Por um momento ficamos apenas nos olhando e foi como se o tempo tivesse parado e tudo mais deixado de existir a nossa volta.
Ele ia me beijar?
Eu quase podia sentir como se um imã o trouxesse para meu lado e uma força compulsória me mantivesse no lugar. Se ele me beijasse de novo eu me lembraria? Eu podia tentar, não podia?
Mas e depois? Era estranho demais saber que existia uma intimidade entre nós que eu não me lembrava. Porque era como se não existisse. E eu senti aquele vazio horrível por dentro e desviei o olhar, dando um passo atrás.
E lá estava de novo. Aquele olhar. Que deixava meu peito apertado de uma dor desconhecida e estranha. Era uma espécie de culpa por não ser capaz de lembrar de nada que me ligasse a ele. Era triste.
Em algum lugar da casa uma porta bateu.
— Deve ser Megan.
Nós saíamos juntos do quarto e Megan apareceu no hall de entrada.
— Eu estou indo. Volto depois de amanhã.
— Você não vem todo dia? — indaguei meio preocupada. Era bom tê-la ali. Era mais fácil do que ficar sozinha com Luke.
— Não é preciso.
— Entendi.
Então ela fez algo que me surpreendeu. Aproximou-se e tocou meus cabelos.
— Não se preocupe, está tudo aí, dentro da sua cabeça.
— Eu não tenho tanta certeza.
— Apenas as deixe saírem.
E se foi. Olhei em volta a procura de Luke, mas ele não estava mais ali. Era melhor.
Naquela noite nós jantamos a comida que Megan tinha deixado. Eu queria perguntar mais coisas para ele, mas era tanta coisa que eu nem sabia por onde começar. Então fiquei em silêncio, perdida em meus próprios pensamentos.
— O que quer fazer agora? — ele perguntou depois.
— O que costumávamos fazer antes?
Ele pensou antes de responder.
— Por que tem que pensar na resposta?
— O que você quer fazer hoje? — Jogou a pergunta para mim.
— Por que não diz o que costumamos fazer quando estamos aqui?
— Não tem grandes segredos nisso, Ella... — ele deu de ombros — Às vezes eu trabalho. Você lê um livro. Ou vê um filme...
— Podemos ver um filme? — De repente queria apenas me distrair e não ficar pensando em como as coisas deveriam ser.
Nós fomos para a sala e deixei Luke escolher um filme qualquer. Comecei a me sentir sonolenta e acabei pegando no sono, pois acordei quando ele me pegava no colo e o sofá desapareceu debaixo de mim.
— O que...?
— Shi... — Eu me aconcheguei mais junto a ele, enquanto subíamos a escadas e Luke me colocava na cama e me cobria. Ele apagou a luz e saiu do quarto, fechando a porta silenciosamente atrás de si.
E na minha sonolência ou não pude entender o instinto de chama-lo de volta. Porque não era natural ele estar saindo do meu quarto.
De onde vinha aquele pensamento? Eu não consegui continuar pensando. E naquela noite eu não sonhei.
No dia seguinte, acordei e desci as escadas para encontra-lo numa sala que parecia um escritório. Ele ria ao telefone, enquanto rabiscava num papel distraído, quando me viu. Ficou sério, murmurou algumas palavras e desligou.