ANY

(4)

O resto da aula ocorreu normal. Acho que o professor acabou passando minha situação para seus colegas e por isso nenhum um outro me perguntou alguma coisa. E eu percebia seus olhares de compreensão, as vezes até de pena. Eu estava esperando meu irmão encostada no carro, enquanto Diarra tagarelava do meu lado.

Eu gostava de seu jeito animado e como ela falava por nós duas. E ela parecia não se incomodar com o meu silêncio. Ela estava a alguns minutos reclamando de algum livro que virou filme e como a adaptação era um tanto ruim. Eu não havia assistido, então só balançava a cabeça enquanto ela falava.

Arrumo a mochila nas costas ao ver meu irmão passar pelos portões. Diarra percebe, me estalando um beijo na bochecha e indo embora logo após pedir meu telefone. Lipe chega acompanhado de um menino alto e magro, não magro demais mas sem nenhuma gordura aparente. Ambos riam alto e o amigo exibia um sorriso de dentes brancos e retos. Ele parecia ter saído de um filme adolescente onde ele com certeza era o protagonista.
"Ei, baixinha. Como foi seu primeiro dia?" Lipe pergunta e me limito a concordar com a cabeça, indicando que tinha ocorrido tudo bem. Ele entendeu que eu não falaria na frente de seu amigo.
"Esse é o Noah, Any. Acho que já comentei sobre ele pra você." Assinto com a cabeça. Lipe sempre falava de seu melhor amigo Noah e de como eu iria adorá - lo, pois ele se tratava de uma das melhores pessoas que ele conhecia.
Noah sorri pra mim e ele não sustenta um olhar confuso ou penoso, o que me surpreende de certa forma. Eu sei que ele sabe sobre minha situação, mas ainda assim esperava outra reação.

"E aí, Any? Tudo bem?" Sorrio, assentindo. Ele entende, sorrindo de volta. "Você é linda"
Vejo Lipe cutucar com força sua cintura, com uma cara feia. Noah resmunga alto, e eu estou vermelha feito uma pimenta.

"A deixou constrangida, seu animal. Vamos, baixinha, deixa esse besta pra lá."
Aceno, ainda com as bochechas coradas e um sorriso pequeno nos lábios. Noah, ao contrário de mim, abre um sorriso largo e seus olhos mostram a verdade de seus lábios. Sigo para o carro com Lipe, olhando para trás algumas vezes. Noah continua lá, ainda sorrindo.
"Eu vi, hein?" Lipe diz, colocando suas coisas n o banco de trás. O vermelho ainda não abandonou minhas bochechas.
"Hm, isso o que?"
"Não se faça de desentendida. Noah claramente ficou interessado e a mocinha não ficou pra trás." O tom de ciúme era claro em sua voz, mas ele não parecia bravo.

"Ele é bonito, Lipe. Só isso." Eu tinha sérios problemas em esconder o que pensava ou sentia, então eu só falava sem enrolar.
"Bom, só não fico bravo com vocês dois porque sei que ele não é um babaca." Minha cabeça sonhadora começa a pensar em Noah e eu, juntos. Decido encerrar o assunto antes imaginar ainda mais o que nunca irá acontecer.
"Só o achei bonito, Lipe. Não se preocupa porque não tem nenhuma possibilidade de acontecer." Olho pela janela, a mágoa transparecendo na minha voz. Lipe percebe e tensiona o corpo.
"Any, você é linda, inteligente, legal. Eu não quero que pense em qualquer momento que você não é o suficiente para alguém."

Apenas afirmo com a cabeça, não querendo prolongar o assunto. Afasto os pensamentos tristes, começando a contar para meu irmão sobre o primeiro dia de aula. A animação cada vez mais presente na conversa.