Noah volta com uma vassoura em mãos. Percebo a agilidade em seus movimentos e o maxilar apertado em concentração no que fazia. Eu ainda o encarava estática, minhas pernas pareciam presas no lugar e eu tinha quase certeza que não sabia como respirar mais. Pelo menos, era o que a dor em meu peito indicava.
Aproveito o momento em que ele sai para fora de novo, e subo rapidamente as escadas. Tento vasculhar em minha mente algo que me indicasse o porque de Noah estar em minha casa, mas não encontro nada.
Ouço passos no corredor, prendendo a respiração pateticamente, com medo de que a mesma chamasse sua atenção. Mas como o esperado, ele simplesmente passou reto, indo em direção ao fim do corredor, onde se encontrava o quarto de meu irmão.
Respiro profundamente, recuperando o fôlego e sentindo peito arder pedindo desesperadamente por ar.
Sinto grossas e indesejadas lágrimas se formarem nos cantos de meus olhos, tomando outro fôlego para evitá - las. Eu era absurdamente patética e isso me irritava profundamente.
Levanto, decidida a não chorar novamente. Vou até a caixinha eletrônica, colocando uma música que nada a ver tinha com o meu estado de espírito naquele momento, e dançando em seu ritmo.
Precisava extravasar. Eram grandes as chances de eu entrar em um colapso nervoso agora. Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e eu estava apavorada.
Primeiro, todas as sensações absurdas que meu corpo sentia ao estar perto dele. Depois, o jeito patético que eu reagia a essas sensações. E ainda tinha acontecido o episódio do homem nojento. Eram emoções demais em único dia, muito mais do que eu poderia aguentar.
Sei que parecia uma louca, pulando pelo quarto, enquanto o som alto me fazia submergir em um lugar onde apenas eu e todas as minhas emoções estavam, mas eu me sentia bem.
Ouço alguém gritar meu nome, muito alto. Reconheço a voz de Filipe, e um leve tom de desespero contido nele. Abaixo o som, parando de pular, só então percebendo que eu estava absurdamente suada.
Abro a porta, deparando - me com os olhos profundos de meu irmão cheios de medo, de angústia. Odiava causar tantos sentimentos ruins à ele. Abaixo a cabeça, triste novamente por me sentir um peso para ele e minha mãe. Ouço seu peito rugir, erguendo a cabeça novamente, apenas para ser engolida em seu abraço forte.
- O que aconteceu, Any? - Sinto o desespero em sua voz e me sinto ainda pior. Começo a soluçar, fazendo - o me apertar ainda mais forte.
- Nada, não se preocupe. - Falo, tentando tirar a dor de seu tom de voz. - Sei que não está, Any, me conta o que aconteceu, você só escuta música nessa altura quando está machucada. O que fizeram com você? - Sua frase é tão longa e pesada que me falta o ar por alguns segundos.
Não queria contar. Não queria ver ainda mais dor em seus olhos e sentir ainda mais pesar em sua voz. Penso em alguma válvula de escape, encontrando os olhos verdes de Noah me olhando. preocupados. Sorrio, tentando tranquiliza - lo e posso sentir sua surpresa. Eu não era muito de sorrir, ainda mais pra quem eu não conhecia.
Chego perto do ouvido de Lipe, torcendo para que ele se contentasse com a minha desculpa esfarrapada.
- Me assustei com o Noah na cozinha, Lipe. Derrubei o copo e fiquei com vergonha.
Fecho os olhos, triste por mentir para ele mas feliz ao sentir a respiração do mesmo ficar mais tranquila.
- Ah lindinha, não precisa ficar assim por causa disso, tenho certeza que ele não se importou. - Ele sussurra de volta, e me sinto grata por ele ter mantido nosso assunto em segredo do nosso observador curioso.
Assinto, me soltando de Lipe e tendo uma visão mais completa do garoto. Ele era absurdamente lindo e a confiança que exalava dele me indicava que isso não lhe era um segredo. Sua presença me deixava zonza e desconfortável, me fazendo rapidamente abaixar os olhos.
- Está tudo bem, Any? - Sua voz me indaga de forma doce e bonita, que faz - me arrepiar dos pés a cabeça. Era assustador o que ele poderia fazer comigo.
Apenas assinto, deixando escapar um leve sorriso que não passa despercebido nem por ele, nem por Lipe, que me olha desconfiado. Sinto a bochecha corar e torço para Lipe sair logo do meu quarto.
- Já que está tudo esclarecido, vou para o meu quarto, tudo bem? Qualquer coisa me dá um grito, pequena. - Sorrio para ele, assentindo. Recebo um beijo na testa e um aceno discreto de Noah.
Deito na minha cama assim que eles saem. Deus, eu estava completamente perdida naqueles olhos verdes e o que eles causavam em mim.
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ANY
Teen Fiction"Any sempre fora acostumada com o silêncio e não contava com o barulho que sua vida se tornaria com a chegada dele." Any sofria de mutismo seletivo. fora diagnosticada desde nova mas a doença se agravou quando seu pai decidiu que era bom demais pra...