capítulo 2

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10 anos atrás...

07/01/2009

Lá fora parece cair o mundo, está uma tempestade muito forte, e são apenas 16:45 da tarde. Hoje não está parecendo ser um bom dia, pois estou com um pressentimento ruim...

Estou sentado no sofá da sala em frente a nossa pequena tv, assistindo um desenho animado que está passando, aqui só moramos nós dois eu e minha mãe, Clarice Walker. Ela nunca está em casa, é raro quando ela passa mais de duas horas dentro desta casa, ela sempre me disse desde que era bem mais novo que não podia ficar em casa porque precisava trabalhar para me trazer comida.

Na verdade ela trabalhava muito para gastar com qualquer outra coisa, porque me lembro que há alguns anos atrás quando ainda mamava na mamadeira, o que ela me dizia para beber nunca pareceu ser leite. Tinha um gosto horrível, amargo, um líquido transparente e quando descia pela minha garganta queimava tudo, não precisava de muitos goles para que eu caísse em um sono profundo e ao acordar no amanhecer do outro dia ver que ainda estava sozinho e com uma enorme dor de cabeça que parecia que nunca mais iria embora.

Ao passar desses anos eu fui parando de chorar toda noite quando ela saia por aquela porta e só me deixava com uma mamadeira cheia de vodka.

E como eu descobri isso com apenas 8 anos ? Gravei o nome que estava no rotolo daquela garrafa que sempre estava em cima do armário Vodka e alguns anos depois consegui perguntar para o nosso vizinho o que era aquele líquido transparente com aquele nome, que eu sempre havia despejando em minha mamadeira.

Ela nunca me abraçou ou parou para conversar comigo carinhosamente, sempre ordens, Steven não saia para fora, não chore, não fale com ninguém, não conte para ninguém que fica em casa sozinho. Eu nunca entendi por que ela não pareci com a mãe da minha vizinha Caroline que tinhamos a mesma idade, a mãe dela era tão gentil e carinhosa e Clarice já parecia me odiar.

— Steven cade você, eu cheguei trouxe rosquinhas para você venha logo garoto — Escuto a unica voz que estou acostumado a ouvir vindo de fora do banheiro, Clarice finalmente chegou, estava passando mal com fraqueza por estar quase um dia sem comer nada.

— Estou no banheiro, só um minuto mãe, ja estou indo — Murmuro para que ela escute, enquanto dou descarga em seguida lavo minhas mãos

O silêncio volta a reinar, logo abro a porta dando de cara com a figura da minha mãe com uma expressão nada amigável e preocupante em seu rosto, encarando a tela de seu celular na mão direita. Em passos bem lentos vou me aproximando da mesa onde estão as rosquinhas dentro de uma caixa colorida, pego a caixa em silêncio e volto para o meu lugar no sofá.

Hoje é meu aniversário de 8 anos mas ela não me trouxe um presente, e como eu sei disso? Porque ela não me deu ao menos um feliz aniversário filho.

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— Você está de brincadeira com a minha cara? Você está achando as que coisas que faço dentro deste lugar sujo é por miséria? — Questiona minha mãe falando com alguém na outra linha do telefone

Paro de mastigar o pedaço de rosquinha que levei até a boca e começo a prestar a atenção na sua conversa.

— Klaus você está achando que me prostituo de graça, à toa? — Indagou minha mãe ainda no telefonema, com o pé direito batendo freneticamente contra o chão da sala

E foi nesse momento que então descobri qual era o "trabalho" da minha mãe, aquilo me fez revirar o estômago e perder a vontade de continuar comendo as rosquinhas

Nos próximos segundos minha mãe desliga o telefone furiosa, e encara os meus olhos com um ódio puro, como se tudo o que estivesse acontecendo na vida dela principalmente neste momento era necessariamente minha culpa. Então ela vem até a mim dando passos largo e precisos e então segura o meu braço esquerdo com força e finalmente abre a boca e diz — Vá arrumar suas roupas naquela mochila, vamos sair — diz apontando com o dedo indicador para uma grande mochila preta encostada na parede do nosso quarto ao lado de sua cama.

Fico ali parado a encarando assustado com tudo aquilo que estava acontecendo de uma vez, mas não a questiono por mais que queira muito, Sair? sair para onde? Nós nunca saimos juntos, ela sai sozinha e me deixa aqui, para onde será que iamos? E porque eu tinha que levar todas as minhas roupas naquela mochila? Então simplesmente sinto sua mão se desvencilhar do meu braço e me levando em seguida, indo em direção ao quarto para cumprir a sua ordem.

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— Aonde estamos? — Questiono a ela quando paramos de caminhar em frente a uma ao que parece ser uma casa grande e antiga

— Olha Steven aqui mora a tia Rita minha irmã e você vai ficar com ela aqui hoje, amanhã eu volto para te buscar e te trago mais rosquinhas — Diz se abaixando até ficar da mesma altura que meu rosto e encarando meus olhos, com sua íris expressando algum sentimento que não consigo identificar

Então apenas assenti com a cabeça, ela me disse para ir até a porta e tocar a campainha e quando fiz o que ordenou, olhei para trás e ela já tinha ido embora novamente...

Quando a porta se abriu e se formou a figura de uma mulher gorda com uma expressão de poucos amigos em minha frente, senti em meu peito que seria ali naquele momento em que minha vida iria mudar para pior e o meu pressentimento ruim de mais cedo estava certo...

Orfanato coração de mãe

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