Sombras

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22 anos atrás.

Titus entrava pela pequena aldeia com uma bolsa de couro remendada. Crianças se amontoavam entre as pernas dos adultos tentando ver os guerreiros com a pintura no rosto.

Todos estavam calados, exceto pelo choro de um bebê. O barulho atravessava a pequena casa destruída e ecoava pelas florestas, como um grito pedindo socorro, um choro que se ouviria pela última vez naquele lugar.

A mãe da criança a segurava com força, embora que com ternura. Um último momento com sua filha era tudo o que ela queria, uma última chance de segurá-la em seus braços, sentir sua respiração ou poder tocar em suas bochechas coradas.

Titus chegou à sua porta e acenou com a cabeça, esticou os braços e segurou a bebê, que agora estava calada, como um animal que estranhava um novo ninho.

— Como é o nome dela?

Por um momento, ela hesitou. Não havia escolhido um nome para sua própria filha. Como ela poderia? Todos falavam à ela que não deveria se apagar a uma sangue da noite, mas era impossível. Um nome surgiu em sua mente:

— Lexa.

As lágrimas da mulher queimavam seus olhos e desciam pelas bochechas.

— Coloquem a sangue da noite no coche. Quero os guerreiros protegendo-a. Se algo acontecer a ela, Heda vai pedir nossas cabeças. — Titus ordenou para um garoto ao seu lado e deu as costas para a mãe— Bem, não a sua.

— Vamos demorar na viagem para a capital? — O garoto perguntou.

— O mesmo tempo que gastamos para vir até aqui. Por que a pressa?

— Eu queria ir de cavalo. Eu prometo que não vou me machucar nem me colocar em risco.

— Não.

— Mas Titus…

— Você sabe que a sua vida é importante para todos nós. Sem você, quem se tornará Heda quando o comandante morrer?

Titus entregou a bebê para uma mulher dentro do coche e segurou a porta para que Tilan pudesse entrar.

— Há outros sangues da noite. E eu não tenho certeza se poderei ser Heda.

— Não fale bobagens. Você tem treinado, estudado e tem a inspiração necessária para comandar.

— E se isso não for suficiente? Como eu pretendo comandar os clãs ou ganhar uma batalha? Eu não tenho experiência para isso.

— Se continuar com esse pensamento, nunca terá.

— Titus…

— Já chega. Não discutiremos isso na frente dos outros, entre.

Tilan entrou pisando firme enquanto a porta atrás dele se fechava. O coche começou a andar e logo eles estavam em alta velocidade pela pequena estrada.

Ele odiava aquele cubículo. Só havia uma pequena janela, que estava fechada, um assento duro e o barulho dos cavalos trotando a sua frente.

— Eu odeio ficar aqui dentro. — Ele disse enquanto olhava para Lexa. — Você acha que ela pode comandar no futuro?

— Se ela for tão sábia como você. — A mulher respondeu com um sorriso no rosto.

— Você acha que vou conseguir?

— Por que não acharia?

— Eu só tenho quinze anos. O comandante tem anos de experiência, é forte e respeitado por todos. Titus diz que eu devo ser o novo Heda após ele, que o espírito dele irá me escolher após sua morte. Mas e se eu não conseguir?

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