Cap. 19 - Tão macios quanto as nuvens que nunca toquei

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"Estávamos muito perto das estrelas, eu nunca conheci alguém como você, eu me vejo em você."
Isso é tão Solange!











Respiro fundo.
Acariciava minha barriga e lembrava do quanto eu menti a mim mesma, sobre o feliz final que eu teria.

Eu pensava agora em como mentíamos. Todos nós.

Minha filha era meu futuro reflexo.
Eu queria olhar para ela e me lembrar do quanto eu era como ela será. Expontânea.
Não quero que ela viva sobre opressão de ninguém. Quero que ela seja livre de fazer o que ela quiser. Quero a preparar para o mundo. Quero estar sempre lá para ela. Quero que Jake esteja sempre lá para ela também.

Até alguns segundos, eu estava perdendo a positividade. Pensava no quão duro seria trabalhar para sustenta-la. Tendo ainda dezassete anos.

Mas Yara me ajudou. Falou o quão bonito seria banhá-la pela primeira vez, sentir seu pesinho, senti-la nos meus braços... Yara me disse o quão gratificante seria ouvi-la me chamar de mamãe. Do quão bom era eu poder dizer a ela o que podia fazer quando chegasse à altura de escolher o que cursar.

Seria bom sentir seu aperto. O peso de sua voz pequena me chamar de mãe.

Valeria a pena cada centavo que eu gastaria por ela. Valeria a pena cada estrela que contaria por ela. Valeria a pena cada beijo dado em sua testa.

Eu entendi o que é ser mãe.

Contei também a Yara sobre meu vício. O que muito me preocupava. Estava sem usar drogas desde os quatro meses de gestação. Yara se orgulhou de mim. E me fez perceber o quão boa seria para minha filha.

Yara era uma mulher vivida. Eu não perguntei a sua idade, nem ela a minha, mas sabia que era. Ela me falava de sua filha. Que agora, teria dezassete anos. A minha idade. Mas morreu faz dois anos. Eu não perguntei de quê, achei indelicado. Ela disse o quanto sentia falta dela. O quanto ela queria abraçá-la. Mas que agora estaria em paz, e que agora ela agradecia a Deus por ter recebido ela.

Yara me ajudou. E isso tinha um preço, que não conseguiria pagar nunca.

Eu deixaria as drogas e viveria em paz com ela em México. Minha mãe era latina, e eu herdei sua nacionalidade. Era fácil chegar até lá.

E quando lá chegasse... Não pararia.

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Era a terceira vez que pegávamos um onibus. A terceira e a última.
Eu fechava os olhos, para visualizar cada memória minha na grande, porém, humilde casa de pedra da minha mãe. Onde ela vivia com sua mãe antes de se mudar. Elas faziam pequenas plantações de uva, e vendiam para uma pequena fábrica de vinho. Ela me levava para lá, quando era muito pequena. Brincávamos nas plantações e corríamos de alguns animais que haviam lá.

Eu sentia falta de minha mãe.

Abri os olhos, e respirei fundo, pela quinta vez. A movimentação de Jake me fez olhar para ele. Ele baixou-se, e eu me inclinei para ver o que ele queria pegar. Sorri ao perceber que ele tirou seu violão.

"Eu não vou tocar. Estou apenas limpando." Ele disse, sem olhar para mim. E eu revirei os olhos, cruzando os braços novamente.

"Vamos ficar aqui por um bom tempo. Já que obviamente o onibus não vai passar agora." Disse. Consigo ver ele abrir um sorriso. Ele estava adorando me ver com medo e tédio.

"Você é boa demais para ser verdade..." Jake começou, com uma nota suave. E carregada de emoção. Eu descansei meu rosto em uma de minhas mãos, e via a maneira que seus lábios se mexiam. "Não consigo tirar meus olhos de você." Ele falou mais uma vez. "Você seria como tocar o céu, Eu quero te abraçar tanto!" Ele aumenta a velocidade do violão e eu sorrio. Ele compôs? "Finalmente você chegou, e agradeço a Deus por estar vivo. Perdoe o jeito que eu te olho, não há nada a comparar! A visão de você me deixa fraco. Não há mais palavras a pra falar, mas se você sentir o que eu sinto... Por favor, me deixe saber que é real." Ele cantou, lindo e suave. Até levantar o olhar, e olhar para mim. Eu sorri envergonhada, corada, ele sorriu. Contavam-se às vezes que ele sorria. E daquela vez, ele sorriu emocionado. Eu amava cada sorriso que ele dava. Ele parou de tocar. E olhou fixamente para mim. Eu me senti invadida pelo seu olhar, era intenso e intimidante. Mas não queria que ele parasse de olhar na verdade. Eu queria que ele olhasse. Que ele olhasse e que cantasse mais.

"Porque parou Jake?" Perguntei. Senti seu toque quente na minha bochecha, seu polegar fazia carinho em minha pele gelada pela noite ventosa. "...Jake?"

"Sol..." Ele disse. Ele olhou para os meus lábios e depois para os meus olhos. E se aproximou de mim. "...Só.. deixa eu provar algo para mim mesmo."

Eu entrei em pânico.
Não seria meu primeiro beijo, mas quem disse que precisava ser?

"Jake... Você..." Disse mas parei. Senti seus lábios nos meus. Eu olhava para o nada, até fechar meus olhos e sentir melhor o beijo de Jake. Seus lábios, tão macios quanto um algodão. Tão quentes quanto o verão. Tão húmidos quanto o relvado após a chuva.

Você seria como tocar o céu.

Eu entendi a música de Jake. Eu escutava o som dos carros passando bem ao lado. O vento cantava sobre nós. Como se tudo fosse só nós. Por cinco meros segundos. De toque puro e macio.

Quando ele se afastou, eu senti a falta que fez o seu lábio inferior entre os meus lábios. Ele fazia eu querer abraçá-lo. Tal como na letra. Eu olharia para ele com outros olhos depois daquele dia. Eu sabia que o que Ryan me fazia sentir não se comparava ao que Jake me fazia sentir.

Eu não me importava em pensar quanto tempo duraria. Quão longe nós iríamos. Ou o quão errado fosse.
Eu pecaria ao beija-lo. E se aquilo fizesse de mim a pior das vadias... Então eu estava amando ser uma completa vadia.

"Não precisa me dizer nada, Sol." Ele diz sorrindo. "O facto de estar apaixonado por você não fará isso que construímos.." ele aponta para nós dois. "...mudar. Eu vou continuar te protegendo de tudo." Ele diz. "Você lembra de minha promessa, certo?" Ele perguntou e eu assenti. "Minha vida não existia mais. Não tinha motivos para ela existir. Era um corpo andante. Mas você chegou. E fez o que devia fazer Sol, iluminar meu caminho. Me mostrar o quanto eu podia aproveitar da vida. E mesmo que odiasse ver o que você estava fazendo... Eu amei você ter entrado em minha vida." Ele disse. Eu sorri. "Nada que possa passar por entre pulmão e peito, vai te atingir. Antes de me atingir." Ele disse e eu limpei a lágrima que estava prestes a sair.

"Você..." Começo, sem palavras. "Você está mesmo apaixonado por mim?" Pergunto e ele olha para mim quase que confuso por um segundo e depois ri fraco.

"Eu... não tinha deixado claro antes?" Ele questiona e eu sorrio.

"Você é a melhor pessoa que conheço." Disse e o abracei. Apertado. Não haviam palavras suficientes no dicionário que expressassem o quanto devia agradecer a Jake.

Ele deixou tudo que tinha por mim. Mesmo ele pensando que não tinha nada.


Ele era e ainda é a melhor coisa que me aconteceu.















[...]

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