Capítulo 4

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O despertador doeu minha cabeça assim que tocou, mais uma segunda-feira e hoje eu tinha que encarar uma aula de Julie, eu poderia reprovar por falta e isso realmente não poderia acontecer.

Cheguei mais uma vez atrasada, fui direto para a biblioteca, peguei um livro sobre medicina legal e fiquei lendo um pouco antes da aula, matei as duas primeiras aulas por conta do atraso e eu precisava me preparar psicologicamente para encarar Julie, eu sei que ela tentaria falar comigo assim que a aula acabasse, não que eu tivesse respostas prontas para o que ela me perguntasse, mas eu estava quebrada o suficiente para falar coisas rudes demais, então torci para que ela me ignorasse, assim como fiz com todas suas mensagens.

Eu sabia que estava errada, os pesadelos e minha ansiedade enfatizavam isso, eu poderia falar com ela e explicar tudo, eu sei que ela me entenderia, mas eu só preferi fazer como todos fizeram comigo: sumir. Ela não tinha feito nada, como ela pensava, eu só não conseguia continuar, eu tive medo das coisas darem errado se alguém da faculdade descobrisse e medo dela só se cansar de mim, sou 7 anos mais nova, ela poderia achar a diferença de idade uma coisa grande demais.

Assim que bateu o sinal, eu fui para sala com o livro em mãos, assim que entrei, Julie estava ligando o projetor e conectando seu notebook, sentei em meu lugar de sempre e a olhei, seus cabelos estavam presos e ela parecia abatida, usava uma calça preta de cintura alta com uma blusa florida, que deixavam seus braços a mostra, com algumas tatuagens que eu cansei de passar as mãos e a boca, nos pés usava uma bota de cano baixo, mas que tinha um pequeno salto.

Assim que ligou o que precisava, ela olhou para sala e pareceu perder o ar assim que me viu, ela piscou algumas vezes e pigarreou, chamou a atenção de alguns desatentos, mas a minha atenção ela tinha mais do que nunca. E então começou a aula.

[...]

Assim que a aula acabou, todos saíram da sala muito rápido, parecia até planejado, quando eu estava guardando minhas coisas, vi que Julie fechou a porta e veio em minha direção, meu coração pareceu pular no peito e eu nem sabia se conseguiria falar com ela agora e ela não ia querer uma conversa comprometedora em uma sala de aula.

- Então você decidiu aparecer? – ela cruzou seus braços e eu a olhei nos olhos. Os olhos verdes brilhavam e eu arriscaria de dizer que era por causa das lágrimas – eu nunca me envolvi com uma aluna antes, Hannah. Se eu coloquei em risco toda a minha carreira, acho que teve um motivo. Agora você pode me dizer do que porque sumiu e ignorou todas as vezes que tentei algum contato? Eu não quis ser louca ao ponto de chegar na porta do seu prédio e gritar seu nome.

- Você não vai querer ter essa conversa aqui – foi a única coisa que eu consegui dizer

Ela riu com sarcasmo e colocou suas mãos nos cabelos, o soltando do coque.

- Hannah, você me deixou sem resposta por dias, eu poderia ter essa conversa até no meio da rua! – ela bateu na mesa e eu dei um pulo. Eu não conseguia nem formar uma resposta decente.

- Nós podemos conversar na minha casa – engoli seco – eu posso te explicar tudo.

Peguei minhas coisas rapidamente e levantei, ela se afastou um pouco e assentiu, arrumando seu cabelo mais uma vez

- Estarei lá as 20h.

E então eu fui direto pra fora da sala, corri até o meu apartamento, estava ofegante quando cheguei ao elevador. Eu não sei nem o que ia fazer quando Julie chegasse, mas eu tinha tempo.

[...]

Faltava alguns minutos para Julie chegar e eu estava bem nervosa, eu tinha arrumado todo o apartamento e pedi comida tailandesa, ela tinha comentado que gostava, eu precisava agrada-la pelo menos um pouco, tinha cerveja na geladeira e eu tirei todos os vasos e copos que ela poderia jogar em mim caso as coisas ficassem feias demais.

Eu mergulhei em pensamentos, até que a campainha tocou. Era a hora. Respirei fundo e fui abrir a porta, encontrei uma Julie perfeitamente arrumada com uma calça jeans de cintura alta, com alguns rasgos que eu poderia ver a meia arrastão nos pequenos detalhes, coturnos, uma camisa branca e uma jaqueta de couro preta, ela parecia arrumada demais pra uma briga, dei passagem e ela entrou, ela ficava um pouco mais alta que eu nos saltos.

 Respirei fundo e fui abrir a porta, encontrei uma Julie perfeitamente arrumada com uma calça jeans de cintura alta, com alguns rasgos que eu poderia ver a meia arrastão nos pequenos detalhes, coturnos, uma camisa branca e uma jaqueta de couro pre...

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Eu estava simples, uma calça preta com um pequeno rasgo nos joelhos, um cropped listrado tomara que caia e chinelo nos pés. Ela deixou sua bolsa no pequeno aparador da sala e também tirou sua jaqueta, deixando-a junto com a bolsa, enfim ela me olhou, seu olhar me sustentou alguns segundos.

- Eu pedi comida tailandesa, você quer comer? – soltei antes que as coisas ficassem sérias demais.

- Eu prefiro conversar primeiro, se não se importar – ela mordeu os lábios, nervosa.

- Não, claro, tudo bem. – suspirei

- Bom, eu começo, já que quem quis se afastar de mim foi exatamente você, espero que tenha uma resposta convincente, senão a comida fica toda aí. – ela cruzou os braços e se encostrou no sofá.

- Você é minha professora, Julie. Eu gosto muito de você pra acabar com sua carreira desse jeito, já pensou no escândalo e o que aconteceria se descobrissem o que estávamos tendo? Eu perderia minha bolsa e você seu emprego, fora qualquer esperança de carreira que eu quero ter. Eu não poderia deixar isso acontecer – soltei de uma vez

E ela começou a rir. Sim, rir. Ela gargalhou alguns segundos.

- Hannah, eu vou falar só uma vez e eu vou falar bem calma, tudo bem? Pra você entender perfeitamente. – ela passou as mãos pelos cabelos e chegou perto de mim, meu coração acelerou – se eu escolhi ficar contigo, eu estou literalmente pouco me fodendo para os outros, no momento que ficamos juntas eu sabia o que eu queria, eu te beijei porque eu sabia o que eu queria, babe. Eu entendo seu lado, sua preocupação e tudo isso, mas deveria ter vindo falar comigo, eu te acalmaria e estaria tudo bem, entende? Hannah, eu largaria tanta coisa pra ficar só com você – ela sorriu e pegou minhas mãos, acariciando-as – não sei bem o que você fez pra eu ficar desse jeito, mas funcionou. Eu sei que nossa realidade é diferente e sem tantos privilégios, alem de sermos professora e aluna, somos duas mulheres e não é como se a sociedade aceitasse isso tão bem. Eu não quero brigar com você, nem gritar, nem nada. Eu só queria entender e expor o meu lado.

- Eu deveria ter ido falar com você, mas as coisas foram tão rápidas, que eu só quis fugir – mexi os ombros e ela me abraçou.

Comemos a comida tailandesa, bebemos cerveja e passamos a noite juntas. Finalmente sem brigas entre nós. 

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