Cap. 26 - Erros coloridos

63 22 10
                                    





















"Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei."
- Rabindranath Tagore, Isso é tão Solange!













Haverão dias que você não conseguirá falar.
Você simplesmente vai cansar de se mostrar forte, vai procurar um canto do seu quarto, e vai procurar se recarregar.

A vida é dura. É realmente difícil se adaptar às condições que ela nos dá. Começando por causarmos dor ao nascer, e ao morrer.
Quão complexo é? Se sentir perdido?
Você sabe explicar? Expor em palavras miúdas o que é se sentir encurralado?
Sem solução?
Sem ninguém?


Nunca fui a garota que mais sofreu no mundo, nunca fui a garota que mais chorou. Mas de uma coisa tenho a certeza: sempre fui a mais forte.

Se eu não fosse forte, não teria coragem de encontrar minha própria luz no buraco que eu mesma cavei.
Aprendi a sair do escuro sozinha, converti meus medos em minhas coragens e consegui. Hoje, posso dizer que sou vencedora. Sim. Consegui. Mas e antes?

Vencedores choram. Porque o facto não está em vencer. E sim em cair e levantar.
Clichê não é mesmo? Mas é isso aí.

Eu caí. Muito. Tive quedas realmente grandes. Mas sempre levantei e continuo levantando.

Até hoje, Olhando para elas, Eu me sinto uma verdadeira vencedora.

E naquele dia... Eu precisava pensar assim. E como precisava...




1 9 9 4




"Agora você pode me explicar que ceninha foi aquela?" Perguntou. "Jake!" Chamou e ele vira-se para ela. "Será que a gente pode conversar?"

"Sol... Eu não quero te chatear tá? Você está grávida e eu sei que estresse faz mal. Muito mal." Ele disse se aproximando dela para beijar a testa dela. "Vamos entrar?" Ele pergunta.

"Jake..." Chamou mais uma vez. "Eu devo me preocupar?" Ele olhou para ela e sorriu fraco. Negou com a cabeça e entrou na casa. Sol respirou fundo e entrou a seguir, fechando a porta atrás de si.

"Eu vou fazer o almoço, tá?" Jake falou indo para a cozinha e Sol concordou com ele, subindo as escadas. No topo da mesma, ela achou seu caderno marrom. Nele, ela se sentia mais perdida.

Demonstrava um tempo de mocidade, pois parece que ela perdeu tudo. Toda a alegria e o medo de ser jovem. Ela se sentia vazia e ao mesmo tempo sobrecarregada. Sol não sentia leveza em suas respirações, quanto menos em seus passos. Ela só sentia angústia, dor e culpa.

Ela se sentia nova demais para envelhecer.

A porta velha ao seu lado chamou a sua atenção. Havia linhas riscadas a carvão, marcadas pelo crescimento de uma garota assustada que pensava que não conseguiria viver sem a mãe. Sol se aproximou da porta e passou as pontas de seus dedos pelas linhas, lembrando de cada momento que passou com a sua mãe, enquanto riscavam a madeira pintada a branco da porta, rindo à medida que o corpo da menina crescia.

Desde que chegou na casa, há quase três meses, ela não teve coragem de entrar no seu quarto.

"Como sinto sua falta..." Ela murmurou. Se levantando, Sol respirou fundo e abriu a porta. Revelando o quarto amarelo com flores mal desenhadas - por ela. Ela sorriu. Como sua mãe deixava ela fazer isso?

Ela caminhou para dentro do quarto, sentindo na pele todas as vibrações que o quarto húmido trazia. Por um momento, ela jurava que conseguia escutar as risadas sapecas quando se escondia nas cortinas, fugindo de sua mãe. Por um momento, ela conseguiu sentir o calor do abraço da sua mãe e o calor de seu beijo na testa.

Derramando uma lágrima, ela sentou-se na cama e segurou a sua câmera fotográfica. Ela lembrava de tudo agora. Não era mais a menina que se perguntava. Ela saberia de tudo.

"Será que vou ser assim com ele?" Ela se questionou. Olhando para o espelho rosa que havia na parede a sua frente. "Eu não vou ser a mãe que você precisa. Eu sei." Ela disse, levantando a bainha de seu vestido, olhando para a região de seu ventre, que agora, se mostrava saliente. "Porque eu tenho que me sentir assim?" Ela se perguntou.

Você só... vai descansar mais. Vai estar mais leve. Bem mais leve. E... se me permite dizer... aceitar melhor sua gravidez. - Ela lembrava das palavras de Katie. Sol não era influenciável. Não tão facilmente. Mas dessa vez, Sol se sentia encurralada. Ela sentia raiva de si mesma, por não ter se prevenido, sentia raiva por não aceitar. Sentia raiva por não estar feliz.

Ela olhou para a sacola e abanou a cabeça. Não. Ela não precisava. Ou precisava?

Ela fazia a mesma pergunta mil vezes, ela não queria se sentir impotente. Ela só queria se sentir bem. E se aquilo a faria se sentir bem... Então ela tentaria.

Ela caminhou até a sacola e puxou o frasco de remédios da mesma.

"Só... hoje." Ela falou para si mesma, engolindo dois dos comprimidos de uma só vez. Bebendo a água que havia em sua garrafa. Ela respirava fundo, olhando seu reflexo no espelho. Sentindo um alívio passando por todo seu corpo. Ela sorriu. Havia dado certo. A angústia sumiu. A raiva sumiu. Ela se sentia leve. Ela gostou da sensação de não carregar nada consigo. Ela só queria se jogar na cama e dormir. Ela conseguiu o que, por muito tempo, não sentia: paz.















[...]

Isso é tão Solange! [NA AMAZON]Onde histórias criam vida. Descubra agora