Fortalecendo a amizade

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Tinha apenas alguns dias que eu e Hinata nos conhecíamos, o que não foi empecilho para que nesse meio tempo eu não desgrudasse dela o quanto podia. Finalmente descobri onde era sua sala, por isso todos as manhãs antes do horário eu ia até lá para vê-la e lhe dar ao menos um beijinho na bochecha. Aliás, Hinata sempre me recebia com um sorriso gigante, antes de dizer: "Que bom te ver, Naruto."

Aí eu não resistia e dava outro beijo estalado em sua bochecha, na real, a vontade que eu tinha era de mordê-la, mas não tínhamos intimidade suficiente para isso, ainda. Assim sendo, por enquanto, me conformava com um beijinho naquela bochecha fofinha e corada. Ah, por falar nisso, obviamente, a notícia de nós dois juntos espalhou-se como fogo em palha seca, no outro dia todo o colégio comentava que estávamos supostamente namorando, o que não era bem uma verdade; no entanto, não fiz questão de desmentir. Estava bom do jeito que estava e Hinata não parecia se incomodar também. Claramente, depois disso, os comentários maldosos com relação à Hinata cessaram, ao menos na minha frente, ninguém seria doido de ofendê-la perto de mim. Também pedi que Hinata me contasse, acaso alguma engraçadinha ou engraçadinho, insistisse em fazer piadinha com ela quando eu não estivesse presente. Porém, como Hinata não gostava de se queixar, sempre me dizia que ninguém falou nada.

Eu seguia tentando descobrir o que sentia por ela, era confuso, diferente de que eu julgava sentir pela Shion. Que, para ser sincero, era mais atração física mesmo, não me entendam mal. Não que Hinata não me atraía fisicamente, porque estaria mentindo se dissesse que só a considerava fofa e meiga. Pelo contrário, eu a achava extremamente atraente e desejável, mas, não era só isso o que me fazia gostar dela, quero dizer, gostar no sentido de ela ser uma boa garota, boa de papo, quando colocava um pouquinho a timidez de lado, entre outras coisas.

O que eu queria dizer com tudo isso, era que eu a via como algo mais precioso, e a nossa relação, apesar de ser de amizade, para mim já representava algo muito importante. Na qual eu queria cuidar e não deixar nada interferir, eu desejava conhecê-la melhor e conseguir fazê-la sentir-se mais à vontade perto de mim. Porque, de fato, Hinata era muito tímida, talvez fosse por isso que o pessoal pegava tanto no pé dela, o que não era um motivo nem um pouco justificável. Por outro lado, nesses dias em que ficamos mais próximos, eu sentia que aquela barreira estava bem menor, pois Hinata a cada dia se mostrava mais descontraída e receptiva com relação a mim.

Eu não sabia o que se passava naquela cabecinha, às vezes sentia que ela gostava um pouquinho de mim, além da amizade. Contudo, não poderia afirmar com certeza, também não queria iludi-la, vejam bem, eu ainda não compreendia ao certo o que sentia por Hinata. Desse modo, não seria justo que eu avançasse o sinal e depois a magoasse, não era isso o que eu queria de forma alguma.

Não obstante, também não queria ficar longe dela, não agora que a tinha encontrado no meio daquela escola enorme. Eu ainda não entendia como nunca a tinha visto, por isso mesmo não a deixaria escapar, mas, eu tinha que descobrir se era ela a garota que dançou na cachoeira. Até tentei tocar no assunto, perguntando se Hinata gostava de dançar, não quis ser invasivo e acabar dando a entender que estava confundindo-a com outra garota, sei lá, pensei que poderia chateá-la. Se tinha uma coisa que aprendi na vida, foi que algumas garotas eram mais sensíveis, isso descobri com meu padrinho. Portanto, se eu fosse direto ao ponto e Hinata não fosse a minha garota, ela poderia achar que me aproximei apenas por isso, enfim. A verdade era que não sabia como agir com Hinata, ela era diferente ao meu ver.

Eu precisava tratá-la como uma flor, ou tinha a impressão de que poderia magoá-la profundamente. Não que eu a considerasse fraca, não era isso. Só que, pelo pouco que percebi, nesse tempo que nos aproximamos, Hinata era sensível em demasia. O que não era ruim, apenas uma característica de sua personalidade. Porém, aos meu olhos, eu tinha que me policiar com ela para não ser bruto e, convenhamos, eu era meio bruto às vezes.

O professor continuava a falar lá na frente e eu permanecia absorto em meus próprios pensamentos. Só acordei quando tocou o sinal e pude disparar para fora da sala, atrás da Hinata.

Todavia, quando cheguei no lugar em que costumávamos nos sentar na hora do intervalo para conversar, encontrei dois brutamontes um de cada lado dela. Gelei, porque eram eles, os garotos que me zoavam na infância, por eu usar aquele aparelho que amarrava na cabeça, sabem? Cara, eu sofri tanto bullying por causa desse troço, que, em dado momento, falei para a minha mãe que não usaria mais e permaneceria com os dentes encavalados, ou não sairia de casa até terminar o tratamento. Pior, teve uma vez, que eu tinha apanhado daqueles dois e chorava descontroladamente, porque o cachecol vermelho que eu tinha ganhado do meu finado avô foi rasgado por pura maldade no processo.

Na época eu tinha somente uns sete anos e chorava, apertando o cachecol rente ao peito, pensando assim conseguir concertá-lo. Quando essa garotinha aproximou-se e perguntou a causa do meu choro. Expliquei o motivo e ela acariciou meu rosto, me confortando imediatamente com esse simples gesto.

Essa mesma garotinha garantiu que concertaria meu cachecol, porém, nunca mais a vi. Mas, diferente da garota da cachoeira, essa eu não lembrava de nada significativo da aparência, fazia muito tempo. Também não tinha pretensão de encontrá-la ou de obter meu cachecol de volta. Acredito que ela era um anjinho, que foi mandado ali para me alegrar, porque eu me achava um lixo na época, por todos me zoarem graças aos meus dentes encavalados.

Porquanto, ao ver os mesmos dois garotos que tanto me perturbaram na infância, ali, ao lado da Hinata, eu quis sair correndo. Porém, não bancaria o covarde agora, não a deixaria sozinha com aqueles brutamontes, que na certa foram importuná-la apenas para me atingir. Pois, atualmente, como eu era modelo e todo mundo gostava de mim, eles não conseguiam fazê-lo como antes. E, na certa, quando souberam de mim e da Hinata, decidiram usá-la para esse fim, mas eu não iria deixar.

Contudo, na verdade, lá no fundo eu ainda era um pouco inseguro; e, por incrível que pudesse parecer, esse foi um dos motivos que me fez terminar com Shion. Eu não sabia se ela gostava de mim pelo que eu era, ou pela minha popularidade, sabe aquela história do troféu? Pois é. Eu tinha mudado, fiz tratamento para corrigir meus dentes, era alto, modelo, popular... Agora todas as garotas me queriam, inclusive Shion.

Em contrapartida, tinha minhas dúvidas se, por exemplo, eu continuasse estranho, com aparelho que pegava toda a minha cabeça, se ela ainda gostaria de mim. Aliás, duvidava muito disso. Diferentemente de Hinata, eu poderia colocar minha mão no fogo, de que ela ficaria comigo mesmo se eu fosse o garoto mais esquisito da escola.

Respirei fundo, sentindo meu estômago reagir, lembrando, de uma hora para outra, de todo o bullying que sofri durante a infância. Entretanto, não deixaria a insegurança me dominar novamente. Aproximei-me deles, vendo Hinata completamente constrangida e acuada, parecia um bichinho silvestre.

— O que está acontecendo aqui? - perguntei impostando minha voz, para soar mais ameaçador.

— Olha só quem chegou, o popular do colégio. - Gole ironizou. - Estava com saudades da sua estranheza de antigamente, por isso está se envolvendo com a esquisitinha?

— Cala a boca e retira o que disse sobre Hinata. - ordenei incisivo.

— Ou o que? - Yuri retrucou levantando-se.

— Ou vão se arrepender amargamente de terem ofendido-a. - respondi e minha voz soou baixa e grave.

— Virou macho agora? Quem foi que ficou chorando porque, além de levar uns sopapos, teve o cachecol todo destruído? - Gole jogou na minha cara.

Titubeei por um instante, mas não deixei transparecer.

— Aquele tempo já era, quer comprovar? - desafiei batendo meu ombro no de Gole.

— Pa-para, Naruto... Por favor. - suplicou Hinata com lágrimas nos olhos. - Nã-não brigue por minha causa.

Senti um segundo após uma mão bem miúda segurar a minha e vislumbrei Hinata ao meu lado assustada. Ela era tão pequena, eu sentia que era meu dever protegê-la.

— Tem razão. - respirei fundo e entrelacei nossos dedos. - Vamos, Hina. Esses lixos não merecem nossa atenção.

Dito isso, a levei para o jardim e, enquanto desfilávamos de mãos dadas pelo colégio, tive ainda mais certeza. Hinata era realmente especial.









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