Parte I - Esquecimento
Escuridão.
Por que tudo estava tão escuro? Abri os olhos e por um instante pontos negros contrastaram com a luz muito brilhante. Pisquei desorientada, lutando contra a dor na têmpora que aquela luz me causava.
Movi-me, e tudo doeu.
Serrei as pálpebras com força gemendo e de repente ouvi uma movimentação ao meu redor. Voltei a abrir os olhos e dessa vez consegui focalizar além da luz forte. Um teto branco e limpo.
Virei a cabeça, ainda sentindo as leves pontadas, e paredes brancas me cercavam. Respirei uma longa golfada de ar e senti o cheiro de éter inconfundível de um hospital.
Hospital?
O que eu estava fazendo em um hospital?
— Ella?
Minha atenção foi capturada por uma voz desconhecida a minha direita. Alguns passos foram dados em minha direção até que um homem de jaleco branco se colocou no meu campo de visão.
— Como se sente?
O médico colocou uma lanterna nos meus olhos e gemi virando a cabeça.
— O que... — Minha voz saiu pastosa e grossa, como se eu não a usasse há muito tempo e minha garganta queimou, mas forcei a fala. — Onde estou?
— Em um hospital.
— Por quê? — Tentei me lembrar... O que teria acontecido para eu estar num hospital?
— Não se lembra?
Ele continuou a me examinar, passando um negócio gelado por meu pé, que me fez encolher a perna, me surpreendendo com a dor de novo. Eu me sentia como se tivesse levado uma surra.
— Ella, preciso que me diga o que se lembra.
Fechei os olhos e puxei minha memória. Comecei a ficar seriamente perturbada. Eu sabia que meu nome era Ella Brooke. Morava em Aberdeen com meus pais. Tinha dezoito anos e estava me formando no Aberdeen High School. E a última coisa que me lembrava...
— Uma entrevista de emprego — Lembrei de repente. — Eu estava viajando de carro para fazer um teste. Estava chovendo... — Soltei um gemido, a dor de cabeça se intensificando enquanto tentava lembrar mais coisas sem conseguir — Eu sofri um acidente? — indaguei começando a entender.
— Sim, sofreu.
— Ah não! — Isso queria dizer que eu estava terrivelmente atrasada. — Eu tenho que ir... — balbuciei tentando levantar, mas minha cabeça rodopiou e caí de novo ao mesmo tempo que o médico me pressionava contra a cama. — Tenho que fazer a entrevista...
— Não se mova. Seus ferimentos externos não foram graves, mas ainda está bastante dolorida e com algumas contusões.
— Há quanto tempo estou aqui?
— Três dias.
— O quê? — gritei. Ou era para ser um grito, porém não passou de um sussurro engasgado.
— Não fique agitada. Vou fazer algumas perguntas, pode me responder?
— E minha família? — Preocupei-me com o estado que meus pais deviam ter ficado. Minha mãe estaria louca.
— Não se preocupe com isto. Ele está aí fora.
— Toby? — Pensei que meu namorado também devia estar preocupado.
O médico pareceu confuso.
— Apenas responda às perguntas.
Respirei fundo tentando ficar calma.
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