Violência Doméstica

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Esta madrugada eu tive mais um sonho daqueles, daqueles nítidos e eu sabia que era preciso registrar para que ele não se perdesse nos porões da memória. No meu sonho eu descia por uma rua já conhecida por mim com alguém que não me lembro quem era – afinal não importava – e parei em frente a um portão de grades de ferro com cores de zarcão e por lá se encontravam dois garotos com mais ou menos uns quatorze anos cada um. O rosto do garoto que estava atrás eu não me lembro, é que no caso dos sonhos nós não lembramos bem dos detalhes e só das coisas principais. O rosto do menino que eu conversava este  sim eu pude ver bem! Percebi que ele tinha o cabelo carapinho e era sarará, digo, num tom arruivado e pelas suas roupas percebi que era pobre. Deste momento em diante era só nós dois que conversávamos. Ele me dizia que seu pai dava presentes a ele toda vez que ele tirava notas boas na escola, principalmente quando era nas provas de matemática, me pareceu que seu pai queria que ele fosse matemático quando crescesse. Foi o que seu pai se tornou, quando eu perguntei se era disto que ele gostava, ele balançou a cabeça e olhou para o chão e disse: Que não sabia do que gostava. Quando eu comecei a falar algo esquisito aconteceu, dos meus olhos corriam um turbilhão de lágrimas que eu não pude conter e que só parou quando eu acordei esta manhã. Porém me lembro muito bem do que eu falava, disse a ele: Pode ser que seu pai esteja cobrando de você às frustrações que ele teve. Seus sonhos, seus projetos não realizados. Assim acaba despejando em você um peso que hoje não pode suportar. Afinal, quem disse que você tem que ser alguma coisa no sentido que o mundo apresentar, o Universo não lhe impôs nada! Ele nada te pediu! Você não é obrigado a casar, namorar, ter filhos, ter alguma profissão! O sol não te cobrou nada para lhe esquentar, o vento não te pediu um centavo dar-lhe uma brisa suave e nem a água fresca dos riachos mandou você embora quando foi tomá-la! A sociedade sim! Que é formada de homens e que muitas vezes são frustrados e acaba cobrando tudo isto de você. Aí você não suporta seu peso e quer fugir, mas como precisa viver em sociedade sua fuga acabam sendo o álcool as drogas os remédios em geral, as psicoses, as paixões desenfreadas os vícios de todas as espécies e por último a loucura que te isola socialmente dentro da sociedade em que você vive. É... Amigo! Não siga este caminho porque é de mão única, olhe para dentro do seu coração, este sim lhe diz o que você precisa saber e que caminho precisa tomar. Cobre de seus pais a sua felicidade, peça a eles que ajude nos seus conflitos íntimos e nunca os deixe violentarem suas inspirações, seus sonhos. Lembre-se: O mundo te cobra o seu sustento e o respeito aos seus semelhantes, o resto tudo é lixo! Seja feliz. Só então acordei e vi que não estava chorando e pensei comigo: Isto é digno de nota.

A Saliva do DragãoWhere stories live. Discover now