14/01/2019 segunda-feira
O frio está me matando aos poucos e esse banco de concreto não ajuda muito a me esquentar. Sinto que posso congelar a qualquer momento deitado neste bando duro e gelado. Faz uma semana que sai do orfanato e estou dormindo nos bancos da rodoviária, cada dia em um banco diferente para que o segurança não perceba que estou fazendo daqui a minha casa temporária...
Ao decorrer do dia eu fico de olho nas lixeiras o tempo todo para ver se alguém que estava passando não joga o resto de seu salgado, bolo ou até mesmo uma latinha de Coca-Cola pela metade, tem dias que tenho sorte e outros não. Não consigo pedir para que alguém compre nada para mim, pois o meu orgulho não deixa.
Eu realmente não sei o que está me matando mais, a fome ou o frio... Talvez um pouquinho do meu mal cheiro, ó Deus eu preciso de um banho logo.
Estou sentado observando os ônibus chegarem e irem embora a todo momento, quando em uma fração de segundo desvio o meu olhar para o meu lado direito e avisto uma mulher loira e bonita se levantando rapidamente de seu banco e correndo em direção ao seu ônibus de viagem que já estava quase saindo, em seguida volto a olhar para o banco que ela estava, havia esquecido uma sacola com vários alimentos dentro, como salgadinho, chocolates, uma latinha de refrigerante e um pedaço grande de torta de frango que havia acabado de comprar na padaria que se encontrava ali próximo aos bancos que estávamos.
Eu estava com tanta fome...
Pondero por alguns segundos e me levanto indo em direção a sacola daquela mulher para entrega-lá, mas antes mesmo que eu chegasse até a sacola observo que o seu ônibus que ela acabou de entrar, deu partida e começou a seguir viagem. Tarde demais Steven !
Ao chegar na frente da sacola e observar o que realmente tem dentro, meu estômago ronca de fome. Eu não queria pegá-la, não era certo, não foi eu quem comprou. Mas a minha fome gritou mais alto quando não me contive mais e a segurei em minha mão, em seguida fui em direção a área dos banheiros mas antes mesmo que eu pudesse chegar senti um forte aperto em meu braço esquerdo — Ei garoto, o que pensa que está fazendo? Além de ficar dormindo aqui e comendo lixo todos os dias como um mendigo, está começando a roubar os passageiros também? — Indagou o segurança da rodoviária encarando meus olhos com desprezo.
Antes mesmo que eu pudesse abrir a boca para responde-lo e tentar se explicar, ele começa a me arrastar pra fora dali e ao chegar no portão de saída me da um grande empurrão para fora. Uma frustração enorme invadiu o meu peito pois não podia fazer nada já que estava realmente errado.
Simplesmente então abaixei a cabeça e comecei a caminhar para longe dali, parei perto de um restaurante onde vi que ao lado se encontravam grandes lixeiras onde provavelmente eles jogariam muita comida então logo pensei em ficar por ali mesmo, ainda estava com a sacola de alimentos daquela mulher mas uma hora eles iriam acabar e minha fome voltaria, então me sento perto do restaurante em silêncio ao lado de um mendigo que já estava ali...
— Ei cara você quer um pedaço? — Murmuro ao mendigo, esticando o braço direito em sua direção oferecendo a torta que estava preste a comer
— Obrigado garoto, mas eu acabei de comer uma marmita quase cheia que jogaram ali na lixeira agora pouco, então pode saborear a sua torta sozinho e a vontade — Diz ele dando de ombros
— Ok então — Digo também dando de ombros
Ao terminar de comer a torta, observo que o sol já está se pondo então provavelmente deve ser umas 18:00 da tarde. E o frio volta a se expandir, eu estou com uma jaqueta jeans velha e calça jeans preta, mas ainda não consigo parar de tremer, sinto que vou congelar a qualquer momento...
Estou fitando um carro que vem se aproximando, é um BMW 320I preto muito lindo, estou deslumbrado. E quando finalmente o carro está quase passando em minha frente, ele para e eu o encaro, franzo o cenho em curiosidade.
O vidro do motorista se abaixa, revelando a figura de um homem aparentemente com uns 39 anos, cabelo levemente grisalho e barba por fazer. Ele me encara com uma expressão amigável, com uma leve sombra de um sorriso a se forma em seu rosto
— Ei garoto, como se chama? — Pergunta, me observando tremer de frio
— Steven, porque? — Questiono, com uma sobrancelha erguida
— Vem aqui Steven, entre no carro — Um sorriso acolhedor aparece em seu rosto
— Eu não vou entrar no seu carro, porque quer que eu entre ai se nem me conhece? — Digo o encarando sério
— Eu vi o que aquele segurança da rodoviária fez com você, e você me parece ser um garoto bom, porque vi o arrependimento em seu olhar assim que ele terminou de te humilhar na frente de todos ali, quero te ajudar sei que não tem para onde ir e está muito frio hoje vai acabar congelando se ficar aí e não posso deixar que isso aconteça — Diz fazendo sinal com a mão direita para que eu entrasse em seu carro
Desconfiado me levanto e sigo em direção ao seu carro, abrindo a porta e sentando no banco do passageiro — Vai me ajudar como? — Digo fitando seu relógio de ouro caro no seu pulso
— Vou te levar para morar em minha academia e vou te dar uma oportunidade de me mostrar que estou certo em pensar que você é um bom garoto — Diz ligando o carro e dando partida
O silêncio volta, e começo a me perder nos meus pensamentos e agradecimentos a Deus por ter me enviado este homem para me ajudar neste momento difícil que estava a ponto de morrer de hipotermia naquela rua fria e vazia.
Obrigado meu Deus por ter escutado minhas preces...
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Não desista de lutar
RomanceFui abandonado quando criança, há coisa pior que isso? Para mim não, pois nada parece que vai quebrar meu coração em milhões de pedacinhos novamente como quando minha própria mãe me abandonou. Jurei a mim mesmo que nunca mais amaria ninguém ou seque...