Fire

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Jungkook's P.O.V.

Procuro por nomes no computador, analiso centenas de nome e os estados das pessoas em questão de segundos. Logo escolho minha vítima. Vítimas, eu quis dizer. Minhas vítimas. Foi isso que quis dizer.

Lim Jaebeom:
24 anos. Solteiro. Mora num condomínio perto do centro.

Perfeito.

Quanto maior o estrago, melhor.

- Mãe, estou saindo. Não saia nem deixe ninguém entrar. — Tranco a porta, não me demorando muito a sair.

Nos fones, uma mulher conta com a voz embargada sobre um grande incêndio que acometeu o centro da cidade; exatamente 20 anos atrás. Antes mesmo de eu nascer. É como se fosse especialmente para mim.

7:49.

O horário martela na minha cabeça; foi quando tudo explodiu. Aperto o passo, não posso me atrasar.

Chego na frente do prédio. Contemplo seus 15 andares de glória em concreto e vidro. Em menos de meia hora, estará tudo em chamas, e o que não for cinza, vai despencar. Subo sorrindo e ajeitando o capuz, puxando o para frente, de uma forma que esconda meu rosto.

No corredor, à caminho do elevador, identifico o rosto de Jaebeom. Esbarro nele de propósito. Ele cai. Sorrio satisfeito mas desmancho tudo antes que possa ver minha expressão. Ajudo-o a levantar e em movimentos rápidos e leves, roubo suas chaves. Ele nem percebeu. Não vai perceber. Não vai sequer olhar para trás.

A segurança deste lugar é péssima. Mas eles não são bobos. Sinto que estão me vigiando e me atrevo a erguer um pouco os olhos, sem levantar o rosto, contando as câmeras, procurando por seu ponto cego. Passo calmamente pelos corredores vazios, cortando fios e desativando as câmeras por todo o andar, isso tudo sem tirar as mãos de dentro das luvas. Não sou burro muito menos idiota. Não sou um amador qualquer.

Quando me vejo finalmente no corredor que guarda a porta que abrirá com as minhas chaves, vejo de reflexo mais uma câmera. Me atento a passar por baixo dela sem fazer barulho algum. Puxo o cabo da tomada e abro a porta, entrando no apartamento.

Já são 7:39.

Encontro um isqueiro na bancada, coloco-o contra a luz para ver a quantidade daquele líquido mágico que há dentro dele. Sem demorar muito, calculo quanto tempo demorará para explodir, de acordo com o tanto do líquido. Coloco-o dentro do microondas, digito os números e vejo-o girando sob uma luz alaranjada dentro do microondas.

Percebo então que não estou sozinho, enfim. Conto até 3, algo cai no chão atrás de mim. Puxo a faca de dentro da calça e viro. Onde está? Não estou ficando louco, juro que ouvi algo! Baixo os olhos e me deparo com um gatinho. Parece assustado, os pelos ouriçados.

Guardo a faca com um sorriso e pego-o no colo, acariciando suas orelhas, que inclusive são de tons mais escuros que o resto do pelo, tal como seu focinho, suas patinhas e a ponta de sua peluda cauda.

- Qual o seu nome? Hum? Como se chama, gatinho ou gatinha?Sussurro procurando por qualquer identificação, qualquer coisa que diga seu nome. Encontro um pote de ração, nele vem escrito "Nora". — Nora? É esse seu nome? Vamos lá, Nora. Vamos sair antes que a gente se dê muito mal.

Saio do apartamento, encostando suavemente a porta, ainda com a gata no colo. Este andar parece quieto, deserto e vazio. Deve ser maravilhoso morar aqui.

Deveria.

Entro no elevador, encarando novamente os ponteiros. Na hora certa. "Três... Dois..." Sorrio. Ouve se o barulho da explosão devorando com fogo tudo o que tem no andar. Mas já estou saindo no 2º andar. Olho para cima, forçando uma expressão de falsa surpresa. Hora de atuar.

A fumaça do fogo que desce rapidamente pelas escadas faz arder meus olhos e me obriga a tossir algumas vezes, expelindo as cinzas.

Será que são de alguém? Ou algo?

Bato um pé no outro de propósito e caio no chão, esfregando a panturrilha. Talvez não seja mais atuação. Minha perna ainda está estranha. Levanto mancando e procuro por pessoas no corredor, bufando a cada virada vazia, sem ninguém desesperado. Tudo sob controle.

Até eu ouvir um alto "creck" acima de mim. Paro estático e ergo lentamente a cabeça, encontrando o teto rachado. Aperto Nora em meu colo, congelado. Tento sair mas graças à gravidade, o teto desabando é mais rápido do que eu.

Caio, dessa vez de verdade. Um dos pedaços flamejantes do teto cai em cima da minha perna. Solto um urro alto. Por quê? O que é isso? Que sensação estranha. O que será isso? Não faço ideia mas é insuportável.

Empurro o pedaço de cimento que ainda sustenta consigo algumas barras de ferro, agora tortas. Ofegante pelo esforço, levanto sem esquecer da gatinha e tento correr até o elevador, deixando um rastro de sangue por onde passo.

O prédio balança algumas vezes, forte o suficiente para uma delas me derrubar. Encosto as costas na parede, suspirando engasgado com a sensação do sangue se esvaindo de mim.

- Vá, gatinha. Salve-se, você ainda tem chance. Eu não tenho mais jeito — sorrio me dando por vencido. Sério, Jungkook? Vai acabar assim? É bem a sua cara mesmo.

Vejo tudo escurecer e apagar demasiado devagar. Se for para morrer, não dá para ser rápido? Rio da minha situação e jogo levemente a cabeça para o outro lado, fazendo com que os cabelos deixem de atrapalhar minha visão. Em pouco tempo, eles voltam, e com eles, está tudo mais escuro do que antes.

Ouço passos apressados e pesados pelo corredor. Certamente desesperado. Ergo o rosto, tentando ver seu desespero, aguardando com um sorriso no rosto, mas o mesmo se desfaz quando vejo quem é; um policial. Por quê?? Não podia ser um BOMBEIRO? Por que um POLICIAL? Só pode ser brincadeira.

Ele se aproxima e coloca dois dedos gelado no meu pescoço, checando o pulso.

- Ei! Eu ainda não morri... E não te dei permissão para mexer no meu pescoço! — Dou um tapa na mão dele, o olhando feio. Tal gesto o faz rir, revelando dois buraquinhos em suas bochechas.

De onde eles vieram? Não estavam aí antes. Juro que não. Vencido pela curiosidade, ergo uma mão suja de sangue até seu rosto e passo os dedos pela cavidade, me perguntando o que seria. Isso o Faz rir mais, deixando seja-lá-o-que-isso-for mais profundo. O encaro, perplexo, enquanto ele passa um braço por baixo do meu joelho e me levanta.

- Ai! Cuidado!

De onde isso veio? Por que "ai"? Que quer dizer "ai"? Onde ouvi isso? Foi uma reação involuntária? Acho que sim. Esfrego a perna, sujando mais minhas mãos de sangue.

Completamente zonzo, deixo encostar a cabeça em seu ombro enquanto não chegamos lá embaixo.

- Nora!! — Me desespero e tento loucamente descer. — Onde ela está? Onde ela foi? Aquela tola! Mandei-a fugir! — Me livro do moreno e saio correndo pelo corredor. Urrando e praguejando no caminho, mas vou.

Encontro-a encolhida no canto de uma parede. Reviro os olhos recolhendo-a do chão e volto mancando para onde deixei o policial. Ele me encara perplexo. Mostro a língua e me coloco à seu lado.

- Agora você pode me carregar — o encaro sério, com os olhos pesados e sonolentos. Sonolentos? Mas eu dormi bem... Talvez seja só a morte me pregando uma última pegadinha. Estou até delirando. Juro que vi um anjo vestido de policial.

Ouço novamente sua risada. Ele me segura novamente, apoiando meus joelhos. Tenho vontade de soca-lo. Poderia ter sido mais cuidadoso, como eu pedi algumas vezes.

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𝙷𝚘𝚠 𝙳𝚘𝚠𝚜 𝚝𝚑𝚎 𝙿𝚜𝚢𝚌𝚑𝚘 𝙼𝚒𝚗𝚍 𝚆𝚘𝚛𝚔 Onde histórias criam vida. Descubra agora