c a p í t u l o u m; peace.

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Acordei sentindo a minha irmã pulando na minha cama de solteiro e gritando eufórica. Ela não parava de falar de como o ensino médio seria legal, e que seria uma experiência única para mim. – Bom, eu particularmente não achava isso –; continuava sendo a escola, e para mim escolas são horríveis, concordo que em alguns termos ajudam em algo do tipo: conhecer pessoas novas – mesmo que sejam pessoas tóxicas –, ter mais conhecimentos de diversos assuntos. Enfim, isso era de fato bom para meu aprendizado; tanto quanto educacional e para a minha trajetória de vida.

Quero pedir desculpas a todas as mulheres

— Pelo amor de Nitz, me deixa dormir! - exclamo irritada, com a voz rouca de sono e baixa. A garota dos cabelos castanhos claros quase dourados que está com a sua toalha azul pendurada no ombro agora está me sacudindo consecutivamente logo depois de puxar o meu cobertor branco, me deixando descoberta e com muito frio.

Escuto um trovão soar pelo céu cinzento escuro e que está coberto por nuvens, a chuva cai fazendo um barulho peculiarmente satisfatório e bom, me fazendo se dá por vencida. Levanto desanimada da cama me sentindo exausta, sinto todos os pelos do meu corpo se arrepiarem.

— Eu vou tomar banho, e daqui à uma hora e quarenta e cinco minutos saímos. - a garota em minha frente avisa e sorri enquanto sai em direção ao banheiro que é ao lado do meu quarto.

Ela é sempre tão pontual, ao contrário de mim.

Ando em passos lentos e calmos em direção a janela; olho para a chuva que cai freneticamente pelo céu e se vai pelo chão da estrada. Algumas pessoas de variáveis idades passando apressadas de um lado para o outro com seus guarda-chuva de diversas cores. Vejo uma garota de aparentemente 8 anos pular pela poças d'água que a encontra em cada esquina, girando seu guarda-chuva amarelo com a estampa de panda, é impossível não rir e lembrar-me de minha infância.

Que descrevi como bonitas,
Antes de dizer inteligentes ou corajosas.

Eu continuo sorrindo bobamente em direção ao meu guarda-roupa branco já desgastado e cheio de figuras e desenhos pintados á mão, abro a porta esquerda e tiro minha roupa já passada, meu sorriso se alarga ainda mais por estar muito satisfeita com o meu traje. Uma camisa branca com alça até o ombro sem nenhuma estampa, por cima uma blusa preta de alça fina e uma calça jeans feminina cintura alta com estilo das calças dos anos noventa e um tênis all star branco cano médio com uns desenhos de girassóis que fiz questão de eu mesma pintá-los á mão. Coloco todos os itens que irei usar hoje  em cima da cama de madeira, e pego minha toalha e meu celular.

Vou em direção ao banheiro, bato na porta e peço gentilmente para a Melissa sair, já fazem mais de cinco minutos que ela está aí dentro.

— Melissa, por favor! - bato de novo, com a minha paciência esgotando - saí. - bato de novo - daí. -mais outra batida - de dentro - mais outra - agora! - a última desferi na porta com mais força. Droga! Agora vou ter que me desculpar com a senhorita Amélia depois. Bufo logo em seguida.

— Mãe! A alysha quer quebrar a porta do banheiro! - ela grita com a voz embargada atrás da porta de madeira que nos separa.

— Alysha, para de tentar quebrar a porta! - minha mãe grita da cozinha, fazendo o café.

— Melissa, a porra da minha paciência já está se esgotando!!!

Ela sai finalmente, e grita que eu havia dito um palavrão e minha mãe -como sempre- me repreende. Assim que estico minhas mão para estrangulá-la ela fecha a porta rapidamente no meu rosto.

Fico triste por ter falado como se
Algo tão simples como aquilo que nasceu com você

— Sua criança estúpida!!! - berro irritada, logo bufo. Porque eu sei que a única solução é chamar a Anne, ela é a única pessoa que conheço que a Melissa escuta.

Vou em direção ao seu quarto na porta está escrito seu nome, bato furiosa duas vezes, escuto sua voz doce e suave murmurar "entre", abro a porta lilás e no exato momento em que a vejo toda aquela garota raivosa e irritada que habitava em mim há uns dois segundos atrás se vai completamente, é impossível ficar com esse sentimento em sua presença. Ela é aquele tipo de pessoa que irradia paz e amor, que só a sua presença, sua voz faz que você se sinta como se estivesse em uma praia deserta contemplando o belo pôr do sol enquanto escuta a música "sonhos" do Caetano Veloso e bebericando o mais caro e melhor vinho da loja mais próxima. Essa garota é a definição da minha paz.

Ela está passando creme de pele em seu braço enquanto escuta alguma música nos fones de ouvido, eu a conheço tão bem que sei que é bem provável ela está escutando alguma música do The Smiths.

— The Smiths? - pergunto, já sabendo a resposta.

— Sim! - ela exclama enquanto tira os fones de ouvido, e ri sem mostrar os dentes - Como você sabe?

— É o que você sempre escuta nas manhãs de segunda-feira.

— Meu Deus, você é demais! - ela ri, enquanto coloca sua franja atrás das orelhas. - Então, o que aconteceu pra você ainda está vestida de pijama?

— A Melissa tá trancada no banheiro, ainda - murmuro envergonhada por ela está escutando isso pela centésima vez só essa semana.

ela suspira, exausta. ela se levanta tirando os fones de ouvido do colo e o celular, os colocando lado a lado em cima da sua zona de estudos e logo em seguida vem em minha direção.

— Vamos lá! - ela agarra meu pulso e me guia em direção ao banheiro, vou andando logo atrás dela. Ela chega em frente a porta do banheiro e dá duas batidas consecutivas e suaves.

— Eu não vou sair dentro desse banheiro nem agora, nem nunca!!! - a Melissa grita em disparada de dentro do banheiro, juro a mim mesma que quando ela sair dali irei ter o prazer de estrangula-lá com minhas próprias mãos.

Fosse seu maior orgulho
Quando seu espírito já despedaçou montanhas

— Oi, vida. - Anne fala com uma voz doce e angelical. faço o possível para não revirar meus olhos. - Sabe, você precisa sair do banheiro para a Allie poder tomar banho para ir a escola. Então, por favor, você pode sair daí? - alguns segundos se passam e tudo continua um silêncio absoluto - se não for pela Allie que tal por mim, Melzinha? - Anne pergunta, falando seu apelido carinhoso no final, apenas a Anne a chama desse jeito.

Eu escuto ela bufar, em forma de que está descontente com a desistência.

— Tudo bem, - ela abre a porta e sai do banheiro com a toalha cobrindo seu corpo. - mas fique sabendo que fiz isso só pela Anne, não por você - ela termina a frase enquanto me encara e me desfere o dedo do meio e a língua em minha direção.

— Sua babaca! - grito irritada e ando em sua direção para matá-la. sorrio. Finalmente minha vingança, ela começa a correr gritando pela mamãe, mas paro no meio do caminho quando a Anne fica na minha frente me dando um olhar que dizia: "Você tem muito mais o que fazer, mocinha."
Bufo, e entro no banheiro.

De agora em diante vou dizer coisas como:
Você é forte ou você é incrível.

Coloco The Cure: Boys Don't Cry no último volume. Tiro meu pijama e entro de baixo do chuveiro, ligando-o em seguida. A água desce pelo meu corpo fazendo meus pelos se arrepiarem. movo minhas duas mãos em direção ao meu rosto o lavando. a água fria desce lavando meus fios de cabelo castanhos escuros e medianos que vão até a metade da costela. Sorrio quando chega o refrão, a minha parte favorita e cantarolo alto junto com o cantor.

— Boys… Don't… Cry…

Faço sinais de como se estivesse tocando bateria com as mãos, e batuco a porta de vidro do box.

Deixo a água fria me lavar temporariamente; de corpo, alma e mente.

Não porque eu não te acho bonita,
Mas porque você é muito mais que isso.

Sobre EleOnde histórias criam vida. Descubra agora