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— Vim te buscar para nosso "encontro".

Foram essas as palavras que usei para cumprimentá-la quando me recebeu em sua porta. Era hora de botar em prática o que havia lhe prometido a tempos. Mesmo a achando uma pessoa detestável e horrível de estar ao lado, era a única escolha baseada em meus próprios ideais.

Não é a primeira e nem última vez que minha persistência em sempre cumprir o que prometo me traz problemas, mas definitivamente esse foi o mais longe que fui. Admito ter ficado admirada com tamanha idiotice feita por mim mesma, no entanto não voltaria atrás agora.

— Então, onde vamos, minha rainha?

— Vamos dar uma volta. Era um encontro que você queria, não é mesmo? Então terá um.

Respondi enquanto levava um cigarro previamente acesso à boca, logo em seguida sacudi a caixinha em sua direção como forma de lhe oferecer. Palavras poupadas em uma conversa com essa garota eram verdadeiras jóias preciosas.

O caminho não era muito longo, sendo perfeitamente aceitável percorrê-lo à pé. Por certo tempo a caminhada decorreu sob total silêncio de vozes, salvo algumas vezes onde tentava puxar conversa comigo, mas minhas respostas eram sempre curtas, rápidas e simples. Bom, até certo ponto podemos dizer.

— Que tal tornarmos isso interessante? Tenho algo em mente.

— Interessante, é? — Tirou suas mãos de dentro do bolso da jaqueta, lambendo seus próprios lábios. — Gostei de ouvir isso...

— Não crie ideias sobre isso, garanto que não é nada que esteja em sua mente. — Respondi de forma um tanto grossa. — Sinto muito em lhe dizer, mas seu encontro não é comigo.

— Mas que porra você está falando!? Como assim não é com você!?

— Tem alguém que você queria muito encontrar, certo? Ou devia dizer... reencontrar

Ouvindo minha fala, ela parou de andar. Seu olhar parecia saber do que tratava, mas, ao mesmo tempo, duvidava. Percebi que ficou indefesa temporariamente e sua atitude mudou por completo.

— ... É ele?

Fez uma breve pausa antes mesmo de dizer algo, como se procurasse uma forma melhor de se expressar.

— Exatamente. Mas como eu disse, não vale a pena só você sair com vantagem sobre a situação. Também quero algo em troca.

— O que é?

Normalmente seu tom de voz é coberto por uma tentativa de seduzir ou intimidar, menosprezar aquele que a ouve, mas neste momento ela parecia desesperada por conseguir o que tanto desejava.

— Eu quero informações. Quero saber sobre seu passado, sobre suas motivações, sobre os cães... Quero extorquir todo tipo de informação que ainda sobra em você. Espremer tudo que posso de você.

— Enlouqueceu por acaso? Por que caralhos eu te diria alguma coisa? Não é da sua conta, gracinha.

— Oh, sério? — Me mantive no lugar, tendo parado de andar. — É uma pena, temo que não vai vê-lo então...

— Eu posso ir atrás dele sozinha, eu encontro ele so-zi-nha!

— Boa sorte, quero ver conseguir fazer algo sem seus cães. Eram eles que faziam tudo por você, não é? — Sorri cinicamente, me aproximando com uma postura confiante em minhas atitudes. Sabia o quão cruel eu estava sendo com ela, mas era meu trabalho e sabia fazer isso muito bem. — Você não sabe fazer nada sozinha, correto? Você foi uma grande líder e uma grande mente, mas você não é nada sem eles... diga me, o que sabe fazer sem eles?

Red LinesOnde histórias criam vida. Descubra agora