Cap. 23 - O léxico de uma memória

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"Eu continuo a mesma criança assustada sem você.
Assombrada pelos fantasmas da lembrança. E só tenho ele. Eu só tenho ele."
- Solange C. Em Isso é tão Solange!













Alguns dias depois em 1994


Caminhar é uma obrigação humana.
Não importa se você não consegue, olhar para frente é uma obrigação.

Todos nós desejamos e procuramos por paz em nossa senescência. Se tomarmos as decisões certas, jamais nos arrependeremos de ter envelhecido.

Se você caminhar olhando para trás, nunca verá o que está pisando.

Eu nunca me importei muito com o passado, eu não tinha respostas suficientes para isso, mas o que encontrei... supera qualquer expectativas do passado que eu pudesse ter. E sinceramente, magoa.

"Sol!" Jake chama por mim do sótão. Eu baixo o lume do fogão e vou ao seu encontro. "Olhe o que encontrei..." Ele diz e eu olho atrapalhada para a confusão de coisas que estavam na caixa empoeirada.

Jake estava há algum tempo neste lugar, não sei exatamente o que ele procurava. Enquanto respirava, um monte de poeira veio ao meu nariz, me fazendo espirrar e tossir logo a seguir.

"Você está bem?" Ele pergunta é eu assinto, afastando a poeira com a minha mão.

"O que é?" Pergunto me aproximando e ele tira um dos jornais que estava na caixa. Eu olho confusa, até ver o que estava na página que Jake tinha aberto. "...Jake?" Murmurei a medo e confusão.

"A sua mãe... Ela era filha de um milionário?" Ele pergunta e olha para mim. Eu assinto. "Bom... Sua mãe estava viva há dois anos?" Ele pergunta mais uma vez e eu assinto. Eu tinha a certeza que sim, até a alguns meses ela abriu seus olhos. Estava melhorando. "Então porquê que seu pai deu uma entrevista dizendo que não?" Ele pergunta.

A sensação de aperto no estômago fazia-se presente naquele momento. Eu não conseguiria falar. Recebi o jornal de sua mão com pressa para ler o que meu pai disse a mais de dois anos. Ele disse que minha mãe estaria morta. Eu era a herdeira de tudo, porém, ele ficaria com meu dinheiro até eu alcançar a minha maioridade. Era injusto. Minha mãe não estava morta.

Agora... agora fazia sentido. Meu avô nunca aceitou meu pai. Não por racismo... meu pai trabalhava como seu jardineiro.

"Seu pai não para de me surpreender. É um besta filho da puta." Ele disse, mexendo mais nos papéis presentes na caixa, sempre com luvas. Ele tira algum tipo de ficheiro e depois de ler me entrega. "Seu pai é nojento Sol. Você sabe o que isso significa?" Ele pergunta revoltado. Eu derramo uma lágrima e rapidamente a limpo. "Não. Não chore por ele Sol. Eu não deixo você chorar por um desgraçado como ele!" Ele disse e me abraçou.

"Jake..." falei baixo, no seu abraço. "O que aconteceu com minha mãe?"


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"Mamãe..." Sol chamou. Ela olhou para ela. Seus olhos eram incrivelmente lindos. O tipo de verde que tirava o fôlego de qualquer um. Seu rosto era delicado, seu cabelo, apesar de loiro, era difícil de lidar e era cheio. Cheio como sua alma e sua personalidade. Era uma mulher decidida, nada a fazia mais feliz do que sua família. Sua pequena fazenda, que havia comprado com o dinheiro que lhe restava, era seu bem mais precioso, depois de sua filha. Ela gostava de encher sua pequena adega de vinhos, com os vinhos feitos das suas uvas. Não acreditando em mais nada além disso. "Quando eu puder estudar... Você vai me levar pra escola e depois vai me buscar?" Perguntou e ela sorriu triste.

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