"Então por que... fez tudo tão colorido? Tão... cheio de vida?" sussurrou Midoriya de volta, tímido, triste. Abriu os olhos marejados por saber que tudo o que o garoto lhe falou era nada mais que a verdade. "Porque achei que você ficaria melhor assim". - retrucou. Essas frases foram como um exorcismo para Bakugou; naquele momento, parecia que voltara a si. Percebeu que não queria mostrar os quadros; não queria essa louca aprovação; queria dizer aquelas palavras, aquelas belas palavras.

Se ajoelhou e pegou a mão do garoto de cabelos escuros e verdes. "Meu nome é Katsuki Bakugo e por favor... seja minha inspiração." Suplicou. Midoriya havia ficado curioso, conseguia imaginar cada pedacinho daquele quadro perfeitamente. Katsuki era um artista profundo, era disso que tinha medo, profundo até demais, era louco. Baixou o tom da voz para algo um pouco mais doce, porém ainda tímido, receoso.

 "Eu não gosto da ideia de alguém olhando meu interior dessa forma... Eu não tenho nada aqui, nada muito diferente ou mesmo bom." - Disse retirando a mão colocando sob o peito, abaixando a cabeça, elevando os níveis de Dopamina em si.

"Creio que um bom artista enxergue além do nevoeiro." Iida manifestou-se.

"EXATO". Katsuki exaltou-se. Seus olhos suplicavam por Midoriya, sua arte estava pedindo socorro há muito tempo, seu senso artístico gritava e suas mãos formigavam e dessa vez não ansiavam por quebrar alguma coisa. Sentia seu corpo todo vibrar.

"Eu não me sinto seguro para isso." Midoriya disse virando-se para Ochako.

 "Você quer? Quer que ele pinte você?" Perguntou a morena com cuidado.

"Não." Disse Katsuki puxando o "a" de uma forma descontraída e relaxada. "É muito mais do que apenas pintar, é apreciar.

"Você quer?" Perguntou novamente ignorando o loiro. Midoriya sempre fora apreciador da arte. Mesmo sem tê-la praticado. Apenas... queria se amar mais, se dar mais valor. Se as pessoas vissem um quadro seu... gostariam do que iam ver por trás daquilo? O nevoeiro? Seu estômago se retorceu ao pensar na ideia de sua imagem exposta assim. Não valia a pena se arriscar assim por um garoto qualquer que nem ao menos conhecia, mas ao mesmo tempo, queria saber o que Katsuki via, queria saber cada detalhe de cada outro quadro, cada versão de si, cada utopia... tudo.

 "Apenas me dê um tempo..." sua voz saiu como um miado.

"Para pensar sobre a proposta?" Disse Katsuki esperançoso.

"Não... Quer dizer, Talvez." Não era a resposta que Katsuki queria, mas era válida.

"Muito obrigado." Disse pensativo voltando para Todoroki ao longe.

Midoriya tinha a curiosidade de um gatinho, porém achava que não tinha nada em si para ser apreciado. Mesmo assim, se encantou com cada detalhe descrito do quadro, se encantou pela loucura nos olhos do artista e, por alguns segundos, até por si mesmo. Tinha medo de que alguém visse o quão podre era por dentro, o quanto deixava a desejar em tudo. A neblina em sua alma adentrando num abismo onde era para estar sua confiança.

Faria uma boa ação, ajudando aquela alma insana? Iida e Ochako achavam uma boa coisa. Queria incentivar o menor, porém tinham medo de lhe pressionar. Parecia que tudo estava acontecendo tão rápido que Midoriya, que sempre via o passar dos dias se arrastar hora por hora, se questionou sobre que rumo sua vida estava tomando.

"Você está ansioso, Katsuki?" Perguntava Todoroki com malícia.

"Ansioso? Fala sério... eu estou vibrando, sinto que poderia pintar mil e uma casas de mil e um jeitos e..." Como uma criança, Bakugou queria falar mais e mais, mas foi calado por um beijo repentino de Todoroki, que foi rapidamente retribuído.

Sweet ArtOnde histórias criam vida. Descubra agora