O despertador doeu minha cabeça assim que tocou, mais uma segunda-feira e hoje eu tinha que encarar uma aula de Julie, eu poderia reprovar por falta e isso realmente não poderia acontecer.
Cheguei mais uma vez atrasada, fui direto para a biblioteca, peguei um livro sobre medicina legal e fiquei lendo um pouco antes da aula, matei as duas primeiras aulas por conta do atraso e eu precisava me preparar psicologicamente para encarar Julie, eu sei que ela tentaria falar comigo assim que a aula acabasse, não que eu tivesse respostas prontas para o que ela me perguntasse, mas eu estava quebrada o suficiente para falar coisas rudes demais, então torci para que ela me ignorasse, assim como fiz com todas suas mensagens.
Eu sabia que estava errada, os pesadelos e minha ansiedade enfatizavam isso, eu poderia falar com ela e explicar tudo, eu sei que ela me entenderia, mas eu só preferi fazer como todos fizeram comigo: sumir. Ela não tinha feito nada, como ela pensava, eu só não conseguia continuar, eu tive medo das coisas darem errado se alguém da faculdade descobrisse e medo dela só se cansar de mim, sou 7 anos mais nova, ela poderia achar a diferença de idade uma coisa grande demais.
Assim que bateu o sinal, eu fui para sala com o livro em mãos, assim que entrei, Julie estava ligando o projetor e conectando seu notebook, sentei em meu lugar de sempre e a olhei, seus cabelos estavam presos e ela parecia abatida, usava uma calça preta de cintura alta com uma blusa florida, que deixavam seus braços a mostra, com algumas tatuagens que eu cansei de passar as mãos e a boca, nos pés usava uma bota de cano baixo, mas que tinha um pequeno salto.
Assim que ligou o que precisava, ela olhou para sala e pareceu perder o ar assim que me viu, ela piscou algumas vezes e pigarreou, chamou a atenção de alguns desatentos, mas a minha atenção ela tinha mais do que nunca. E então começou a aula.
[...]
Assim que a aula acabou, todos saíram da sala muito rápido, parecia até planejado, quando eu estava guardando minhas coisas, vi que Julie fechou a porta e veio em minha direção, meu coração pareceu pular no peito e eu nem sabia se conseguiria falar com ela agora e ela não ia querer uma conversa comprometedora em uma sala de aula.
- Então você decidiu aparecer? – ela cruzou seus braços e eu a olhei nos olhos. Os olhos verdes brilhavam e eu arriscaria de dizer que era por causa das lágrimas – eu nunca me envolvi com uma aluna antes, Hannah. Se eu coloquei em risco toda a minha carreira, acho que teve um motivo. Agora você pode me dizer do que porque sumiu e ignorou todas as vezes que tentei algum contato? Eu não quis ser louca ao ponto de chegar na porta do seu prédio e gritar seu nome.
- Você não vai querer ter essa conversa aqui – foi a única coisa que eu consegui dizer
Ela riu com sarcasmo e colocou suas mãos nos cabelos, o soltando do coque.
- Hannah, você me deixou sem resposta por dias, eu poderia ter essa conversa até no meio da rua! – ela bateu na mesa e eu dei um pulo. Eu não conseguia nem formar uma resposta decente.
- Nós podemos conversar na minha casa – engoli seco – eu posso te explicar tudo.
Peguei minhas coisas rapidamente e levantei, ela se afastou um pouco e assentiu, arrumando seu cabelo mais uma vez
- Estarei lá as 20h.
E então eu fui direto pra fora da sala, corri até o meu apartamento, estava ofegante quando cheguei ao elevador. Eu não sei nem o que ia fazer quando Julie chegasse, mas eu tinha tempo.
[...]
Faltava alguns minutos para Julie chegar e eu estava bem nervosa, eu tinha arrumado todo o apartamento e pedi comida tailandesa, ela tinha comentado que gostava, eu precisava agrada-la pelo menos um pouco, tinha cerveja na geladeira e eu tirei todos os vasos e copos que ela poderia jogar em mim caso as coisas ficassem feias demais.
Eu mergulhei em pensamentos, até que a campainha tocou. Era a hora. Respirei fundo e fui abrir a porta, encontrei uma Julie perfeitamente arrumada com uma calça jeans de cintura alta, com alguns rasgos que eu poderia ver a meia arrastão nos pequenos detalhes, coturnos, uma camisa branca e uma jaqueta de couro preta, ela parecia arrumada demais pra uma briga, dei passagem e ela entrou, ela ficava um pouco mais alta que eu nos saltos.
Eu estava simples, uma calça preta com um pequeno rasgo nos joelhos, um cropped listrado tomara que caia e chinelo nos pés. Ela deixou sua bolsa no pequeno aparador da sala e também tirou sua jaqueta, deixando-a junto com a bolsa, enfim ela me olhou, seu olhar me sustentou alguns segundos.
- Eu pedi comida tailandesa, você quer comer? – soltei antes que as coisas ficassem sérias demais.
- Eu prefiro conversar primeiro, se não se importar – ela mordeu os lábios, nervosa.
- Não, claro, tudo bem. – suspirei
- Bom, eu começo, já que quem quis se afastar de mim foi exatamente você, espero que tenha uma resposta convincente, senão a comida fica toda aí. – ela cruzou os braços e se encostrou no sofá.
- Você é minha professora, Julie. Eu gosto muito de você pra acabar com sua carreira desse jeito, já pensou no escândalo e o que aconteceria se descobrissem o que estávamos tendo? Eu perderia minha bolsa e você seu emprego, fora qualquer esperança de carreira que eu quero ter. Eu não poderia deixar isso acontecer – soltei de uma vez
E ela começou a rir. Sim, rir. Ela gargalhou alguns segundos.
- Hannah, eu vou falar só uma vez e eu vou falar bem calma, tudo bem? Pra você entender perfeitamente. – ela passou as mãos pelos cabelos e chegou perto de mim, meu coração acelerou – se eu escolhi ficar contigo, eu estou literalmente pouco me fodendo para os outros, no momento que ficamos juntas eu sabia o que eu queria, eu te beijei porque eu sabia o que eu queria, babe. Eu entendo seu lado, sua preocupação e tudo isso, mas deveria ter vindo falar comigo, eu te acalmaria e estaria tudo bem, entende? Hannah, eu largaria tanta coisa pra ficar só com você – ela sorriu e pegou minhas mãos, acariciando-as – não sei bem o que você fez pra eu ficar desse jeito, mas funcionou. Eu sei que nossa realidade é diferente e sem tantos privilégios, alem de sermos professora e aluna, somos duas mulheres e não é como se a sociedade aceitasse isso tão bem. Eu não quero brigar com você, nem gritar, nem nada. Eu só queria entender e expor o meu lado.
- Eu deveria ter ido falar com você, mas as coisas foram tão rápidas, que eu só quis fugir – mexi os ombros e ela me abraçou.
Comemos a comida tailandesa, bebemos cerveja e passamos a noite juntas. Finalmente sem brigas entre nós.
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Oh! Teacher
RomanceHannah tinha uma paixão maluca pela professora dela, Julie A realidade te deu um choque em algum momento e ela fez o que sabe fazer de melhor: fugir. Mas a Julie não desistia fácil assim. #6 em contos (03/06/2020) #3 em contos (19/06/2020)