Capítulo 02

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A primeira noite é sempre a mais difícil: você só olha pra uma parede de concreto e pensa no porquê você foi parar naquela merda. E então.. as lágrimas de frustação, arrependimento e tristeza caem. Naquele momento você pode jurar que as coisas só vão piorar.

. . .

- Eu vou voltar pra.. pra congregação?
- Não, você vai pra área de convivência geral.
Respirei um pouco aliviada, eu conviveria com pessoas e aquilo era um pouco bom..
Ele me deu uma bandeja branca onde tinham umas cochas de cama, um uniforme amarelo e um pequeno kit de higiene.
Eu e outras detentas ouvimos o barulho das grades se abrindo.
Enquanto o policial falava para onde as outras iriam, eu fiquei observando o grande prédio que tinha três andares.
- Martins sela.. 08
- O senhor pode me mostrar onde fica, por favor?
- Bom.. Eu iria só dar de costas, mas já que você foi tão gentil.. - um sorriso apareceu em meu rosto. - Eu vou mandar você se virar, porque aqui é uma prisão e não um colégio, princesa.
Ele me deu um empurrão e cai em cima bandeja. Quebrou-se com o impacto e eu tinha quase a certeza que havia quebrado o pulso.
Enquanto me contorcia de dor uma moça de cabelos curtos veio me ajudar.
- Ai.. caralho! - falei com os dentes fechados
- Acho que você quebrou o pulso.
- Jura? - falei como se não fosse algo óbvio
- Eu..
- LÍVIA! - Karina gritou ao me ver. - Ruth me ajuda a levar ela pra enfermaria

. . .

- Hum.. - o médico analisava o raio-x. - Você só o deslocou, não tem que se preocupar muito
- Que merda! Primeiro dia aqui e já começa desse jeito. - bufei
- Calma Liv. - Karina segurava minha mão
O médico colocou um gesso.
- Você vai ficar uns dois meses com o gesso, pelo menos uma vez na semana você terá que vir aqui para eu analisar como vai indo a recuperação.
Assenti com a cabeça.
Karina me ajudou, junto com a garota de cabelos curtos.
- Doi muito Liv?
- Só quando eu falo.
- Ahn.. essa é a Ruth minha melhor amiga e.. minha ex
- Ah.. que legal! - sorri
- Lívia né?
- Sim.. - eu estava envergonhada
- Como a Karina já disse..  Eu sou Ruth. - ela sorrir de lado
Ruth não era tão alta e não tão baixa, tinha um cabelo curto com uma franjinha, seus cabelos eram pretos como a pena de um corvo, tinha olhos castanhos, um tom caramelizado. A linha d'água estava pintada de preto e sua blusa branca mostrava um decote o que fazia com que ela se mostrasse mais atraente. Ela era simplesmente linda, não entendia o que Karina havia vido em mim.
- E então qual sela ficou? - ela parecia simpática
- Ahn.. 08
- Viado de merda! - Karina bateu na parede
- O que foi?
- É a minha sela. - diz Ruth
- Eu expecifiquei que queria que você ficasse na minha sela. - ela suspirou profundamente
- Não fica assim Kana, eu vou cuidar bem dela..
- Olha lá hein Ruth
- Relaxa caralho. Se bem que.. - ela me olhou maliciosa e mexeu em seus lábios
- Ruth..
- Tô brincando! Vamos Lívia.
Olhei para trás e vi que Karina estava de braços cruzados e parecia meio indignada
- Não liga pra ela tá, ela é idiota mesmo.
- Você não vai vir com fuleragem pro meu lado não né?!
- Quê? - ela riu. - Lógico que não. Eu não faço isso. Quem faz isso é.. Paloma
- Paloma?
- É, ela é uma puta de uma traficante aqui da prisão. - Ruth subiu no beliche
- E eu corro perigo?
- Bom.. talvez, porque ela e a Kana são meio que rivais. Traficantes totalmente limpas. Vendem mas não consomem. Foda demais.
- A Karina é traficante?
- É.. relaxa, ela não vai te oferecer nem nada.
- Eu sei.. mas isso me preocupa.
- Por que? - Ruth acendeu um cigarro
- Porque ela pode ser morta a qualquer momento, né?
- Sim.. mas ela sabe se defender. Quer?
- Não, obrigada!
- Mas então.. qual o seu lance com a Karina?
- Nenhum. - ela eliminou a fumaça de sua boca. - Quer dizer.. somos amigas, nada mais. Eu acho.
- Bom.. ela deve ter visto alguma coisa em você, porque não é todo mundo que ela é tão simpática assim. Na verdade, se você for perceber ela trata mal todo mundo. Então.. se for ter alguma coisa com ela, espero que não a magoe. - ela desceu e assoprou a fumaça no meu rosto.
- Puta merda Ruth. - falei tossindo
- Ah.. e pode fica com a cama de baixo da minha.
Assim que falou, saiu com o seu cigarro.

. . .

Eu estava deitada em minha cama, quando Karina aparece na porta sorrindo.
- Vamos comer gata?
- Sim. - me levantei com a sua ajuda. - Karina..
- O que foi?
- Como é viver tantos anos aqui?
- Viver neste buraco é certeza que você virara uma lésbica, uma viciada, uma escrava, uma traficante ou uma puta. - ela dizia com um sorriso de canto
- Nossa que opinião mas concreta você tem.
- Pois é. Mas também nesse buraco temos a certeza que.. encontramos pessoas maravilhosas que, pelo menos eu, vou querer levar pra vida INTEIRA. E você é uma delas Livinha. - ela piscou para mim
- Que baitolagem! - eu ri
Ela me deu um soquinho de leve e jogou seu braço por trás do meu pescoço.
- Vamos comer logo morena, estou morte de fome.

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